quarta-feira, janeiro 16

A VACA DEU BODE

Mas me senti plenamente vingado do "Godfather III" quando, procurando pelo original da caricatura de Virgínia (tava tão bem guardada que eu não sabia onde tava, Vivi...), encontrei uma revista MAD antiga justamente com a sátira do dito cujo. E desenhada por Mort Drucker, meu ídolo da infância. Nada como o humor extrovertido/
extravagante/inteligente/
sagaz/pateta/palhaço/rude/seco/sarcástico/
simpático e misterioso da MAD para lavar a alma de um cinéfilo revoltado. Ou para aplacar o terror também: recorri à sátira de "O Exorcista" para poder dormir no dia em que assisti esse clássico no cinema. Dá um desconto aí, galera, eu tinha apenas uns dez ou onze anos.



Mas não é disso que eu quero falar, como bem podem ver pelo título desse bilhete urbi et orbi. Hoje pela manhã, ao realizar a minha tradicional corrida mensal de São Nunca dia-sim-oito-não pelo Parque 13 de Maio, vi na esquina da rua do Central o cara que vende bode. Como Ana estava fazendo a sua visita semanal faxino-gastro-aleatória ao meu cafofo, comprei uma água mineral com gás, um cartão telefônico (que eu não sou besta de correr com celular, não tanto pelo ladrão, mas pela pentelhação: os chatos adivinham) e disse pra Ana vir comprar um bodinho pra fazer pro almoço.

Enquanto esperava Ana chegar com o dinheiro, entre outras tantas conversas de matuto, que eu fui logo exibindo o meu pedigree de Zona da Mata Norte, claro, o vendedor de bode me brindou com esta pérola: um amigo dele resolveu tomar literalmente o ditado que diz que casamento é como um cara que quer tomar um copo de leite e compra uma vaca. Pois o tal amigo fez exatamente isso: comprou uma vaca do vendedor de bode, que também vende bois e vacas, e botou no quintal da casa, à guisa de tomar romanticamente um leite fresquinho e quentinho todas as manhãs, leite direto do peito da vaca, o famoso leite mugido.

Romanticamente no sentido amplo, pois não creio que esse cidadão fosse casado, porque senão, entre as muitas gargalhadas que dei, daria outras tantas ouvindo como teria sido a reação da esposa. Como o vendedor de bode não falou da Dona Encrenca do distinto amigo, quero crer que ele não estava, pelo menos no momento do tresloucado gesto, enquadrado na parte metafórica do dito popular.

Pois ele ignorou solene e bovinamente os conselhos do amigo vendedor e botou a vaca no quintal. A casa dele não tinha quintal dos lados, só atrás, e só aí já foi um puxa pra lá e empurra pra cá de móveis e sofás pra poder a distinta madame adentrar o recinto e se recolher aos seus aposentos nos fundos da casa. E tinha o detalhe do capim, sem o qual as vacas recusam-se terminantemente a dar leite. O plano dele era usar a sua velha Belina pra ir recolher capim pela beira da estrada. Só que vaca come toda hora, e não esperou pelo outro dia, quando viu que o capim não vinha mesmo, danou-se a mugir madrugada adentro. Ele disse depois ao amigo que, um mugido de vaca faminta, assim de tão perto, equivale ao apito de um trem. Acordou a ele e a toda a vizinhança, que como já falei, era de parede, sem quintal de entremeio. Lá se foi ele buscar capim com a Belina, e como estava chovendo muito a Belina atolou. Ele teve que trazer o capim a pé. Faria qualquer coisa para não ouvir aquele mugido de novo no pé do ouvido.

Dias depois devolveu a vaca, que na saída, deu uma grande cagada bem no meio da sala. O vendedor de bode me disse que era melhor ele comprar um litro de leite a 100 reais todo dia, do que fazer o que fez. Quero crer que ele deva estar procurando uma esposa no momento.

2 Comments:

Blogger Blogart said...

Toda semana agora eu vou comprar bode e ouvir histórias...!

1:14 PM, janeiro 18, 2008  
Blogger Mandrey said...

muuuuuuuuuuuuuuuuuuito bom.

7:24 AM, janeiro 25, 2008  

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