quinta-feira, julho 31

MORCEGOS, DEMÔNIOS E TUBARÕES

O novo Batman, o segundo da série realista-a-la-Frank-Miller, renova a fé que o público está preparado para se submeter a tudo, inclusive uma "suspension of desbelief" às avessas. Ou seja, que dá pra fazer um filme com uma abordagem séria e existencial com um super-herói de máscara e capa. E de morcego.

No quadrinho do Demolidor, Frank Miller, o atualizador de super-heróis, põe Matt Murdock a antecipar a indagação da namorada, e explica que a fantasia de demônio, pois ele é Daredevil em inglês, serve para assustar e pegar de surpresa os larápios. No "Cavaleiro das Trevas" Miller também passa o tempo todo nas entrelinhas querendo justificar essa estranha mania de Bruce Wayne. A essas alturas do campeonato não cabem mais explicações, uma vez que a única razão que Miller recebeu a encomenda da renovação dos roteiros da Marvel e da DC foi o fato dos justiceiros em questão serem super-heróis consagrados, e para tal eles têm como obrigação contratual de se vestir de maneira diferente.

Ironicamente, a abordagem mais séria sobre o Cruzado de Capa continua sendo o seriado de televisão dos anos 60, que era quase uma sátira dos quadrinhos, e piscava o olho a todo tempo para nós pequenos telespectadores com os seus POWs, SOCs e BONCs. Ao menos respeitava a fantasia delirante que era alguém sair vestido daquele jeito para espancar bandidos.

Os primeiros Batmans do cinema fizeram um mezzo mussarela, mezzo calabresa, seriedade com gracinhas. Zera tudo e começa a fase Miller com o Batman Begins, que é na verdade o início do "Cavaleiro das Trevas", título desse segundo. Mas o filme é bom, porque pelo menos existe um território ético reconhecível em comum com as personagens ao qual podemos nos reportar. Em Sin City, onde os super-heróis são de fabricação caseira do próprio Miller, o vale-tudo amoral se torna cansativo mais ou menos aí pela metade do filme.

Vem aí o novo 007 do galego-cangaceiro Daniel Craig, e tem nome escalafobético: Quantum of Solace. Acho que eu já disse aqui que esse corisco-diabo-louro tem mais cara de vilão do que de Bond. Em "Estrada para a Perdição" ele está perfeito no papel de mafioso mais canalha do que Capone. Escolha desinfeliz essa de tirar Pierce Brosnan. Mas se tinha de tirar, seria melhor ter botado vovô Sean Connery de volta do que esse Danny boy. Qualé, fizeram pesquisa de mercado? Alguém deveria ter alertado ao cara do cast que James Bond "is tall, and he is dark, and like the shark, he looks for trouble, that's why the zero is double...". Dark, no sentido de cabelo preto como as asas da graúna, e tall no sentido de elegante. Pra mim, assim como Val Kilmer como Batman, não colou. Por favor, não mudem o lay-out dos nossos heróis!

Mas justiça seja feita: pelo menos, da letra da canção, sobrou para Craig o "like the shark"...

2 Comments:

Blogger Marcia Furriel said...

E eu que nunca mais tinha lido seu blog, como pode?! Cheio de coisa pra comentar e eu dando mole...

Tô voltando com o meu, baby steps, até pegar de novo o jeito.
beso

1:35 PM, agosto 07, 2008  
Anonymous Anônimo said...

ME LEVA PRA VER COM VC?
ESTOU CURIOSA DEMAIS.

5:20 PM, agosto 07, 2008  

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