sábado, fevereiro 25

BOLO DE ROLO - DÉCADA DE 60

Ingredientes:

400 gramas de açúcar
400 gramas de manteiga Turvo
400 gramas de farinha de trigo
Uma colher de sopa de pó Royal
Um cálice de vinho do Porto
Uma lata de goiabada

Modo de fazer:

Bate-se muito bem o açúcar com a manteiga até ficar cremoso. Junta-se o creme à farinha de trigo e vai-se adicionando as gemas, sempre batendo bem. Junta-se o pó Royal com o vinho do Porto e as claras em neve. À parte derrete-se a goiabada na manteiga. Assa-se em formas rasas e em cada camada espalha-se a goiabada derretida. Vira-se num pano úmido polvilhado com açúcar, enrolando e juntando as camadas.

STAIRWAY TO HEAVEN

Fugi do Galo. As zilhões de freviocas passam bem embaixo da minha janela. Fui pro exílio na casa minha mãe, que mora bem longe do epicentro, lá em Boa Viagem, e que fez um bolo de aniversário pra mim. E eu nem sou muito chegado a bolo, muito menos esses de aniversário, todos disformes e melequentos. Mas não é um bolo de aniversário qualquer, é o bolo mais delicioso do mundo. É o bolo de rolo que a minha mãe fazia quando eu era criança, e que todos os anos, no meu aniversário, eu peço pra ela fazer. Ela aprendeu com a minha tia Jandira. A goiabada do recheio é derretida na manteiga. Manteiga de verdade, de lata vermelha, que se abre com o abridor de latas. Em lugar nenhum do universo se faz mais bolo de rolo com goiabada derretida em manteiga de verdade. Um bolo que não tem preço. Vou ter que correr todos os dias na praia...

terça-feira, fevereiro 14

O SENHOR É O MEU PASTOR

Fui ver o Brokeback Mountain e fiquei chocado. Chocado com o alcance do fundamentalismo, seja ele protestante, católico ou muçulmano. O filme é extremamente conservador e anti-darwinista. Defende com unhas e dentes o criacionismo, que Bush pai e Bush filho pretendiam que fosse obrigatório o seu ensino nas escolas. Isso como pano de fundo, claro, o que fica mais evidente logo de cara é o eterno lobby gay nas artes, na minha opinião equivocado e um tiro no pé, pra convencer a humanidade que os gays são pessoas normais que fizeram uma "opção sexual". Eles, os cowboys, estavam alegremente pastoreando as ovelhas e um belo dia, como estavam sem nada pra fazer mesmo, resolveram virar gays. Pô, com tanta ovelha por ali dando sopa. Isso nas brenhas do interior dos Estados Unidos no início da década de 60, onde a baitolagem era punida com pena de morte informal, como o próprio filme faz questão de enfatizar. Trata-se portanto de uma escolha pessoal, livre-arbítrio judaico-cristão, embora contra as leis morais judaico-cristãs. O homossexual, no caso, é um pecador que pode reconvertido de volta aos retos caminhos do Senhor, e abandonar esse "vício secreto" quando quiser e bem entender. Em nenhum momento se fala na questão da sexualidade inata. O filme focaliza apenas o lado poético e romântico da paixão dos dois homens, como se a homossexualidade inesperada de ambos fosse um súbito despertar para um patamar mais elevado da experência existencial, e os que não eram "entendidos" eram retratados como bregas ou fúteis. Os gays não parecem entender que, com essa visão, estão servindo inadvertidamente aos seus piores inimigos, os fundamentalistas, e que essa visão criacionista é apenas a outra face da mesma moeda conservadora. Não há dúvida que o espírito humano é quase infinito em suas colorações e variações, mas não devemos tomar por favas contadas, pra dizer o mínimo, que a sexualidade esteja incluída na paleta dessa aquarela. Não deixa de ser irônico que o filme é quase todo passado nas montanhas e florestas, e, mais irônico ainda, que o slogan no cartaz seja: "O amor é uma força da natureza."

quarta-feira, fevereiro 8

DOWN THE RABBIT HOLE

Sábado passado Marcelinho meu sobrinho me chamou pra ir na Cultura, minha ex-posa deu pra ele um bônus de trinta dinheiros e ele queria ver se comprava um livro de arqueologia. Não tinha o tal livro, ele encomendou lá com a moça e fomos fuçar aleatoriamente, verdadeiro objetivo da visita. Não andamos muito e demos de cara com um tabuleiro meio desarrumado de livros importados em promoção, a mesma história de sempre, os livros importados bem mais baratos que os livros nacionais, mas que coisa. Marcelinho foi logo comprando um Robinson Crusoe por 7 reais. Também não procurei muito, o primeiro que agarrei, e não larguei mais, foi nada menos que "The Complete Illustrated Works of Lewis Carrol", com 42 ilustrações originais em bico-de-pena da primeira edição de Sir John Tenniel, é, aquelas mesmo nas quais Disney baseou o seu desenho animado. Todas as histórias e poemas, e na capa dura, com sobrecapa idêntica, uma ilustração de Alice caindo no buraco do coelho. Um tijolaço de 934 páginas. Quase caio pra trás quando passei o laser: 34 reais. Como eu tinha um bônus de 7 reais no cartão Cultura, saiu por 27 miseríssimos pilas.
Texto integral na língua original.
Ilustrações originais em bico-de-pena.
934 páginas.
27 reais.
Vinte e sete.
Meu.
Só meu.
Todo meu.

terça-feira, fevereiro 7

O OVO E A GALINHA

Lewis Carrol escreveu um Processo para crianças. Kafka escreveu um Alice no País das Maravilhas para adultos.

THE THRILL OF IT ALL

Mamã-Natureba, na sua sempiterna fúria evolutiva e reprodutiva, estabeleceu o seguinte para o século 21: vai faltar hômi e sobrar mulé. O que aparentemente poderia ser um motivo de farto regozijo e celebração, pode se transformar numa sinuca de bico. Hell hath no fury like essas harpias doces e ferozes, as quais lançam um cipoal de farpas e maldições de feiticeiras shakespeareanas, por entre as quais temos que deslizar com a tática e a maciez das serpentes do Éden. Tell me, people, am I going insane?
I just want a Sunday kind of love.