sábado, janeiro 17

THE BOOK IS ON THE DIGITAL TABLET

Não tive filhos, não transmiti à nenhuma criatura o legado do meu DNA com tendências obesas. Mas tenho sobrinhos e sobrinhas e uma afilhada, sai mais barato e é mais divertido. E eis que a minha afilhada Nanda, de tanto ler a coleção completa de Harry Potter que dei pra ela, surtou de ir pra Londres. Morar, passear, ou nem que seja botar o pé no aeroporto e voltar, qualquer coisa que a faça respirar o mesmo ar londrino e mágico do pequeno aprendiz de feiticeiro. Prometi a ela que enquanto vivo fosse trabalharia sem medir esforços para que ela consiga o seu intento. Quando eu emprestar a ela o dvd de "Passagem para a Índia" provavelmente desistirá.

Mas como estou de férias e acordando mais cedo pra passar mais tempo sem fazer nada, resolvi ir numa Cultura Inglesa pra saber preço de curso pra adolescente. A moça me atendeu muito bem e me mostrou as dependências do curso, as salas com cadeiras em círculo e um quadro-negro branco que eu pensei que se escrevia com pincel atômico, e fui logo pegando um pra me amostrar desenhando algum cartum pra ela. O pincel atômico era um mouse pen, e o quadro-branco um imenso digital tablet, e tinha acesso ao Google e tudo o mais. Não é à toa que nunca mais nenhum curso de inglês me contratou pra desenhar cartazes do tipo "the book is on the table".

O preço era menor do que eu esperava, mas mesmo assim meio salgadinho para as atuais circunstâncias. A moça, querendo que eu me matriculasse também, me disse que no outro dia estariam aplicando um "placement test" de graça, que era uma prova dos noves pra saber em que nível de inglês o freguês se encontrava. Ora, de graça até ônibus errado, e eu não estava exatamente com uma agenda apertada. No outro dia eu estava lá britanicamente às cinco da tarde pra tomar o meu chá de inglês. Eram quarenta questões mais uma redação. Eu nunca fiz curso de inglês fora do colégio. O inglês macarrônico que balbucio aprendi na marra quando morei alguns meses em Nova York em 1982. Das quarenta questões acertei trinta e sete. De 37 a 40 eu era um "Express Master". Quarenta cravados, um "Master Plus". Ou seja, só faltavam dois semestres pra eu acabar o curso. Nada mau para um ex-maloqueiro do Harlem.