quinta-feira, dezembro 28


Molina, where are you going to? Posted by Picasa

terça-feira, dezembro 26

INSTINTO MATERNO

Fui adotado por Molina. Inverteram-se os papéis e agora eu sou o filhote. A nova mania dela é pentear minha barba e meus cabelos com a língua áspera.

DESNECESSÁRIO

O verdadeiro amigo é aquele para o qual se ligar desejando Feliz Natal é praticamente um insulto.

segunda-feira, dezembro 25

TIRANOSSAURUS SAPIENS

Nelson Rodrigues e Henry Miller que me dêem licença, mas "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, é o livro mais obsceno que já foi escrito até hoje. Pode ser que seja apenas mais um romance de ficção, e talvez por isso mesmo.

sábado, dezembro 23


Bogart e Bacall em African Queen desenhados por Al Posted by Picasa

Hepburn e Bogart em African Queen desenhados por Al Posted by Picasa

Bogart e Bergman em Casablanca desenhados por Al Posted by Picasa

terça-feira, dezembro 19

O FIM DA LINHA

Imagine se J. Carlos (1884-1950), nosso caricaturista maior, ainda estivesse vivo, lépido, fagueiro e desenhando por aí as caricaturas de Lula e Gilberto Gil em algum jornal brasileiro. Era mais ou menos isso que acontecia no New York Times, jornal onde Al Hirschfeld (1903-2003) publicou caricaturas durante mais de 70 anos (recorde praticamente imbatível para qualquer cartunista), para onde ia todos os dias dirigindo o próprio carro e onde se tornou uma lenda viva. Segunda-feira passada esse sonho acabou. Parecia que a morte tinha se esquecido ou aberto uma exceção para aquele senhor de longas barbas brancas, de uma vida simples e um traço mais simples ainda. Morreu dormindo no seu apartamento em Manhattan.
Tão genialmente simples que ousou bater de frente com ninguém menos que Walt Disney, no seu ensaio crítico sobre o desenho animado “Branca de Neve” publicado em 1938 no New York Times. Hirschfeld detonou Branca como um “autômato esquisito, com uma cabeça unidimensional, braços sem solidez e pescoço duro, e a adorável voz que o estúdio a presenteou só faz aumentar o seu aspecto de boneca de ventríloquo.”
Al sempre defendeu que, na representação gráfica do ser humano, menos é mais, e as formas simples têm mais personalidade que as complexas (ele, portanto, desprezaria olimpicamente certos caricaturistas brasileiros da atualidade que são inexplicavelmente endeusados na mass media). Tamanha foi a sua influência no cartum americano que o mesmo estúdio Disney, meio século depois da ácida crítica, rendeu-se ao seu encanto e à sua filosofia e lançou em 1994 o longa de animação “Alladin”, apresentando um elétrico e estapafúrdio gênio da lâmpada, que paga o ingresso com suas vertiginosas presepadas e cuja concepção gráfica é um tributo ao linear e sinuoso trabalho de Hirschfeld. Não satisfeitos, resolveram trazer Hirschfeld em pessoa para dentro do estúdio do “Fantasia 2000” e ser o consultor gráfico do episódio “Rapsody in Blue”, no qual o emblemático concerto para piano e orquestra do nova-iorquino George Gershwin celebra a Era do Jazz no traço inconfundível de Al.
Mas nem de longe essas seriam as únicas homenagens ainda em vida ao caricaturista ancião. A Biblioteca do Congresso americano o nomeou “Living Legend” (lenda viva), o que deve ser equivalente ao “Sir” que a rainha inglesa dá de vez em quando a algum figurão. E ele se tornou o primeiro artista ao qual foi permitido assinar o seu nome numa série de selos do correio americano (pena que Getúlio Vargas não tenha se lembrado de fazer o mesmo com J. Carlos, seria o “Olho-de-Boi” dos cartunistas). O documentário sobre sua vida “The Line King” (O Rei da Linha), onde contracena no seu modestíssimo estúdio em Manhattan com suas penas e pincéis, foi indicado ao Oscar. E como se tornou o caricaturista, ou caracterista, como gostava de se autodenominar, das estrelas e astros da Broadway, ganhou um Prêmio Tony especial, que é o Oscar do teatro americano.
Aliás, ser caricaturado por Hirschfeld na Broadway e ser publicado no domingo seguinte no NY Times era o equivalente a imprimir as mãos no cimento da calçada da fama e atingir a glória sempiterna. Um desenhista de linhas enxutíssimas, que sintetizava com impressionante precisão o caricaturado através de sinais gráficos que beiravam a taquigrafia. Quem vê um desenho de Hirschfeld imagina que aquela caricatura sempre esteve ali, apenas esperava alguém para rabiscá-la despretensiosamente no papel, como um Michelângelo que liberta seu Moisés do bloco de mármore. Mas no documentário “The Line King” ele aparece na sua prancheta meticuloso e perfeccionista, riscando esboços com grafite e apagando repetida e obsessivamente. Não é fácil ser simples.
Além da linha nobre, o Rei da Linha também lançou uma bossa: esconder no meio do desenho o nome da sua sobrinha Nina, e ao lado da própria assinatura escrevia um pequeno número indicando quantas vezes escrevera o nome. Virou passatempo nacional dos americanos achar os “Ninas” nas caricaturas da sua página dominical no NY Times, como uma espécie de jogo dos oito erros ou palavras cruzadas. Agora só nos resta juntar o nosso pesar ao de Nina e prantear o fim da linha. Ou, melhor ainda, celebrar uma vida tão longa e criativa, e que definitivamente deixou uma linha a ser seguida.

BAÚ DO RAUL

Estava cascavilhando (pense numa palavra que eu gosto! é quase uma onomatopéia para a ação descrita...) nos meus arquivos de textos antigos pra achar umas crônicas sobre um suicida que escrevi em conjunto com Biamorinha pra mandar pra Charlotte conforme o prometido (mas só achei do segundo capítulo em diante, onde diabos foi parar o primeiro? Tu ainda tens, Bia?), e tive uma idéia pra manter esse blog mais animado, porque não é sempre que eu tou com coisa no juízo pra botar pra fora aqui nesse pequeno lago de Narciso. A idéia é postar aqui um ou outro texto que publiquei no JC sobre assuntos diversos. Esse que vai aí em cima foi publicado na ocasião da morte do centenário Al Hischfeld, uma das minhas grandes influências na arte de caricaturar, até aproveitando o ensejo da morte do nonagenário parêia do Willian Hanna, o Joseph Barbera. Sobre o qual eu certamente não vou escrever, porque estou nesse exato momento escrevendo isto na minha casa e não na redação fazendo lobby pra eu mesmo fazer a matéria, que sai amanhã na capa do Caderno C, ao invés de um reles jornalista qualquer que não entende picas de cartum. Até imagino quem será (ai!), mas fazer o que, né, paciência, Luke, may the force be with him. Mas como ainda quero salvar a minha imagem de modesto depois desse rompante de megalomania, devo confessar que achei os meus textos das crônicas, lidos depois de todo esse tempo, um pouco medíocres, ruinzinhos mesmo, quase impublicáveis. Os de Bia estão bem melhores.

domingo, dezembro 17

VEM KAFKA COMIGO

Os homens gostam de, digamos assim, quase que de se vangloriar de não entender as mulheres. Citam geralmente a famosa frase de Freud:
"Afinal, o que querem as mulheres?"
Frase fora de contexto, claro que Freud entendia as mulheres. É muito fácil entender o que querem as mulheres. Elas querem a mesma coisa que os homens: poder. Dê uma olhada na sua biblioteca, quantas mulheres tem lá? Clarice Lispector, Florbela Espanca, Rachel de Queiroz, Agatha Christie, Simone de Beauvoir. Quando muito. Agora olhe pros seus cds: nenhuma compositora, só cantoras cantando as músicas dos homens. Pegue um livro de arte, quantas pintoras? Tarsila. Você se lembra do nome de alguma mulher ganhadora do Prêmio Nobel? Madre Teresa de Calcutá, Nobel da Paz, salvo engano. Golda Meir também ganhou? Não lembro, parece que sim. Ou foi Indira Gandhi? Da Paz, sempre da Paz. De Física ou de Medicina, nem pensar.
Tens idéia, macho, de que tipo de opressão monstruosa isso é? De que outro jeito as mulheres alcançariam o poder, se não pelo terrorismo do processo kafkiano do amor? Eu, se fosse mulher, faria exatamente a mesma coisa.

A GATA DE SAPATOS

Molina devia estar ainda invadindo a casa da vizinha, pois forraram com papelão a grade que nos separa. E ela não se limita à caixa de areia, elegeu como território sanitário toda a jardineira da varanda, fazendo um escarcéu dos diabos e jogando areia pra todo lado. E já esfiapou toda a enorme toalha que botei em cima do sofá, e agora está afiando as garras no sofá propriamente dito. E nas minhas calças e bermudas jogadas pelo chão. E no meu sapato novo, o qual já está devidamente escondido e trocado por um velho, que deixei assim jogado bem casualmente pra que ela não note a diferença. E de vez em quando surta de madrugada e se põe a dar piques de 100 metros rasos a toda velocidade de um lado pro outro, depois pára num canto qualquer e fica à espreita de sabe Deus o que. E eu não posso me sentar no computador pra escrever que ela vem morder o meu pé. E depois deita com a barriga pra cima e me olha com a cara mais preguiçosa do mundo, como a dizer: -Tá esperando o que pra me acariciar?

terça-feira, dezembro 12

REGURGITO ERGO SUM

A bulimia e a anorexia nervosa deveriam ser definitivamente descaracterizadas como doenças e incluídas na categoria das artes, das religiões ou dos esportes radicais, manifestações exclusivas dos seres humanos. Um avestruz, por exemplo, jamais vai morrer de anorexia, e muito menos de bulimia.

segunda-feira, dezembro 11

UMA GATA BORGIANA

Ontem, depois de tomas uns chopes com Brunorote e Charlotte, fui finalmente buscar Molina. Eram umas onze da noite já, os meninos provavelmente já estariam dormindo. Não estavam, mas já estavam conformados, e até ajudaram nos vãos esforços de encaixotar Molina. Não deu, teve de ser na base do cesto de roupa suja de novo. Passei na Select e comprei comida de gato em grãos e em lata, um litro de leite integral, e segui pra casa, Molina chiando muito como sempre por causa do movimento do carro. Quando chegamos e eu cortei os barbantes que seguravam a tampa do cesto, a primeira providência dela foi pular para cima da jardineira da varanda e daí para a jardineira da varanda da vizinha. Chacoalhei a comida numa vasilha e ela veio, comeu, bebeu leite e voltou pra varanda da vizinha. Botei a caixa de areia na jardineira da varanda e fui tomar banho. Quando saí, ela já estava fazendo um reconhecimento do novo lar, felizmente o meu, não o da vizinha. Farejava a tudo e a todos, pé ante pé, com pequenos sobressaltos quando eu fazia algum barulho. Farejou os livros, farejou os cds, sumiu por detrás da estante da televisão, sumiu por detrás do balcão da cozinha, sumiu por debaixo da cama, se enroscou nos fios do computador, e voltou pra jardineira da varanda. Ouviu uma sirene de ambulância e ficou seriamente preocupada, olhado fixamente para baixo. Depois ouviu ruído de briga de gatos nos telhados da Rua da Aurora e considerou a hipótese de ir conferir in loco. São nove andares, Molina, mais colunas e sobreloja, o que deve equivaler a onze, não me vá se tornar a sétima suicida do edifício. Quase decido a fechar a varanda e trancá-la do lado de dentro, mas não, ela já é adulta, responsável pelos seus atos, sabe o que faz. Quando me viu no sofá, veio e se enroscou nas minhas pernas. Depois, mais relax, foi farejar tudo de novo, e saltou para dentro de um novo cômodo que encontrou. Não conseguiu entrar porque era o enorme espelho da sala. Quebrou a cara e correu assustada pra jardineira da varanda, o seu porto seguro no novo labirinto que habitava. Quase morri de rir, mas fui dormir preocupado, pensando que no outro dia talvez desse com a trágica notícia da morte de uma linda gata siamesa que saltou para o vazio. Acordei com ela na cama dormindo ao meu lado.

sexta-feira, dezembro 8

MOLIIIIIIIIIIINA, WHERE YOU'RE GOING TO?!?

Ainda outro dia eu caí na besteira (cair na besteira é comigo mesmo, sou um exímio caidor nas besteiras) de prometer à filha de sete anos de um amigo meu um gato. Ele me contou que ela vivia pedindo a ele, e eu, felinófilo perante o Eterno que nem Mardoux, na primeira vez que fui à nova casa dele, disse a ela que eu me encarregaria de arranjar um. Arranjar filhote de gato é relativamente fácil, nas ruas ao redor do meu prédio pululam gatos e gatas a dar com o pau, ou no caso, a atirar o pau. O problema é que eu tinha que parar, procurar, olhar embaixo dos carros e nas frestas dos muros dos terrenos baldios, levar uma caixa de papelão devidamente furada e arejada, tentar dar um bote num filhote mais crescidinho e desmamado, enfrentar a fúria da mãe dele, etc., e eu só passo nessas ruas ou indo correr a lazer ou correndo atrasado pro trabalho. Relativamente difícil. Mas fiquei sabendo que lá no jornal tinha um cara que tem uma conexão com uma rede de traficantes de gatos, ou antes, uma rede de adoção para bichos de estimação em geral, gatos inclusos. Ele me deu o telefone de uma mulher que estava doando gatos. Eu liguei e a mulher me disse pra eu ir pegar quando quisesse e quantos quisesse. Eu disse que ia à noite, depois do trabalho. Não podia ser tão fácil.

Era. Quando cheguei lá na casa dela, era gato, literalmente, pra todo lado. Coisa de uns vinte, de todas as raças, cores, credos e tamanhos. O marido dela me recebeu super bem e foi logo me apresentando ao cachorro dele, que depois fiquei sabendo que era uma cachorra, no bom sentido. Já foi imediatamente pegando uns gatinhos já crescidinhos e desmamados e botando na caixa devidamente furada e arejada que eu tinha levado, já que a oferta era grande eu resolvi levar dois, um pra menina e outro pro irmão mais novo. Não funcionou. Os gatos, dois simpáticos vira-latas, um branco malhado de preto e outro cinza mouriscado, eram os pés da besta, começaram a rosnar e brigar um com o outro e escapavam facilmente pelas tampas de papelão. A mãe dos gatos, bastante indignada com a celeridade e prestreza do marido em se livrar dos gatos, me perguntava o tempo todo pelos futuros anfitriões, se iriam cuidar bem, se gostavam de gatos, se já tinham criado gatos, e eu ia respondendo tudo afirmativamente, me lembrando que o meu amigo disse que a mulher dele tinha pavor a gatos, só tinha concordado por causa da insistência da menina. Já que na caixa não ia dar, ele me trouxe uma gaiola de madeira fechada, própria para levar gatos em viagens. Eles ficaram brigando e rosnando do mesmo jeito, mas agora não tinha escapatória. Aí ele disse, sorrindo e piscando um olho pra mim: por que você não leva um pra você também? Acendeu dentro de mim a luz vermelha da tentação. Olhei pra mulher, que concordou assim meio triste, e me disse que tinha uma gata siamesa muito dócil, excelente para apartamentos, já castrada, e que eu poderia levar também, se quisesse. Deixa eu ver. Foi quando vi Molina, siamesa e linda, sentada como uma estátua egípcia em cima de um microondas. Acariciei a cabeça dela e ela se tornou de imediato minha amiga de infância, era dócil mesmo. A mulher foi buscar um enorme cesto de botar roupa suja, daqueles de plástico, e o marido tratou de enfiar a gata dentro e amarrar com cordas de varal. Como é o nome dela? Ela nem nome tem ainda, deixaram ela aí na frente com um barrigão, aí eu peguei pra criar, e já dei todos os filhotes e mandei castrar. Por entre as grades da copa que dava pro pro quintal de trás, a cachorra estendia alegremente a pata para mim. Talvez o fosse também no mau sentido.

Pois agora é minha e vai se chamar Molina, título de música clássica do Creedence. Já com a gataria dentro do carro, Molina na frente morrendo de medo e os dois brigões se atracando no banco de trás, fui pra casa do meu amigo, onde, fui informado pelo celular, tinha dois pimpolhos insones esperando pelo bichos. Quando cheguei a menina já estava na porta de frente, e os dois olhinhos brilharam de felicidade. Quando despejei as duas pestinhas no chão da sala, os olhos se apagaram de decepção. Ela disse que não queria aquele gato de jeito nenhum, era um gato muito feio, mas qual deles, os dois são feios, mamãe, diga a ele que eu não quero, e agitava as mãos de nervosismo e fazia cara de choro. E agora? Vislumbrei a oportunidade de voltar ao meu bom senso: -então venha ver a gata que eu trouxe pra mim, se você gostar, pode ficar com ela. Não deu outra, paixão à primeira vista. O menino perguntou se podia ficar com os outros dois. A mãe disse que ia pensar.

No outro dia o meu amigo me disse que devolveu os dois filhotes à dona. Uma semana depois ele me disse que eu ia ter que ficar mesmo com Molina, pois a filha e até a esposa estavam adorando a gata, mas o menino, que era tão virado nos pés da besta quanto os gatinhos, estava prestes a cometer um gatocídio, a gata não podia vê-lo que corria pra se esconder. Resumo da ópera: alea "jagta" est.

terça-feira, dezembro 5

CONSUMATUM EST

Pronto, agora já podem saber a razão pela qual eu estava deprimido. Me despedi da Capitão Gancho, minha primeira banda e primeiro amor. Por incontornáveis divergências de opinião em relação à atitudes tomadas pelo membro remanescente da formação original. Agora que já comuniquei a ele e aos outros membros da banda, posso aqui publicar, para que o restante da humanidade saiba. Fico, pelo menos por enquanto, só com a Creedence Cover, que aliás era o meu projeto original antes de entrar na CG. Volto portanto a ser aquela criatura alegre e saltitante (hum... pega leve, Mandra...) de sempre.