segunda-feira, maio 30

Allegro Ma Non Troppo

Eu sempre achei, e devo já ter dito numa das minhas e-pístolas a algumas das donzelas que frequentam esse meu humilde porém sincero lago de narciso, que pelo menos na esfera dos concertos de piano, Rachmaninov é um Mozart que enlouqueceu. Pois não é que fizeram um filme sugerindo exatamente (sugerir exato é dose) isso? Pelo menos para mim, que já tinha essa idéia fixa pendurada no trapézio do meu juízo. O filme é aquele "Shine", que eu nunca tinha assistido porque achei o tal pianista, o de verdade, muito do chatinho, indo tocar na festa do Oscar com a maior cara de pau, todo metido a bobo alegre, americanalhice pura. O ator que fez o papel dele até que é bom, um tal de Geoffrey Rush, mereceu ganhar o Oscar de 1996, apesar dos gringos se sentirem na estranha obrigação de dar Oscar a todo ator que interpreta doido ou aleijado. Porisso mesmo, como todo mundo já sabia que Rush ia ganhar, convidaram o tal debilóide virtuoso pra dar uma canja. A crítica especializada caiu de pau em cima dizendo que o pianista nem era essas pregas de Odete todas, e nesse puxa-encolhe eu terminei desprezando olimpicamente o filme. Minha santa mãe me compra o dvd no sábado passado e insiste que eu tenho que assistir porque o filme é a minha cara e se eu não gostar é porque ela não me conhece. Com uma premissa dessas, não tinha jeito. De fato melecaram de xarope um pouco menos do que eu pensava que iam melecar, dá pra assistir. O pai do tal menino-prodígio pianista era um neurótico de guerra e fissurado em Rach, e queria que o filho tocasse o Concerto para piano n0 3, o preferido dele. O professor do pirralho disse pra ele não ousar fazer isso, que ele não estava pronto pra tocar Rach, vamos começar com um Mozartzinho de leve. Foi o que fizeram, mas o pai do guri passava o dia todo ouvindo Rach na vitrola, e quando ele cresceu e teve que escolher um concerto pra um recital, escolheu justamente o terceirão de Rach, uma pedreira, pra agradar ao pai, com quem tinha rompido. Não deu outra: quando acabou a última nota, caiu durinho pra trás e já saiu direto pro eletrochoque no Tamarineira Palace Hotel. Despirocou a rebimboca da parafuseta e nunca mais se aprumou. Se fosse ficção já seria de arrepiar, mas foi verdade verdadeira, a família do cara tá lá nos créditos como colaboradora. É, minha fia, num tou dizendo, Rach só bota pra arrombar. Falar nisso, recebi de um dos membros da comunidade orkutiana "Rachmaninov" uma manada de concertos em MP3 tocados e regidos pelo próprio Rach em carne e osso. Se alguém quiser, é só pedir, mas tem que abrir um G-Mail, porque é mega que não acaba mais.

Outro filme do fim-de-semana foi o "Melinda e Melinda", onde me desencontrei com Rainman Raymond. É Woody Allen contradizendo o velho ditado "se você gosta de salsichas, não deve ver como elas são feitas". Ele deve ter muita fé no próprio taco, porque mata a cobra do drama e mostra o pau da comédia, se expondo como o mágico que revela como faz o truque, mas pisca um olho pro espectador e diz: fica sentadinho aí que ainda tenho alguns coelhos na cartola. Quem pode, pode.

sexta-feira, maio 27

ESTÁ UÓ

Definitivamente a nova trilogia "Star Wars" não consegue alcançar o charme da primeira. Pra completar, dessa vez resolveram deixar o título original em inglês (cuja tradução literal seria um reles e burocrático "Guerras Estelares") em vez do poético e tradicional "Guerra nas Estrelas". No shopping vá lá, mas no São Luiz, às margens do Capibaribe, causou espécie.

AS 4 OPERAÇÕES

E bom senso, eis, segundo dizem, tudo o que se precisa pra se ficar rico. É por isso que sou pobre: só sei fazer três. Bom senso até que consigo ter de vez em quando, mas a conta de dividir me escapa à compreensão. Fui comprar uma vez nas Lojas Americanas uma baixela, coleção de talheres, faqueiro ou seja lá como se chama isso, e quis só de curiosidade saber quanto estava pagando por cada talher. Quem disse? Na munheca não saiu. Tive que pedir socorro a um negão que estava arrumando umas prateleiras, e ele fez rapidinho. Lembrei-me que a conta de dividir foi a última que me entrou no cérebro, e foi a primeira a me abandonar. Acho que é porque matemática pra mim é uma coisa monolítica, absoluta e exata, e a conta de dividir tem um certo quê de malandragem, de aconchambramento, de jeitinho brasileiro. É um tal de vai botando uns numerozinhos lá embaixo, e se não der certo vai aumentando ou diminuindo até encaixar, na base do se colar, colou. Como assim?!? Como foi que o cara que inventou isso chegou a essa conclusão? Me causa uma angústia dos infernos, sempre acho que estou sendo enganado. Estou até hoje esperando que inventem uma fórmula definitiva e oficial pra se fazer essa operação, mas pelo jeito a "versão beta" veio pra ficar.

quinta-feira, maio 26

Mafalda tinha razão...

...em relação aos chineses: enquanto vamos dormir, um bilhão e meio deles está a acordar. Acho que agora a única coisa a fazer é cantar um tango argenquino.

sábado, maio 21

Expedições e descobertas ao sul do Equador

Deu no "New York Times On The Web" do dia 17 último: “Orgasmo das mulheres não ajuda a evolução da espécie, afirma pesquisadora. Para ela, o ápice do prazer feminino só tem um objetivo: diversão. Os cientistas nunca tiveram dificuldades em explicar o orgasmo masculino, já que é associado à reprodução. No entanto, a lógica darwiniana por trás do orgasmo feminino nunca foi elucidada. As mulheres podem ter relações sexuais e ficarem grávidas – fazendo sua parte na perpetuação da espécie – sem terem orgasmos.”

Really? No shit, Sherlock! Como se vê, o NY Times, além de ter levado o maior furo de reportagem de todos os tempos do Washington Post com o Watergate, ainda publica bobagens desse tipo de vez em quando. A Dra. Elisabeth Lloyd, filósofa da ciência e professora de biologia do Instituto Kinsey da Universidade de Indiana, poderia ter se poupado o trabalho de afirmar uma coisa que todo mundo já está careca de saber. Querer achar uma função evolutiva ou uma lógica darwiniana no orgasmo feminino é danado; nem Darwin, a bordo do Beagle a caminho de Galápagos, seria tão darwinista. Deixa as meninas gozarem em paz, doutora, elas que já são tão cheias de responsabilidades e duplas jornadas de trabalho. Se há mulheres que atingem a maturidade sem nunca alcançar um orgasminho de nada, imagine se começarem a acrescentar essas neuras na cabeça delas. Nem tudo na vida tem necessariamente que ter uma função utilitarista e pragmática. Afinal, a natureza inventou a fome, nós inventamos a culinária; a natureza inventou o sexo, nós inventamos o amor, a natureza faz barulho, nós criamos música. Portanto, fica-se estabelecido de uma vez por todas que o orgasmo masculino é engajado, assim como um mural de Siqueiros ou um poster de Che Guevara; e a gozada feminina é arte pela arte, gratuita e irresponsável, assim como as maçãs de Cezanne e as Marilyns coloridas de Andy Warhol. Ars Gratia Artis, ruge eternamente o leão da MGM!
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Muito mais interessante e instrutiva foi a minha pesquisa, que conduzi em plena redação do Jornal do Commercio, esse sim, um jornal que não publica bobagem, exceto eventualmente no espaço reservado às charges. Como se sabe, redação de jornal é um local infestado de jornalistas, e como também se sabe, jornalista é um bicho metido a sabedor das coisas, portanto um laboratório perfeito para a minha pesquisa de campo. Pois bem, minha culta e elegante leitora: você sabia que o seu marido pensa que você mija pela xoxota? É exatamente isso: segundo a minha pesquisa, 99% dos homens ignoram a existência da uretra feminina como um orifício independente do canal vaginal. A não ser que o seu amigo, namorado, marido, irmão, pai ou avô seja um ginecologista, ele nem desconfia disso. Já tive algumas namoradas e fui casado, mas confesso humildemente que só vim ter ciência desse fato em meados do ano passado, através de uma namorada mais desinibida que me informou, às gargalhadas, sobre essa terceira via. Não acreditei. Ela mostrou. Caramba, é verdade! Agora eu sei: fica exatamente acima da vagina propriamente dita, e imediatamente abaixo do clitóris. Convenhamos, situado assim bem no meio de celebridades de tal calibre, o destino desse buraquinho era mesmo ser papagaio de pirata, ilustre desconhecido que desponta para o anonimato. Por isso a princípio cheguei a desconfiar que estava diante de uma X-Woman, mas com o tempo me convenci que essas mutantes deveriam existir em bem maior número do que eu imaginava. E eu que me gabava pros meus amigos de saber a localização exata do ponto G.

É, minha gentil leitora, em vez de ficar bestificada e boquiaberta com a minha estupidez, saia por aí fazendo a sutil pergunta que eu fazia à queima-roupa a todo homem que entrava na nossa editoria de artes, para o rubor e desespero das mulheres mais tímidas: “Quantos buracos a mulher tem abaixo do umbigo?” O sujeito pensava um pouco, dava um risinho amarelo, olhava bem pra minha cara pra saber se eu estava de sacanagem, aí dizia candidamente: -Dois. E eu, triunfalmente: -Não: três. E mostrava a ele a ilustração esquemática no Google Imagem, estrategicamente escancarada num micro atrás de mim. A coisa se espalhou pela redação como um rastilho de pólvora, todas as editorias se postaram em pé de guerra. As mulheres acusavam os homens de desnaturados e insensíveis por não se importarem com os detalhes mais íntimos da anatomia feminina; os homens se defendiam dizendo que sempre que eles chegam perto demais elas apagam a luz com vergonha de não terem depilado os cantinhos. Por pouco o assunto não vira a manchete do dia seguinte, como se houvessem descoberto um novo planeta no Sistema Solar.
De nada adiantam todos os livros de biologia do colégio com ilustrações e setinhas indicativas, quase todo homem pensa que, assim como ele, a mulher faz xixi por onde faz sexo. E se ninguém tocar no assunto, ele vai continuar pensando assim pela vida afora. Muitos dos meus entrevistados, alguns casados e com filhas já crescidas, ficaram perplexos com a revelação e indignados com a própria ignorância; outros ficaram ressentidos com as mulheres por terem sonegado tão importante e vital informação durante tanto tempo. Teve um ou outro, porém, que recebeu a novidade com um estranho brilho no olhar e um sorriso beatífico nos lábios, como se estivesse a se descortinar diante dele um admirável mundo novo de possibilidades e fantasias.

sexta-feira, maio 20

LE NAUSEE

Em 2001, juntamente com as Torres Gêmeas, desmoronaram também o meu casamento e o de um velho amigo, eu com 11 anos de casado e ele com uns treze. Dois anos depois ele serviu de testemunha no meu divórcio, e ontem, quatro anos depois, retribuí a gentileza servindo de testemunha no dele. O meu foi amigável e o dele também. As semelhanças param por aí: ele casou de novo, eu não; ele tem três filhos do primeiro casamento; eu não.

Tenho cá comigo que não existe nenhuma razão específica pra um casamento acabar. Eles acabam e pronto, acabou-se. Parece que eles acabam primeiro, e depois é só encaixar qualquer teoria ou motivo, qualquer desculpa serve, como já dizia o ceguinho da Casa Lux Ótica. Senão vejamos: uma bela noite de verão está lá Tom Cruise no sofá com os filhos assistindo uma reprise de Missão Impossível 2 e contando mentalmente os seus milhões. Na cesta de revistas da sala tem uma People com ele na capa, onde está escrito que ele é the sexiest man alive. Chega Nicole Kidman , the sexiest woman alive, olha pra ele e diz: -sabe de uma coisa? vá pra merda.

quinta-feira, maio 19

Johnny vai à Guerra

Não podemos subestimar o lado negro da Força, também conhecida como Fabiana Calábria: fui seduzido por ela e fui ver Guerra nas Estrelas 3 na pré-estréia, antes dos Jedis comuns. Como André Pinto nunca vem nesse blog, ele só saberá que foi traído por nós amanhã quando religar o celular e ver as mensagens que deixamos, que ele deve ter desligado pra ninguém encher o saco dele contando o filme. Sorry, Andrew, my friendah, John Willians não empolga dessa vez, ele se limitou a trabalhar em cima dos leit-motifs dos cinco filmes anteriores, nada memorável foi criado neste "último" capítulo do meio. Bem que ele tentou novamente inserir um tema com massa coral nos créditos finais, mas não dá pra sair do cinema assobiando como no do Phantom Menace. Se serve de consolo, a equação da segunda trilogia desta vez foi invertida: o filme é melhor que a trilha. E mais nada falarei até depois de assistirmos amanhã, que já é hoje. Claro que eu vou comprar o cd de qualquer forma e completar a coleção. Sony Classical, nada mau.

terça-feira, maio 17

GATO POR LEBRE

Ontem, segunda sem lei, fui buscar o gigantesco cachê das bandas no Burburinho, que por misterioso capricho do destino sempre fica ao meu encargo. Fernando não compareceu nem atendeu o celular, encontrei com Iara, comemos sanduíches com nomes patrióticos pernambucanos e fomos ficando e botando as fofocas em dia. Às cervejas tantas Morcego me chama pra dar canja, faço charminho dizendo que estou rouco desde sábado, mas é tarde, Iara e Glaubinho já me empurram palco acima, e pela primeira vez na história da humanidade ouviu-se "Whole Lotta Love" unplugged. Terminamos tomando cachaça com limão enquanto os garçons jogavam sabão no chão e nos nossos pés, e checando nosso horóscopo chinês com a Madame Iara. Xandinho é tigre, Morcego é serpente (embora Xandinho ache que ele tá mais pra macaco), e eu sou coelho, lebre ou gato, fica a meu critério. Madame Iara confessou ser um cavalo. Eu preferi ser gato. Encerramos a inesperada noitada (sem Xandinho) na Select da Conde da Boa Vista (o melhor hot-dog da cidade) ouvindo músicas hassídicas dentro do carro de Iara, sob um dilúvio de proporções bíblicas.

domingo, maio 15

DAZED AND CONFUSED

Karakas, tenho que arrumar essa zona, o que é isso, agenda antiga, dios mio, cartinhas de Tereza, é, séculos que não vejo, talvez ela me amasse mesmo, quem sabe não devesse ter acabado, precipitação de recém-separado ainda morando com a EX, ela é a única EX que me odeia agora, no orkut não tem nada de novo, cadê Débora, ela insiste em responder no próprio scrap, também nada, vixe, tá na hora do Traditional Jazz Band na Livraria Cultura, Fabiana já deve estar lá com o amiguinho, tenho que correr pra comprar minha camisa da caveira, na sete de setembro tem uma loja de skatista que vende, Débora! como assim? oi, menina, tudo bom, se tivesse marcado num se encontrava, essa é Natália, oi Natasha, foi o melhor que consegui, devo ter sido rude, claro, mas também quem manda ela surgir na minha frente desse jeito, a loja deve estar fechando, tem camisa de caveira, tem essa aqui, tem que ser gg, mas essa g serve, você tem banda, tenho, traz um cd, talvez eu arranje show, vou trazer, essas horas o cd de Mardoux tá voando, tenho que correr senão não pego lugar, oxe, tem lugar pra kct, cadê Bia, ei, oi, esse é Rodrigo, hum, é, é amiguinho mesmo, Fabiana bonita e cheirosa a perfume francês como sempre, c'est la vie, Stairway to Heaven nas costas do cara da cadeira da frente, você não me conhece mas eu te conheço, gente famosa é assim mesmo, sabia que Walter Carlos virou Wendy Carlos, cadê Mário, sei lá de Mário, Mário, essa é Bia, vocês já se conhecem pelo orkut, já tá lotado, vai começar, começou, isso sim é momento mágico, show de bola, maravilha, todos os meus cds tocados pra mim ao vivo, aplauso, bis, acabou, café expresso, mais um pro santo, Fabiana! como assim? Fabiana, essa é fabiana, Fabiana, essa é fabiana, nós vamos nos casar no cinema dia 19 assistindo Star Wars III, olha aqui o meu ingresso, menina guarda isso em lugar seguro, a gente vai junto, tchau, Woody Allen toca trompete, de jeito nenhum, toca clarinete, trompete, clarinete, vamos apostar, vamos, clarinete, ganhei, livro de trinta reais cada um, pode pagar agorinha, dia de são nunca recebo, inté mais tarde Mário, dez horas no Burburinho, chego onze, camisa preta da caveira emagrece, vou pegar minha cota de senha de cerveja no caixa, Tereza! como assim? oi, há quanto tempo, pois é, bota tempo nisso, séculos, será que ela sabe que eu canto na banda, breve saberá, Proud Mary, mas olha só pra isso, dançando na fila do gargarejo, talvez não me odeie mais, devia ter convidado Débora pra dar uma canja na bateria, qual seria o título de uma música do Led Zeppelin que resumiria isso tudo numa só frase?

sábado, maio 14

HELLO!!!

Alguém, alguma alma caridosa poderia exercer um ato de fé e caridade cristã e me dar uma dica de como postar fotos nessa kcta desse blog? A única que eu consegui botar, aquela de Bogart há long time ago in a very far galaxy foi com um tal de Hello, aí mudei de hd e fudeu, o Hello não hella mais. Eu vi as baronesas no rio Capibaribe no blog de Rain Man Raymond e surtei. Vou ter que botar aquilo aqui também. Ah, vou!

sexta-feira, maio 13

The Emperor is not as forgiving as I am.

Desde a semana passada que eu já estou com meu ingresso compradinho da silva pra ver a estréia do Episódio 3 de Guerra nas Estrelas no dia 19. André Pinto nunca deixa por menos, já foi lá e comprou o meu e o dele. Toda vez que George Lucas desova um episódio, somos sempre os primeiros da fila, eu, ele e Calabresa. Nós somos capazes de manter um diálogo de uns quinze minutos só citando falas da primeira trilogia, aplicados à uma situação qualquer, para desespero de quem está por perto. A chatíssima segunda trilogia, pelo menos os dois primeiros, é salva em parte pela deslumbrante trilha wagneriana cheia de leit-motifs de John Willians. I have a good feeling about this.

quinta-feira, maio 12

O SEXO DOS ANJOS

Atendendo a milhares de pedidos das fãs, viemos através desta explicar o inexplicado do post “lolitas”. Negossiguinte: esqueçamos por enquanto a idade cronológica das senhoritas em questão, aspecto jurídico irrelevante à nossa comparação dos dois filmes em si, cujo tema em comum é o arquétipo platônico de pureza e ingenuidade das supracitadas senhoritas, provocando fascínio e ardente atração sexual em homens mais velhos.
Isto posto, quando eu disse que “Lolita” é o filme menos pedófilo que existe, usei o mesmo raciocínio que usaria pra dizer que “Atração Fatal” é o filme mais “adulterófobo” que existe. Stanley Kubrick, e depois Adrian Lyne, optaram, aparentemente, por usar a linha narrativa do romance original, suponho, nunca li Nabokov. O mundo nos chega através dos olhos do protagonista, nós vemos só o que ele vê, e as tramas paralelas são desvendadas para nós ao mesmo tempo em que é para ele, o mesmo recurso que Roman Polansky usou para nos aterrorizar com o seu kafkiano “O Bebê de Rosemary”.
“Lolita” nos traz más notícias do front da pedofilia. A ninfa pura e ingênua é na verdade uma megera maquiavélica que não liga a mínima para ninguém, uma escrota que participa de orgias com pervertidos, usa a sua aura de inocência para manipular os amantes em prol dos seus pequenos e mesquinhos interesses e termina destruindo a ambos. O cara sai do cinema com vontade de transar com a própria avó.

Já Billy Wilder faz o trajeto oposto com Marylin em “O Pecado Mora Ao Lado”. O mulherão fatal de curvas estonteantes exalando sensualidade por todos os poros é na verdade uma criança pura e ingênua, que não consegue entender porque os homens não param de pular em cima dela, molha a batata frita na champanhe, realmente acha que Tom Ewe está interessado nas “texturas” da foto dela de bikini e se vemos as pernas dela acima do joelho (uau!) no meio da rua é porque ela quer se refrescar com o ventinho do subway. Em nenhum momento do filme Marylin demonstra estar a par da existência de uma coisa chamada Sexo, enquanto Tom não pensa noutra coisa, sendo impedido de ir às vias de fato só pela própria fidelidade, que Marylin acha “ellegant”, mas que o filme torna ridícula e caricatural. O filme de Wilder nos diz que é bom e excitante fazer sexo com um ser angelical que não se importa muito com sexo. Marylin, cuja personagem nem precisou de um nome, é a lolita que Hubert procurava, só que errou de filme. Se eu fosse fundar uma seita de pedófilos, eu faria proselitismo com “O Pecado Mora Ao Lado” e baniria “Lolita”.

quarta-feira, maio 11

VADE RETRO

O que realmente assusta no filme "O Exorcista" não é a presença do Diabo, mas a indiferença de Deus.

lolitas

O filme menos pedófilo que existe é "Lolita". O filme mais pedófilo que existe é "O Pecado Mora Ao Lado".

MOMENTO DISCOVERY

“Era um simples gracejo; disse-o, todavia, ao Quincas Borba, que olhou para mim com uma certa cautela e pena, levando a sua bondade a comunicar-me que eu estava doido. Ri-me a princípio; mas a nobre convicção do filósofo incutiu-me certo medo. A única objeção contra a palavra do Quincas Borba é que não me sentia doido, mas não tendo geralmente os doidos outro conceito de si mesmos, tal objeção ficava sem valor”. Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, cap. CLIII.


Ainda outro dia li no disputadíssimo blog de Bia a sigla PIMBA, pra denominar os “Pseudo Intelectuais Metidos a Besta”. Ponderei no meu comentário que a rigor a sigla seria PIMAB, ou PIMB, se eliminarmos a preposição, embora PIMBA seja mais escrachado. Deixemos de preciosismos inúteis, de uma forma ou de outra o tema me remeteu imediatamente a um episódio das Memórias Póstumas, esse transcrito acima. Pois bem, calculei que não existe nenhum pseudo-intelectual metido a besta que se ache um PIMB, ou que se sinta um PIMB, os PIMBs são sempre os outros. Portanto, Bia, também tu podes ser uma PIMB, e que as pessoas sentadas pelo chão do Festival de Cinema também mentalmente caçoavam de ti, dizendo: “ali está uma PIMB, com aqueles óculos retangulares de aros pretos e aqueles cabelos na cintura repartidos ao meio a la anos 70. Quem ela pensa que é, Annie Hall?”

Quanto a mim, já eliminei esse dilema: tenho certeza absoluta que sou um PIMB, de carteirinha e crachá. Metido a besta eu sempre fui, e não é depois de velho que eu vou deixar de ser. Agora pseudo-intelectual é mais difícil de engolir e digerir. Fiquei definitivamente convicto que posso ser classificado também com essa primeira metade da sigla quando, numa mesa de bar, a filha de uma amigo meu, que eu vi criança e que tinha ido buscar o pai, me informou que a hiena não pertence à família dos canídeos. Como assim, eu sei tudo sobre hienas, tá maluca? Pois ela continuou implacável: não só não pertencem à família dos cães, como, na escala evolutiva, estão mais próximas dos felinos. Pronto, agora lascou de vez. Uma típica conversa sem pé nem cabeça de mesa de bar, mas que feriu profundamente meu orgulho de neo-darwinista-agnóstico-metafísico. Quando cheguei em casa fui direto checar na Internet (que humilhação!) e vi que era tudo verdade, e que as desgraçadas têm uma família só delas: hienídeos. Como pude ignorar uma coisa tão bombástica durante toda a minha vida? Concluí aterrorizado que eu não sei de tudo, e que mais coisas podem estar escondidas por aí, tão bombásticas quanto, e a respeito das quais ainda não faço a menor idéia. Eu até podia ouvir, na imensidão das savanas africanas, as gargalhadas das hienas, obviamente ululando umas para as outras que, na escala evolutiva, eu estava mais próximo da família das antas.

domingo, maio 8

BOHEMIAN RHAPSODY

Easy comes, easy goes; little high, little low.

sábado, maio 7

She came in through the bathroom window

Hoje, sábado, fui acordado às oito e meia da manhã por um pombo esvoaçando dentro do meu quarto. Logo eu que nem numa segunda-feira acordo a essas horas da madrugada. Um escandaloso farfalhar de asas, e quando levantei a minha máscara do zorro sem buracos (que a minha última namorada achava meio gay mas depois aderiu) estava lá ele pousado em cima da minha prancheta, em meio a uma barafunda de papéis e pincéis, a me olhar com aquela eterna cara ingênua de perplexidade diante da vida que só os pombos sabem fazer. "-Ah, não, não me vá cagar aí!" Me levantei como um raio e saí a persegui-lo pelo apartamento. Quando me viu levantar com ares de poucos amigos saiu voando pela sala, passou raspando pela estante do som e numa manobra radical emburacou pela cozinha. Quase me derruba o raríssimo pinguim de cartola e bengala em cima do freezer, obra-prima do kitsch universal. Ficou claro durante a perseguição que era mais um ex-filhote fazendo o test-drive do seu primeiro vôo, daí a cara duplamente ingênua e perplexa e as trombadas no vidro da varanda. Agarrei o bicho por uma asa, segurei firme com as duas mãos como quem vai fazer um manifesto para a paz nas Olimpíadas (tirante que a minha pomba da paz era cinza) e lancei-o, ou lancei-a, por cima das pimenteiras para o infinito e o além. Agora ou vai ou racha, literalmente. Foi. Mas sempre vai, não me julguem um columbicida. De test-drive de pombo eu entendo. Gerações já nasceram e se sucederam diante dos meus olhos à sombra das minhas pimenteiras em flor. Eles simplesmente fazem ninho após ninho no pequeno retângulo de terra que me cabe nesse latifúndio, e ali botam seus indefectíveis dois ovinhos brancos de codorna e ficam chocando com um ar compenetradíssimo ( pai e mãe se revezam, um exemplo para os maridos) e se eriçando ameaçadoramente, como um galo de briga, quando vou regar o canteiro. Só uma vez apareceu um único ovo, e ainda assim gorou. Quando vi que estava demorando muito pra nascer, fui lá ver e o ovo já estava quebrado na ponta, mas o filhote dentro tinha virado um fóssil jurássico. Enterrei o ovo no próprio canteiro, mas a mãe se recusava a deixar a maternidade. Pronto, agora deu. Ah, é assim? Peguei um ovo de galinha na geladeira e botei pra ela chocar. E ela chocou. Ela e o marido. Ela, menorzinha, ficava assim meio de lado, como se estivesse sentada disfarçando hemorróidas. Já o marido, maior e de plumagem exuberante, cobria tudo orgulhosamente. Minha faxineira quase morre de rir.
Mas, apesar de tudo, aparentemente sou um bom locatário, porque nunca é o mesmo casal que vem se aninhar, donde se conclui que eles devem se comunicar entre si e dizer que naquele apê é a maior limpeza, não tem stress. Quem não acha a maior limpeza é a minha faxineira, mas o instinto maternal dela perdoa o esterco extra que sobra pelo chão. Que, aliás, sobrava, porque o último casal foi de uma higiene impecável, limitavam-se a adubar discretamente os pés de pimenta, que é como eles pagam o aluguel do espaço. Deviam ser pombos de classe-média alta. Quando finalmente os filhotes saem do ovo, viram adolescentes e começam a querer voar com as próprias asas, ficam a andar de um lado para o outro batendo as asas e piando alucinadamente. Os pais ainda ficam por ali, alimentando ocasionalmente e supervisionando os exercícios, até que o pimpolho deslanche. O processo todo, desde a postura dos ovos até o desmame, é coisa de quarenta dias. Teve um que demorou pra aprender a voar (como sempre tem que ter um) e os pais não tiveram dúvida: prescreveu o prazo de validade, deram por encerrada a obrigação, xau e bença. O outro irmão já tinha ido batalhar o milho dele de cada dia. E o coitado do jovem adulto ficou lá andando de um lado pro outro, sem lenço e sem documento, a se lamentar num misto de pio e arrulho, porque a voz dele já estava até mudando. É, meu velho, tu tá lascado, eu é que não vou ficar te sustentando a pão-de-ló, quem tem filho barbado é gato, o qual aliás eu gostaria de voltar a criar, mas para tua grande sorte não ouso confinar um animal das savanas num cubículo. Quando passou quase uma semana e eu vi que a coisa tava ficando preta, porque ele já estava considerando a hipótese de bicar as pimentas mais vermelhas, resolvi dar um empurrãozinho. Dei um bote, peguei o bicho e joguei pela sala. Numa ação reflexa, ele bateu as asas e aterrisou desastradamente em cima do teclado do micro. Só faltava o computador estar ligado e ele digitar: -Socorro! Quando fui pegar de novo, ele tomou gosto pela coisa e saiu espanando as asas e trombando com tudo que tinha direito e com o que não tinha. Depois de uma sequência de decolagens e aterrisagens mal sucedidas, terminou voltando pra varanda de novo. Resolvi deixar ele se refazer da maratona, esqueci e fui cuidar da vida. No outro dia tinha sumido.
Mas eles só entram no apartamento dessa forma, forçados ou por engano. No contrato de locação que eles assinam tem meticulosa cláusula delimitando espaços, e que são rigorosamente respeitados, sob pena de virarem tira-gosto pra cerveja, ovos inclusos. É da varanda pra fora, nada de excesso de intimidades. Quero crer que a minha aventureira matinal seja da turma dos ninhos do poço de ventilação, cujos piados e arrulhos ouço ecoando de madrugada, e tenha entrado através da janela do banheiro, como a misteriosa garota do disco Abbey Road dos Beatles. Agora, como e onde eles fazem esses ninhos no poço de ventilação é igualmente misterioso para mim.

TEM.

Nada como uma boa postagem no blog para sanear as canaletas do juízo. Depois que desabafei a minha oligofrenia aqui, não mais escrevo "orkut" no lugar do meu nome duas ou três vezes antes de me logar. Agora escrevo no máximo uma e já corrijo imediatamente!

quarta-feira, maio 4

ELE TEM POBREMA?

Por que será que toda vez (é, eu disse TODAS as vezes) que eu vou me logar no Orkut eu escrevo umas duas ou três vezes "orkut" no lugar do meu login, pra só então notar que a senha não bate por causa disso? É meramente estupidez crônica individual ou seria o caso de fundar uma comunidade?

terça-feira, maio 3

Education by Stone

Li no Caderno C de sábado que traduziram Cabral pro inglês. Será o prenúncio de um Nobel póstumo que quase deram em vida? O mesmo cara que traduziu Fernando Pessoa e ganhou uma penca de prêmios de tradução de poesia. Ele disse que deram Cabral pra ele ler, há uns zilhões de anos atrás, e ele pensava que iria encontrar samba, frevo, mulatas, suor e cerveja. Encontrou pedras rigorosamente cortadas com cinzel. Apaixonou-se e "Educação pela Pedra" virou "Education by Stone". I wonder o que será de "Morte e Vida Severina", título com esse adjetivo, convenhamos, simplesmente intraduzível. Gostaria de ler essa tradução, só pela curiosidade. E pra me gabar pra mim mesmo de poder ler Cabral no original, que, by the way, é escrito em pernambuquês.

segunda-feira, maio 2

O HOMEM MAIS MACHO DO MUNDO

Só tem um cara que é mais macho do que Bogey. Até mais macho do que Freud, se duvidar. É Darwin. Em 16 de agosto de 1838, ele escreveu, pra quem quisesse ler: "Aquele que compreender o babuíno contribuirá mais à metafísica do que Locke". E olhe que eu sou fã de Voltaire, o que me torna fã de Locke por tabela. Tem que ser macho feito um cangaceiro da caatinga pra escrever um troço desses.

domingo, maio 1

Smoke on the water...

...and fire in the sky.