terça-feira, janeiro 31

BACULEJO PUNK PROFÉTICO

Sábado passado, umas 23:79:00h, depois de sair da casa da mamma, meu carro, também conhecido como Millenium Falcon (ele nasceu no milênio passado), me levou pro Burburinho, embora eu estivesse cansado e querendo ir pra casa dormir. Ele sabia que lá estava tocando a Lady Murphy, banda que propiciou involutariamente a minha estréia como vocalista nos palcos roqueiros. Involuntariamente porque eu estava pra lá de Bagdá e simplesmente invadi o palco, tomei o microfone de Toledo e comecei a cantar "Time" do Pink Floyd, numa festa de fim-de-ano da Redação. Lá chegando encontro, além da galera de praxe, Fabiana Calábria e Morcegão. Depois de presenciar uma cena raríssima, que foi Morcegão sóbrio dando canja só cantando, sem a guitarra, fomos eu, ele e Fabiana para... para...adivinha...? Muito bem, adivinhou! Para o Garagem, todos no Falcon, ouvindo Janis Joplin e Joe Cocker. Quando estávamos chegando naquela rua que cruza a Rui Barbosa pra dobrar no Bugaloo, passa por nós a toda velocidade uma viatura da Rádio Patrulha. Morcegão falou: "-Eita, oiaê os homi! Devem estar indo pro Garagem prender os maconheiros!"
Rimos todos, mas aí passou outra viatura, e depois outra, e depois mais outra, uma, duas, três, quatro, cinco, seis, caramba! Quando dobramos no Bugaloo pra estacionar, estavam todas as viaturas com as luzes ligadas girando e piscando adivinha onde...? onde...? Muito bem, no Garagem! Fazendo o que? acertou de novo: prendendo os maconheiros. De longe notamos que o som estava desligado. Um cara que vinha vindo de lá disse que já era o segundo "baculejo punk" da noite, e que já foi muito neguinho preso. É, Morcegão, o profeta iluminado da noite, estava destinado a ficar sóbrio mesmo: demos meia-volta e saímos de fininho, de volta ao recesso dos nossos lares. Fabiana me falou hoje no jornal que saiu até uma matéria na edição de segunda-feira falando sobre a blitz, e que os homi levaram presa, de lambuja, uma patricinha metida a besta, por desacato à autoridade, algemada e tudo. Bem-feito, quem manda desacatar as otoridadis? Taí uma pulseirinha que ela nunca vai esquecer. Da próxima vez que Morcegão ficar sóbrio, eu vou perguntar a ele os números da Mega-Sena acumulada.

segunda-feira, janeiro 23

O MENINO É O PAI DO HOMEM

Conta um dos evangelhos (Lucas 2:41-53) que aos doze anos de idade Jesus debatia com filósofos e teólogos no templo de Jerusalém. Mozart aos doze anos compunha sinfonias e óperas. Acaba aí a semelhança entre os dois. Seria preciso uma enorme disciplina espiritual e uma natureza divina para entrar na adolescência com essa bagagem sem trazer dentro dela uma certa arrogância infantil. Jesus, segundo os evangelhos, conseguiu. Mozart, humano, demasiadamente humano, não. Ostentando uma tolerância zero para com o pecado da mediocridade, chegava a destratar os músicos da corte em plena partitura, escrevendo em cima de um trecho intencionalmente complicado para algum solista desafeto: "-Vê se consegue tocar isso, sua besta!". A criança, cujo principal brinquedo era a música, exigia dos adultos nada menos que a perfeição, e com a crueldade ingênua típica das crianças aduladas. O menino é o pai do homem, como diria Machado de Assis, e o Peter Pan da música erudita continuou chutando traseiros vida afora: no terceiro movimento do Concerto de Trompa no. 2 (KV 417) simula um ensaio de um trompista hesitante, enquanto as cordas zombam do solista com um gracejo ridículo. Num dos divertimentos musicais mais famosos, "Ein Musikalischer Spass" (Uma Piada Musical, Concerto para duas trompas e Cordas, KV 522), satiriza a mão pesada e os fraseados musicais óbvios dos compositores sem talento, dando-se ao luxo de fazer a orquestra desafinar de vez em quando no segundo movimento, e encerrar o quarto e último movimento com um tutti frouxo e meio dissonante. É realmente hilariante, mas para os seus críticos mais severos esse lado ferino e sarcástico de Mozart era um distúrbio de personalidade que em nada enriquecia a sua biografia e do qual ele precisaria se livrar o mais rápido possível. Ele se redimiu logo depois compondo a elegante "Eine Kleine Nachtmusik" (Uma Pequena Serenata, KV 525), obra-prima do estilo rococó que se tornou a sua assinatura musical mais imediatamente reconhecível, o equivalente ao que "As Quatro Estações" significa para Vivaldi e a "Quinta Sinfonia" para Beethoven.
O eterno espírito moleque encontrou no libretista Lorenzo da Ponte o parceiro ideal para aprontar mais presepadas no seu passatempo predileto: compor óperas. Na parceria mais celebrada da dupla, "Don Giovanni", Lorenzo leva Mozart a satirizar a si próprio. Durante a cena do jantar que antecede a entrada apoteótica e apocalíptica do fantasma do Comendador, uma pequena orquestra inserida no elenco anima a refeição com trechos de óperas de outros autores de sucesso na época. Cada citação é saudada com um brinde de vinho por Don Giovanni ("La Cosa Rara", de Martín y Soler e "Litiganti", de Giuseppe Sarti). Quando a orquestra ataca de "Non Piu Andrai", famosa ária de Fígaro de "As Bodas de Fígaro", o folgado criado Leporello se encarrega de despachar: "-ah, não, essa aí eu já ouvi até demais!". E eles, Giovanni e Leporello, continuam o diálogo com uma nova e debochada versão da ária, adaptada para encenar uma picuinha entre os dois.
Mas nem só de frivolidades e loucuras vivia Mozart. Em 1784, um lampejo de maturidade faz ele entrar para a maçonaria. Entra na ordem como aprendiz e no ano seguinte, só pra variar, já era mestre. Isso o levou a compor muitas obras de inspiração maçônica, que tinham a vantagem de não serem encomendadas pela corte e gozar de total liberdade e mais profundidade. Como a "Música para os funerais maçônicos" e a ópera "A Flauta Mágica", onde o homem e
o menino estão finalmente em perfeito equilíbrio. Peter Pan, ainda que tardiamente, saía da Terra do Nunca. E cá pra nós, felizmente ele saiu tarde. Afinal, não somos críticos tão severos assim.

sábado, janeiro 21

HELL´S ANGELS

Bem que eu tentei, tá vendo, mas os deuses do olimpo televisivo estão de sacanagem comigo: a televisão só ficou um único e solitário dia funcionando. Assisti o Homem-Aranha e no outro dia ela voltou a pifar. Ou antes, nem pifou, simplesmente não acordou, por mais força que eu apertasse o pitoco do controle remoto. Hibernando em sono profundo. Aí, claro, não tive tempo nem saco de levar durante toda a semana de volta pra assistência, e só na undécima hora, seis e meia da noite da sexta-feira, eu resolvo levar, arriscando pra ver se ainda tinha algum funcionário retardatário ou retardado por lá. Não tinha, tava tudo fechado, só tinha um cara cabeludo e todo tatuado no estacionamento lavando um carro indefinido. Deixei com ele e fui embora, não podia sair levando aquele trambolho pra passear no fim-de-semana. O carro chega saiu mais leve. Mário me liga dizendo que vai pro Downtown ver a Groove de Natacha, a gente se encontra lá então. Depois me liga dizendo que estava no Spirit no show da Beatles Cover. Lá pra duas da manhã saímos do Spirit e toca pro Downtown. Quando chegamos lá, estava acabando o show da Srta. Meira. E eu que nem sabia que finalmente ia ver essa tal senhorita. Contralto profundo e potente, mas Natacha tem mais carisma e um mezzo de veludo. Pulamos, gritamos, cacarejamos, sacolejamos, gargalhamos com as imitações impagáveis do talentoso Mr. Mário Ripley, dei minha canja "Smoke on The Water" com a Groove, que imagino agora seja a oficial, assim como "Susie Q" é a oficial com a El Mocambo. Quando demos fé, era dia claro do lado de fora e noite escura do lado de dentro, com os holofotes ainda ligados e a banda a todo vapor. Nessa nossa algazarra, duas meninas acabaram se integrando à trupe, ambas trajando o uniforme tradicional de metaleiras, botas pretas, roupas pretas, piercing, etc. Pareciam ter no máximo uns quinze anos. Na hora de ir embora, elas perguntaram pra onde íamos, queriam carona. Eu:
-Vocês querem ir pra onde?
-Pra Praça do Arsenal.
-Vambora, eu deixo vocês lá.
No caminho para o carro, uma negrinha mirrada vendendo chicletes em cartelas, eu comprei 3, dei uma pra cada uma das metaleiras, e a terceira eu dei à uma senhora com roupas de mendiga e ar de alucinada, que praguejou porque não dei dinheiro a ela também, em vez de chicletes.
Uma das meninas disse que ia escrever esse incidente na comunidade da véia no Orkut. Como assim? É que ela é a Véia dos Cachorros, ah, sim, eu já vi essa comunidade, mas nunca tinha ligado o nome à pessoa. De fato, eu nunca tinha entendido porque na frente do Downtown tem tanto cachorro vadio. Combinou-se de nos adicionarmos no Orkut, eu sou Miguel, eu Patrícia, eu Samara. entramos no carro e 59 segundos depois estávamos na Praça do Arsenal.
-Nossa, não sabia que era tão perto...!
Não conhecem o centro da cidade, bem típico da fauna nascida e criada dentro dos shoppings. Só conheciam a Praça do Arsenal porque era lá que ficava o finado Docas, templo sagrado dos metaleiros de camisa preta.
-Meu pai ficou de vir pegar a gente aqui na frente da Casa do Frevo.
-E vocês vão ficar aqui sozinhas?
-É, né, mas ele já tá vindo, eu liguei e disse que já tinha acabado.
-Meu instinto paternal se recusa a abandonar vocês duas nessa rua deserta às cinco da manhã. Enquanto ele chega vamos ficar aqui ouvindo Janis Joplin.
Uma pra outra:
-Já ouvi uma vez, é uma mulher, tem um vocal legal.
Cascavilhei no porta-luvas e achei Janis, mas não deu tempo.
-Olha lá, não é aquele carro ali que vem vindo?
-É sim, é o carro de papai. Valeu mesmo, hem? Deixa eu te adicionar no MSN: como é que é, alan_byck, alan...underline, peraí, ainda tou no segundo "a" (ela escrevia no celular), arroba, etc. O meu é Angel_From_Hell_666.
Indo embora, cruzei com um circunspecto senhor vindo de carro na direção oposta, e dei um toque curto na buzina pra ele saber que era eu o anjo da guarda dos seus anjos do inferno. Ele esboçou de leve um sorriso e buzinou de volta.

TAKING A CHANCE ON LOVE

Here I go again
I hear those trumpets blow again
All aglow again
Taking a chance on love
Here I slide again
About to take that ride again
I'm starry eyed again
Taking a chance on love
I thought the cards were a frame-up
I never would try
But now I'm taking the game up
And the ace of hearts is high
All things are mending now
I see a rainbow blending now
We'll have a happy ending now
Taking a chance on love

[Instrumental break]

Here I slip again
About to take that trip again
Got my grip again
Taking a chance on love
Now I prove again
That I can make life move again
In the groove again
Taking a chance on love
I walk around with a horseshoe
In clover I lie
And brother rabbit of course you
Better kiss your foot good-bye
On the ball again
I'm riding for a fall again
I'm gonna give my all again
Taking a chance on love
Taking a chance on love

quarta-feira, janeiro 18

ALGUMA COISA ACONTECEU NO MEU CORAÇÃO

Vejo que Cris está procurando apartamento em São Paulo. E esse é ano de Copa do Mundo. Isso me lembra o dia mais entediante da minha vida: o dia da final da Copa de 98. Que eu vi em São Paulo. Na casa de uns amigos de uma amiga da minha então esposa. Que era um casal tediosíssimo. E tinha um cachorrinho entediante que latia. E tinha uma ex-miss Brasil que achava que entendia de futebol. Duplamente entediante. E se postava ajoelhada ao lado da TV e ficava apontando na tela pra qual jogador era que tinha que ser passada a bola. Triplamente irritante. Quase tão irritante quanto Galvão Bueno querendo adivinhar o que tinha acontecido com os jogadores do Brasil. E todas as teorias mirabolantes que ele inventava pra justificar a derrota do Brasil o casal e a miss acreditavam piamente e repetiam ad nauseam.
Qualquer final de Copa do Mundo, com qualquer país disputando, é extremamente excitante. Essa, com o Brasil jogando, eu estava anestesiado de tédio. Ainda bem que o Brasil perdeu.

domingo, janeiro 15

FALCÕES NOTURNOS

Eita, cansei, chega! Segunda no Burburinho, quinta no Boratcho e Garagem, sexta no Garrafus (canja na Mocambo) e no Mad Pub (canja na Groove, banda de Natacha do nariz aerodinâmico) e sábado no Burburinho (canja da Capitão no show da Mocambo) de novo. E no domingo, sétimo dia, assim como Deus no Gênesis, vou descansar, que ninguém é de ferro. Falar em ser de ferro, antes de eu ir dormir deixa eu contar aqui uma rapidinha que ocorreu no Mad Pub. Mário e Leo, quinta-feira no Garagem, estavam reclamando que nunca tinham visto eu levar um fora. Tá bom, pois então eu vou levar um. Tentei com uma menina que parecia uma índia cherokee, não deu certo, ela gostou do papo furado e deu trela, e o namorado tinha ido comprar cerveja, imagine se estivesse desacompanhada. Na sexta, no Mad Pub, resolvi tentar com uma gordinha bem bonitinha de uns 20 anos que tava dançando em frente ao palco. Também não levei fora nenhum, pelo contrário, ela desandou a falar sobre a vida dela, e entre outras coisas fiquei sabendo que ela fez vários vestibulares esse ano e não passou em nenhum deles. E que ela não sabia exatamente do que gostava de fazer. Aliás, gostava de fazer exatamente nada. Devia ser rica. E que não tinha cultura pra fazer faculdade. Eu, querendo consolá-la e levantar o seu moral, disse que não era bem assim, todo mundo tem uma certa cultura geral, e que sabendo aplicar na sua área preferida, etc, blá,blá,blá, quer ver, por exemplo, quem é aquele cara ali? As paredes do Mad Pub são todas grafitadas do chão ao teto com ícones da cultura pop: atrás do palco tem a cara de Gene Simons do Kiss com a língua de fora, noutra parede tem um Alfred Newman, mascote da revista Mad, e em frente ao balcão onde conversávamos éramos observados por uma enorme máscara de Darth Vader. Eu comecei por ele, o mais fácil, afinal na pior das hipóteses no ano passado tivemos o filme que mostra a gênese do dito cujo, e assim George Lucas pôde finalmente descansar. Minha intenção era que ela dissesse "aaah, assim também não vale, né, quem não sabe disso?", e daí partir para desafios mais difíceis. Ela olhou por uns instantes para aquela imensa esfinge negra e tascou: "-Ah... sei lá... ele canta o quê?"
Hummm... não sei, mas se cantar deve ser um puta barítono. Pra me certificar que eu ainda estava no planeta Terra e não numa galáxia mui, mui distante, fiz a mesma pergunta ao sushiman com bandana de kamikaze, e ele, sem titubear, na bucha: "-Ah, esse é o Dark Side". Pelo menos chegou mais perto. Quando olhei pro Dark Side, Leo e Mário estavam simulando uma encoxada, encostando a virilha na cara de Vader e esfregando as costas com as próprias mãos. É possível que de tanto eles me verem apontar para aquela parede, pensaram que eu estava fazendo algum trocadilho erótico com o sabre de luz crescendo nas mãos do férreo e metálico arquivilão. Resolvi levar logo de vez o meu fora e tentei beijar a gordinha. Ela se esquivou e disse: -Olha, teus amigos estão indo embora... -É mesmo! E saí correndo atrás de Leo, Mário, Natacha, Marcelinho e os dois Lucas.
No lobby da saída, um poster emoldurado na parede de uma paródia de um quadro de um pintor americano que pintava umas paisagens urbanas e solitárias: uma cafeteria de esquina na madrugada iluminada por umas luzes pálidas (vejo agora na Internet que o nome do quadro é "Nighthawks"). Só que em vez dos fregueses anônimos e de olhar vazio, um sorridente Elvis era o garçon, e no balcão estavam respectivamente James Dean, Bogart e Marilyn. Eu fiquei enlouquecido querendo me lembrar do nome do pintor, eu adoro esse pintor, eu faço de vez em quando papel de parede pro meu computador com os quadros desse pintor, como é o nome desse desgraçado desse pintor! Atrás de mim vinha vindo Marcelinho, meu sobrinho, que também tem 20 anos, viu minha aflição e disse de passagem: Hopper.
Assim não vale. Ele estava sóbrio.

segunda-feira, janeiro 9

QUASE

Olhaí, tá vendo? Foi só eu reclamar que os bichos já estão ficando mais pesados. No "Crônicas de Nárnia" já estão quase convincentes. Quase. Quanto ao filme em si, é tão pueril que quase chega a ser comovente. Quase.

sábado, janeiro 7

AMIGO É PRA ESSAS COISAS

Algumas biografias trazem o correspondente em grego Wolfgang Theophilo Mozart, ao invés do latino Amadeus. Theo=Deus; Philo=amigo. Amigo de Deus. Ah, bom, isso explica tudo.
(Update: em alemão=Gottlieb)

quinta-feira, janeiro 5

PANIS ET CIRCENSIS

Mardoux me diz que preciso arranjar uma namoradinha. Pois bem, Mardy, já estou tomando providências. Ontem mesmo levei a televisãozona pra consertar, pois é claro que a minha futura namoradinha deverá gostar de um filminho de vez em quando, pra variar. Quem sabe ela até pode me convencer a dar uma olhadinha no Big Brother que vem por aí, ou na novela das oito, o amor move montanhas. Vou mandar também consertar o sofá da sala, pois está engolindo o freguês da cintura pra baixo em dois dos seus três lugares, bastante sintomático que só tenha um lugar intacto. Estaremos pois aconchegantes e aconchegados, pipocas e dvds, pão e circo. Preciso também,de uma vez por todas, arrumar de uma forma cronológica, ou pelo menos lógica, os cds, é um inferno pra achar qualquer coisa, tá um samba do crioulo doido. Os livros não estão muito melhor do que os cds, mas os livros são assim mesmo, eles é que escolhem a gente pra serem lidos. Quanto à decoração das paredes, não adianta eu mexer muito, ela certamente vai cuidar de dar o seu toque feminino, o qual eu fingirei que achei que ficou muito legal. Ano novo, vida nova. Falar nisso, fui na página do Orkut de uma amiga lhe desejar um feliz ano novo atrasado, e achei essa inspirativas frases espalhadas entre os peixinhos e sóis que quando clicados nos deixam ver a magia da natureza:


"Os fogos anunciam a chegada de um ano novo !
É hora de refazer seus sonhos ainda não realizados
e acreditar que irá concretizá-los.
Soltar um olhar solidário e acalantador para os seus amigos e bocejar para os inimigos.
Aprender com os erros do ano já ido e brindar o ano bem vindo com um sorriso.
Correr ao encontro daquele amor ainda não perdido
ou surpreender mais uma vez o amor já conquistado."

(Gostei do bocejar para os inimigos. Very Bogart!)


"Ei, sorria
Mas não se esconda atrás desse sorriso...
Mostre aquilo que você é, sem medo
Existem pessoas que sonham com o seu sorriso assim como eu
Ei! Ame acima de tudo,
amas a tudo e a todos
Procure o que há de bom em tudo e em todos
não faça dos defeitos uma distância e sim uma aproximação
Aceite!
A vida, as pessoas, faça delas sua razão de viver
Entenda!
Entenda as pessoas diferentes de você..."


(Senti um pouco de falta do célebre "Sorria, mesmo que seja um sorriso triste, porque mais triste do que um sorriso triste, é a tristeza de não saber sorrir.")


"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento,perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional."
(Carlos Drummond de Andrade)


(Drummond disse isso? A dor é inevitável e o sofrimento é opcional? Se disse, deve ter se arrependido, e se não disse, coitado, de uma forma ou de outra deve estar dando cambalhotas na tumba. Mas devo confessar que a primeira parte me tocou, a da prudência egoísta. Mais pela dicotomia da expressão em si, que mistura uma qualidade e um defeito. Eu não me esquivo do sofrimento pra perder a felicidade não, as mulheres sim, é que às vezes são muito esquivas. La donna è mobile, qual piuma al vento, muta d'acciento e de pensiero, como diz a ópera Rigoletto.)


Pois então a sorte está lançada. Televisão ligada, sofá consertado, cds arrumados. Se eu conseguir atravessar esses três rubicões, arranjar a namorada será a parte mais fácil. Mulheres, tremei.

terça-feira, janeiro 3

BE THERE OR BE SQUARE

Nos últimos dias do ano que passou, ou seja, semana passada, conduzi mais uma pesquisa de campo, desta feita para tentar descobrir como, quando, onde e porque as mulheres começaram a cortar a ponta das unhas quadradas. A recepcionista da redação disse que não se lembra exatamente quando, mas lembra que resistiu bravamente, até que cedeu, e agora não consegue mais cortar redonda. Disse que era até melhor pra digitar. Ao que Andréa Miranda, notória usuária das quadradas de longa data e longas unhas, retorquiu motejando que não fazia diferença, que as datilógrafas antigas sempre as usaram redondas e nunca reclamaram nem nunca se soube se interferiu na performance delas. Isso derrubou o argumento utilitarista e pragmático da recepcionista, que se fosse designer como Andréa, seria certamente fiel defensora da filosofia Bauhaus. Consuelo, designer infografista, disse que lembra que começou a cortar assim no final da década de 80 ou início da de 90. Elis, minha sobrinha, já se preocupava em cortá-las rigorosamente quadradas desde que morava em Fortaleza, o que confirma a informação de Consuelo, que a coisa já vem rolando faz um certo tempo, e adiciona uma outra, que já se alastrou pelo mundo inteiro. Mas aparentemente os diferentes cortes não configuram uma distinção de classes, ou se configuraram no início, agora liberou geral. Andréa disse que Nara, outra designer infografista que trabalha na Editoria de Artes, as corta redondas, porque segundo ela a diagramação anatômica do seu dedo não comporta um corte quadrado. Ou seja, trata-se agora apenas de gosto pessoal, porque se cortar redonda fosse sinal de mau gosto ou de breguice, ou sinalizasse claramente para uma classe mais baixa, Nara cortaria os próprios dedos mas não usaria as unhas redondas. Resta saber de onde veio a ordem pra primeira mulher cortar de modo quadrado, e a partir daí se alastrar o novo perfil. Porque não é a mesma coisa que, digamos, pintar à francesinha, porque aí já pelo nome obviamente sabemos que a moda veio das atrizes pornô norte-americanas. É provável que nunca venhamos a saber quem iniciou a moda das unhas de pontas quadradas , mas, cá pra nós, duvido muito que tenha sido uma manicure. Pra durar tanto tempo, isso deve ter sido coisa de cabelereiro metido a estilista.