segunda-feira, novembro 28

MORTE E VIDA EM CASA AMARELA

E já que estou ilustrando o “Morte e Vida Severina”, o que me custou as férias todas em cima da prancheta, resolvi ir hoje no cemitério de Casa Amarela, que é citado juntamente com o de Santo Amaro assim que Severino chega no Recife. O de Santo Amaro eu já sei de cor e salteado, chegava a levar namoradas pra passear lá. Mas o de Casa Amarela eu não sabia nem onde era, e achei por bem dar uma de Maigret, e fui sentir o clima e me impregnar da atmosfera do local do crime. Podia ser que Cabral não tivesse citado só por citar, vai que tem alguma peculiaridade que só tem lá, e lá vou eu desenhar um cemitério qualquer que não tem nada a ver com o dito cujo. Quatro horas da tarde, chego em Casa Amarela, pergunto onde é o cemitério de Casa Amarela, o cara apontou: fica ao lado do Mercado de Casa Amarela. À primeira vista, nada de especial, um cemitério como qualquer outro. Até me surpreendi com a limpeza e organização, esperava algo mais mambembe e rasteiro. Túmulos e lápides de mármore branco e granito preto, poderia ser muito bem um setor menos imponente do de Santo Amaro. Um enterro se desenrolava lá longe, junto ao muro branco e alto, de onde mulheres voltavam com os olhos vermelhos. Saquei meu caderninho de anotações e comecei a desenhar um anjinho de meio metro de altura que velava por sobre um grande túmulo de mármore que um dia foi branco. Depois desenhei uma espécie de capelinha que parecia um must nos túmulos mais baixos, assim da altura da metade da canela. Nada mais era que um aquário de vidro transparente em forma de casinha de boneca, com três paredes, sem porta e duas lâminas em V invertido no teto. Dentro ficava uma imagem de Maria. Depois desenhei uns jarros com girassóis, orquídeas, petúnias e tulipas coloridíssimas, de fazer inveja a um Van Gogh, todas de plástico, claro. Depois desenhei um casal de pombinhos se beijando, que posavam ao lado de uma imagem de um anjo. Acho que os parentes do falecido houveram por bem providenciar alguns amigos alados pro anjinho não se sentir tão abandonado. Depois desenhei dois cisnes em forma de jarro de tulipas. Aparentemente qualquer coisa que tinha asas saía voando da cristaleira e ia pousar em cima dos túmulos. Depois desenhei... epa, peraí, o que é aquilo? Tive que me aproximar pra ter certeza. Era isso mesmo: sabe aquelas cúpulas de vidro que encerram uma imagem da Virgem dentro, como se fosse um oratório, ou um nicho, ou coisa que o valha? Pois alguém fez uma com uma garrafa pet litrão de Coca-Cola cortada ao meio, com o fundo pra cima. E tinha uma Virgem Maria dentro. E estava rigidamente cimentada ao túmulo com massa epox, não era nada provisório. E os jarros ao lado, com as infalíveis tulipas, também eram de garrafa pet, só que verdes, provavelmente de guaraná, só que retorcidas com chama de vela, pra dar uma aspecto de cristal ornamentado. Bem, por que não, essas garrafas levarão milhares de anos pra se decompor na natureza, vai deixar na poeira muito metal metido a besta por aí. Mais adiante avistei um vidrão de Nescafé 500g com um Padim Ciço dentro. Pensando bem, o cara da garrafa pet não deixou de ser um inovador, o vidrão era o padrão, tinha por todo canto, com Nossas Senhoras e Padins Cíceros eternamente lacrados dentro deles. Aaaaah, mas olha aí: um vidrão esguio e elegante de palmito com uma Virgem dentro. Que Nescafé que nada, tá pensando o que, meu marido merece coisa melhor! Se um dia eu casar de novo, quero ter uma mulher assim. E, deixo aqui solenemente registrado para a posteridade, minha querida esposa, quero ser enterrado no cemitério de Casa Amarela, o cemitério mais alto astral e sem frescuras do mundo.

AVE SANGRIA

Nada de novo no front. E na retaguarda também. Tudo normal desde ontem.

quarta-feira, novembro 23

A VIDA COMO ELA É

Eu não queria ser Robert Plant. Queria ser Frank Sinatra. Mas não se pode ter tudo na vida.

NADA A VER

Que novo Sinatra que nada, Harry Connick Jr. é o novo Mel Torme. Aquele que, não importa o quanto a big band se esgüele, ele tá lá na doce suavidade de uma vozinha "vejam, garotas, eu sou sexy", sem levantar nem uma sobrancelha e nem um decibel. Sinatra, personificação do swing e da elegância, tenor abaritonado ou barítono atenorado, canta de acordo com a música.

TRILOGIA DE NOVEMBRO

Café em minimug, Diamante Negro e Roliúde de menta. Sorry, Doktor Kris, didn't quit yet.

ALEGRIA, ALEGRIA

Caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento, recebo ligação de Corujinha, filho do Corujão, que tinha cd importado novança dando sopa no sebo. Caminhei a favor do vento imediatamente pra lá. Dez reau cada. Um alemão louco que desovou, ruim de negociação, segundo Corujinha, não baixou um centavo do preço, que deve ter sido, claro, menos de dez, espírito do capitalismo e ética dos sebos. Cds de clássicos e jazz com a qualidade das gravadoras alemãs, que na Livraria Cultura custaria no mínimo 70 reais. Comprei 7 por 70, entre eles um que eu procurava há séculos e que ficou com a minha ex-wife: Harry Connick Jr. cantando ao piano e com big band, a la Nat King Cole: "We are in love". There is a God in heaven. E ainda ganhei de brinde um de Plácido Domingo cantando músicas natalinas, e uma raridade pra dar de Natal a minha afilhada: um original do primeiro cd da Banda Calypso, aquele que ainda tem o telefone de contato pra shows na capa da frente! There is a Satan in hell...

sexta-feira, novembro 18

IN THE MOOD

I'm on a big band mood. How long will this be going oooonnn...?

terça-feira, novembro 15

HAPPY HOURS

Tinha que ir no banco levar o dinheiro do acordo do cartão de crédito, que pela enésima vez eu farrapei e não queria farrapar pela enésima primeira, nem tanto pelos juros, mas pra não ouvir de novo o “senhorrrrrrr pode me confirmarrrrrrr” com sotaque caipirrrrra de Zé Dirrrrrceu. Tomei dois expressos no Habib’s da Conde da Boa Vista e fui pro banco. Lá chegando e na fila, deu preguiça de começar mais um livro de Maigret e parar daqui a uns minutos, resolvi ligar pra Naara, e combinei de levar um dicionário de folclore que ilustrei pra biblioteca que ela dirige. Saí do banco e tomei mais um expresso na Praça Machado de Assis, cuja principal característica é a total inexistência, e fui a pé pra biblioteca de Naara. Como o livro é de folclore e ilustrado por mim, calculo que vai ser desviado pra biblioteca pessoal dela, mas a intenção era essa mesmo, e foi isso que dissemos rindo um ao outro. Saí da biblioteca e fui andando pra casa, eram cinco e quinze, muito cedo ou muito tarde pra qualquer coisa, ainda mais pra alguém de férias. Lembrei que não tinha almoçado, e depois de titubear hesitante na Riachuelo (a rua, não a loja) resolvi ir inaugurar o Bar Central, do meu amigo André Rosenberg, que até hoje só conhecia de passagem, literalmente, ou indo pro Parque 13 de Maio ou indo pro Jornal. Cheguei e fui recebido pelo próprio André, gentileza em pessoa, e fui me instalando numa mesa não muito central. Coca light com gelo e limão, pra começar os trabalhos. A luz da tarde que morria e a do bar que nascia tornava proibitiva a leitura, mas ainda assim avancei algumas páginas, e desisti. Mais uma Coca, e a cafeína zumbia no meu cérebro. Foi quando eu vi, na mesa ao lado, Vênus de Milo apaixonada por Toulouse Lautrec. Um toulouse lautrec moreno curtido de sol, magricela, careca e com a barba cuidadosamente desenhada na cara ossuda, e tão baixinho que quero crer que balançava as pernas na cadeira. A Vênus, dobro da estatura e longos cabelos encaracolados descendo em cascata pelos ombros, o olhava ternamente, enlevada e embevecida, enquanto ele falava coisas com um ar muito grave. Eu apurava o máximo os ouvidos pra pescar nem que fosse uma frase, ele provavelmente estava recitando palavras mágicas. Desisti também, corroído de ciúmes, e fui cascavilhar a radiola de ficha: Miles Davis, Chet Baker, Chico Buarque, Chico Science, Luiz Gonzaga, Christophe, Reginaldo Rossi, Cole Porter, opa, Cole Porter, Night and Day com Ella Fitzgerald. E depois My Funny Valentine com Sinatra, a ficha dá direito a duas músicas. No dia que eu encontrar Leopoldo aqui vou finalmente mostrar a ele de uma vez por todas que Tom Jobim surrupiou o “Samba de Uma Nota Só” da introdução de Night and Day. Influências do Jazz. A voz d’Ella inunda o bar e envolve a todos numa atmosfera encantada de happy hour, nada mais happy hour do que Night and Day cantada por Ella Fitzgerald. Até Toulouse Lautrec largou da sua sessão de hipnose com a Vênus e me perguntou que música era aquela. Eu respondi com ares blasé de entendido, caprichando na pronúncia pra impressionar a Vênus. E impressionei mesmo, ela agradeceu a prestreza da consulta com um sorriso submisso. Desisto dessa Vênus, muito fácil de ser conquistada. My Funny Valentine me lembrou Naara, eram já dez pras seis, ela devia estar saindo da biblioteca, liguei pra ela de novo convidando pra vir pro Central. Ela disse que viria, mas primeiro ia passar em casa pra se arrumar, ia cantar num aniversário de casamento, vem, a gente lancha aqui e depois eu te levo, tá, não convido porque é uma festa privada, tudo bem, tenho que ir pra casa trabalhar de qualquer forma, frila pra entregar, beleza. Nisso um grito agudo e feminino quebra a tal atmosfera encantada do happy hour, vinha do lado de dentro do balcão. Pensei que tinha sido uma barata, mas logo outro grito mais alto e mais agudo, talvez um rato, agora vários gritos e um tumulto de briga e quebra-quebra, hum, talvez um rinoceronte, os garçons correm pra acudir seguidos por André, vê-se e ouve-se dentro do balcão um arranca-rabo e um empurra-empurra, nisso sai correndo uma cozinheira ou garçonete pro meio da rua dizendo que vai chamar a polícia pra prender esse desgraçado, enquanto o desgraçado bufava, praguejava e resfolegava e era imobilizado pelos garçons. As mulheres debandaram das mesas e correram em polvorosa escadaria acima, Vênus inclusa. Ânimos serenados, perguntei a um garçon que diabos tinha sido aquilo. –Problema gaioso, limitou-se a responder. André, gentileza em pessoa, veio se desculpar com os clientes, um por um. Um cara de óculos de intelectual botou Janis Joplin na radiola, eu disse a ele que botasse qualquer coisa, menos Reginaldo Rossi, pelamordideus, senão o cara surta de novo. Um bêbado chato veio me cumprimentar e dizer que a minha piada tinha sido muito boa. A mulher dele tratou de reconduzi-lo à mesa. Resolvi voltar a ler Maigret, pra desencorajar bêbados e chatos. De repente, um estrondo: cai do céu em cima da mesa um songbook de bossa-nova. Era a louca da Naara, toda elegante. Fiz grandes salamaleques e elogios, está linda, ela nem aí, esperava que eu dissesse aquilo mesmo. Tá com fome, tou, eu pedi um sanduíche de carne com queijo-do- reino, pede um só com queijo pra mim, ah, um toast, é, e um leite com Ovomaltine. Perdesse o melhor, o que foi, uma briga arretada, problema gaioso. Que horas, sete e meia, tá quase na hora. Na saída, quando digito a senha pra pagar no cartão, toca o celular, era do Garrafus, agora sob nova administração, tentando marcar show da Capitão na sexta-feira. Tava cortando, tive que ir pro meio da rua pra dar antena, quando desliguei já vem Naara com meus livros e carteiras e tudo. -Já vi que tava falando com mulher, chega mudou a voz. –Claro, e eu vou falar com mulher do mesmo jeito que falo com homem? -Pois, se eu não conheço, falo do mesmo jeito com todo mundo. Pegamos o carro e levo Naara na Rua do Apolo, que eu sempre confundo com a célebre Rua da Guia, no Recife Antigo. Nas despedidas, liga Manu, doida pra sair na véspera de feriado mas sozinha, o marido fazendo concurso público no Paraná. –Meu amor, que saudade! Amor da minha vida! Naara: -Eita, é mulher de novo! Acredite não, ele vive dizendo o mesmo pra mim! Manu: -Quem é essa ciumenta aí? –É uma louca. Não pode ser outro dia não? Eu tenho que entregar o frila de Mário Hélio, e Mário tu conhece bem, né. Naara se intromete: -Tu tá de férias mas ela não, amanhã é feriado, ela não vai poder outro dia, vai hoje. Era verdade, me compadeço de Manu e vou buscá-la. Mas antes tenho que parar num posto pra botar gasolina. Quando fui procurar o cartão, canto mais limpo. A louca da Naara deixou no Central. Manu, a gente vai pro Burburinho, mas antes vamos dar uma passadinha no Central, meu cartão ficou lá. No Central, nada de cartão, André, gentileza em pessoa, pessoalmente se encarregou de procurar. Ligo pra Naara e ela praticamente já sabia do que se tratava: -Tá naquele bolsinho da carteira que bota cheque. -Eu não ia achar nunca. Oxe, e tu num vai cantar não? Nove horas já. –Vou cantar agora mesmo, se você deixar! Manu já tinha se enturmado numa mesa lá de cima da escadaria, a turma da agência de publicidade que ela trabalha estava lá, inclusive o chefe. Contei o caso do problema gaioso e ainda chamei o garçom autor do título pra confirmar, todos riram. Onze horas, pede uma parcial, vamos pro Burburinho ver Má Companhia. Na saída, Leopoldo. Agora te peguei, seu filho da puta, venha ver, garçom, me dá uma ficha aí, olha aqui, Night and Day é o teu genial Samba de Uma Nota Só, botei duas vezes na mesma ficha pra confirmar. -Não, o tempo é diferente. -Claro que é diferente, um é bossa-nova, o outro é jazz, mas as notas são as mesmas. -Não tem nada a ver. -Ah, vai te foder, vambora Manu.
O Burburinho, véspera de feriado, mais do que nunca, justificava o nome.

segunda-feira, novembro 14

EU QUERO COMER CARMENCITA! OLÉ!!!

Bia, foi exatamente como eu pensava, Virgínia/Carmen como a grande voz e o resto dando pro gasto, uns mais outros menos, surpresa agradável com a Micaela, sopraninha pequena porém decente. Wellington semitonando à vontade como sempre; o Toreador continua sem volume, apesar de afinado; o tenor que importaram de fora estava à beira da exaustão, não posso julgá-lo pelo último dia. Mas Virgínia estava lá, firme e forte, com os graves potentes atropelando coro e orquestra, e os agudos nem se fala. A bichinha chorou nos aplausos finais. Nos cumprimentos da saída eu disse a ela que Maria Ewing que se cuide. Ela riu, sabe muito bem de quem se trata, decalcou uma meia dúzia de trejeitos das caras e bocas dela, sendo Virgínia, claro, mais bonita e quase tão sensual quanto. Cenário e figurino é aquilo mesmo em toda montagem, mas, agora, cá pra nós, o show do aniversário da Capitão Gancho foi mil watts mais bem iluminado.

sábado, novembro 12

FÉRIAS FABULOSAS

Faz dez dias que estou de férias e sem ver o menor vestígio de televisão. Não tenho em casa, só via na redação, futebol, noticiários e uma ou outra entrevista de Jô Soares, e agora nem isso, zero. Primeiro viajei sem bagagem, sem lenço e sem documento pra uma cidadezinha balneário no litoral da França. Há muito tempo tinha comprado essa passagem justamente para essa ocasião, e chama-se "As Férias de Maigret". Agora já voltei pra Paris com outro ticket, que chama-se "A Amiga da Senhora Maigret". Simenon é um excelente cicerone.

sexta-feira, novembro 11

CÓDIGO DE ÉTICA

Umberto Eco, comentando o sucesso do romance "O Código da Vinci" na sua coluna da revista "Entre Livros" desse mês, diz que Dan Brown está sendo ameaçado de ser procesado por plágio por autores de livros de ciências ocultas, dos quais ele roubou as idéias mirabolantes do seu livro. A ironia é que, se as histórias são verdadeiras, não é plágio, óbvio, pois trata-se de um relato histórico, e se são invenções originais dos autores dos livrinhos, vai pegar muito mal perante os seus devotos e seguidores, que não estão interessados em ficção. Mais simpático foi Eco, que desde as primeiras páginas do "Nome da Rosa" já deixa claro que trata-se de uma paródia dos contos detetivescos do Sherlock Holmes de Conan Doyle, (Guilherme de Baskerville/O Cão dos Baskerville e Adso/Watson) e ainda faz uma inequívoca citação daquele que é considerado o primeiro conto de detetive da literatura, o caso do cavalo Brunello, escrito por Voltaire. Gente fina é outra coisa.

quinta-feira, novembro 10

VALE A PENA VER DE NOVO

A Noiva Cadáver, animação de Tim Burton, é pra ver no cinema, e depois comprar o DVD e assistir pelo menos uma vez por semana. Pequena obra-prima com um clima de livro de Charles Dickens. A princípio eu pensei que eles tinham se dado ao requinte de imitar através de animação digital as texturas e os movimentos stop-motion da animação com bonecos. Depois, pelo menos pelo que pude deduzir dos créditos, é animação com bonecos mesmo. É realmente espantoso a que ponto de perfeição se chegou com essa técnica, não é à toa que os créditos exibem um pequeno exército de abnegados. Meu Deus, como sou preguiçoso!

As mulheres se vestem para as outras mulheres e despem-se para os homens.

Há aí nesse antigo ditado muito mais samba do que pode aparentar à primeira vista. Descreve a guerra surda que as mulheres travam a todo momento, da qual os homens só desconfiam de longe e fazem ocasionalmente uma ou outra piada, e a verdadeira estrutura de poder que rege a sociedade, na qual as mulheres preferem se inserir como eminência parda. Mas, convenhamos, grande novidade, quem leu Machado na adolescência já está careca de saber disso.

segunda-feira, novembro 7

Well, let's face it, kid...

I only feel lonely when I'm in the middle of a crowd. When I'm alone, I don't.

ROW, ROW, ROW YOUR BOAT

Gently down the stream,
Merrily, merrily, merrily, merrily,
Life is but a dream.

sábado, novembro 5

SEGUNDA ORDEM

(Esse textículo eu publiquei nos tópicos da comunidade da Capitão Gancho sob o título de "CAPITÃO ZUMBI")


Nós bem que tentamos, mas não deu. Estávamos cheio de boas intenções de, nessa sexta, fazer um show light, sem colesterol e sem gorduras saturadas, cheio de fibras e vegetais folhosos. Afinal estávamos todos, público e banda, ainda nos recuperando do furacão do aniversário. Mas a coisa começou a pegar fogo de novo, e a chegada da Mocambo com Morcegão bêbado não ajudou em nada a apagar o incêndio. Só sei que, quando nóis deu fé, lá íamos subindo a ladeira com Highway Star, e terminamos a noite, acredite se quiser, tocando Immigrant Song junto com umas alfaias de maracatu que invadiram o Burburinho pela porta dos fundos! De arrepiar!!!

sexta-feira, novembro 4

FURACÃO GANCHO

Terça passada foi o niver da Capitão, e poupei as minhas caras leitoras de um post maratônico porque, primeiro, eu estava em mil cacos e, segundo, foi tudo registrado em vídeo, breve numa locadora pertinho de você. Só queria dizer que toda a trabalheira valeu a pena só pra ver a cara ensandecida dos roqueiros de plantão da primeira fila quando a gente tocou "Highway Star" do Deep Purple. Parecia que o Rita e o Katrina tinham chegado montados num tsunami. Estupramos Janis em "Piece of My Heart" e incendiamos o cowbell no "Foxy Lady" de Hendrix, eis aí uma madrugada exaustiva e perfeita. E hoje tem mais, mas vamos pegar um pouquinho mais leve, só no lado B. Pelo menos, até segunda ordem...

quinta-feira, novembro 3

REI CHARLES

Hey, Mardigras, finalmente vi Ray. Somehow predictable. Será que eles fariam o filme também se Ray tivesse dito "fodam-se!" e tocasse no teatro segregado da Geórgia de qualquer forma? Não, ninguém quer saber a história de um filho da puta, e não daria lucro nem prêmios. Quem começou mesmo a revolução de direitos civis foi aquela negona que morreu semana passada com noventa e tantos anos, se recusando a dar o lugar dela no ônibus a um branco, e Martin Luther King pegou no pé da palavra e liderou o boicote às empresas de transporte. Old American Hero Story. Jamie Foxx emulou muito bem os trejeitos do negão, mereceu o Oscar da Wax Museum Academy. Ao fim e ao cabo, é um bom filme, plástico e sonoro, mas não é uma biografia memorável. Nixon foi. Hoffa foi. O Martin Luther King de Denzel Washington também foi.