quarta-feira, junho 1

LE LION CÉST LE ROI DES ANIMAUX

Faz tanto tempo que não escrevo  nada aqui que ficarei muito surpreso se o blog ainda me reconhecer e me deixar postar alguma coisa. Não faço ideia porque parei de escrever. Ainda cisquei uma volta não muito triunfal em 2010, mas, como o leão da piada da aula de francês, que foi urrar e desanimou, disso não passou. Mas vamos ver se agora vai, uma vez que, à semelhança de 2010, tropecei de novo no blog nas minhas andanças pela internet e deu saudades desse pequeno porém sincero Lago de Narciso. Comecei a me reler e surpreendi-me rindo comigo mesmo, ainda que, e talvez porque, devido ao hiato entre a escrita e a releitura, fica parecendo que estou lendo uma outra pessoa. Danei-me a mandar excertos do blog pra parentes e amigos, como se estivesse a recomendar no Facebook um escritor predileto que tivesse não recentemente falecido, mas ressuscitado. Pode ser até mesmo que o advento do Facebook tenha canalizado as minhas veleidades litero-escritoreiras para escrevinhamentos mais furiosos e menos edificantes, porém quero crer que atualmente necessários, e por isso o nosso Blogart tenha ficado encostado por tanto tempo. Mas voltei, agora que o Facebook perdeu a graça de vez e virou meramente um palanque para o politicamente irritante dos imbecis que agora têm voz, aqueles profetizados por Umberto Eco. Blogart, aqui me tens de regresso, e suplicante te peço a minha nova inscrição.

sábado, agosto 21

Hã?!?

Aterrisei aqui por acaso, o link abriu no computador do JC, que há milênios tinha bloqueado blogs, messengers e afins. Me pegou tão de surpresa que fiquei sem palavras. Como estou comprando um computador novo, finalmente, breve estarei postando novos maravilhosos, divertidíssimos e fenomenais textos aqui para a imensa alegria de Socorrinha e Elis, que são as minhas duas ilustríssimas e assíduas leitoras. Tentarei reconquistar os leitores perdidos, como Furriel e André Pinto. Quem viver verá, vini vidi vince.

sexta-feira, março 20

GATO ESCONDIDO COM O RABO DE FORA

Estava eu checando os meus recados no Orkut quando vi no perfil de uma amiga a tal previsão que Marx teria feito sobre a atual crise mundial:

"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado".
Karl Marx, in Das Kapital, 1867.


Apesar de já ter lido "O Manifesto Comunista", de Marx e Engels, que é fininho, confesso que nunca li "O Capital" todo, só me aventurei por umas já esquecidas poucas e áridas páginas do famoso tijolaço. Mas achei essa profecia perfeitinha demais, muito parecida com aquelas citações apócrifas que circulam todos os dias pela Internet, atribuindo frases e até longos e edificantes discursos a Arnaldo Jabor e Luís Fernando Veríssimo. E o fato de Marx ter atribuído tanta importância à tecnologia, pondo-a em pé de igualdade com as outras commodities, isso em pleno alvorecer da Revolução Industrial, me deixou com mais pulgas ainda atrás da orelha. Nem Nostradamus em toda a sua glória!
Fui cascavilhar e não deu outra: era um gato escondido com o rabo de fora...

http://libertarianismo.com/index.php/menuartigos/blog/433-a-mentira-que-karl-marx-nunca-disse

http://marcondesviana.blogspot.com/2009/02/karl-mark.html

sábado, janeiro 17

THE BOOK IS ON THE DIGITAL TABLET

Não tive filhos, não transmiti à nenhuma criatura o legado do meu DNA com tendências obesas. Mas tenho sobrinhos e sobrinhas e uma afilhada, sai mais barato e é mais divertido. E eis que a minha afilhada Nanda, de tanto ler a coleção completa de Harry Potter que dei pra ela, surtou de ir pra Londres. Morar, passear, ou nem que seja botar o pé no aeroporto e voltar, qualquer coisa que a faça respirar o mesmo ar londrino e mágico do pequeno aprendiz de feiticeiro. Prometi a ela que enquanto vivo fosse trabalharia sem medir esforços para que ela consiga o seu intento. Quando eu emprestar a ela o dvd de "Passagem para a Índia" provavelmente desistirá.

Mas como estou de férias e acordando mais cedo pra passar mais tempo sem fazer nada, resolvi ir numa Cultura Inglesa pra saber preço de curso pra adolescente. A moça me atendeu muito bem e me mostrou as dependências do curso, as salas com cadeiras em círculo e um quadro-negro branco que eu pensei que se escrevia com pincel atômico, e fui logo pegando um pra me amostrar desenhando algum cartum pra ela. O pincel atômico era um mouse pen, e o quadro-branco um imenso digital tablet, e tinha acesso ao Google e tudo o mais. Não é à toa que nunca mais nenhum curso de inglês me contratou pra desenhar cartazes do tipo "the book is on the table".

O preço era menor do que eu esperava, mas mesmo assim meio salgadinho para as atuais circunstâncias. A moça, querendo que eu me matriculasse também, me disse que no outro dia estariam aplicando um "placement test" de graça, que era uma prova dos noves pra saber em que nível de inglês o freguês se encontrava. Ora, de graça até ônibus errado, e eu não estava exatamente com uma agenda apertada. No outro dia eu estava lá britanicamente às cinco da tarde pra tomar o meu chá de inglês. Eram quarenta questões mais uma redação. Eu nunca fiz curso de inglês fora do colégio. O inglês macarrônico que balbucio aprendi na marra quando morei alguns meses em Nova York em 1982. Das quarenta questões acertei trinta e sete. De 37 a 40 eu era um "Express Master". Quarenta cravados, um "Master Plus". Ou seja, só faltavam dois semestres pra eu acabar o curso. Nada mau para um ex-maloqueiro do Harlem.

sexta-feira, novembro 28

IDENTIDADE BOND

Acho que agora finalmente peguei a manha desse novo James Bond galego. O projeto foi audacioso, eles quiseram começar do zero, mas do zero mesmo, até mesmo antes do zero. Começaram com Bond ainda meio estagiário no serviço secreto, um reles cão de caça, incansável porém bruto. Agora ele já está sendo domado aos trancos e barrancos por M e provavelmente no próximo já vai estar começando a dizer as proverbiais gracinhas bondianas. Levarão de três a quatro filmes pra lapidar e polir o diamante. A deixa foi o drink: no primeiro, Casino Royale, ele diz que não se importa se é shaken ou stirred (-Do I look like I give a damn?). No segundo, quando está enchendo a cara de cachaça no avião, ele já está criando a fórmula do famoso martini shaken-not-stirred, e com uma casquinha de limão. E tanto ele falou na tal da Vesper nesse Quantum of Solace que é claro que quando finalmente ele for batizar o drink no terceiro, adivinhem qual será o nome. É uma espécie de prequel, como fizeram com Star Wars. Menos mal, esse bond cangaceiro corisco diabo louro já estava me dando nos nervos.

sexta-feira, outubro 31

O CASO DO ROUBO DAS CASTANHAS QUEIMADAS

Por causa da queda das bolsas, metade do dinheiro que estava destinado para a compra do meu apartamento ficou se esvaindo pelo ralo, visto que era FGTS aplicado em ações da Vale do Rio Doce. Um colega de trabalho me indicou um gerente da Caixa de Igarassu, que era amigo de infância dele e que o tinha orientado na compra da sua casa própria, para me dar orientações pertinentes sobre o assunto.

Lá vou eu portanto para Igarassu, onde recebi de fato orientações pertinentes e outras um tanto impertinentes, e na saída errei o caminho, em vez de voltar pro Recife, fui em direção a Itamaracá. Notei o erro, mas como não tinha nada pra fazer naquele momento, fui indo pra ver a paisagem e no que é que dava. A estrada era bonita e arborizada, cheia de bambuzais nos lados, e de repente me invade as narinas um cheiro de castanha assando. Me trouxe reminiscências da infância, e assim que avistei a fumaça parei no acostamento.

O vendedor de castanhas também vendia côco, e como era hora do almoço e estava muito quente, resolvi tomar um bem geladinho. Ele disse que o saquinho de castanha custava dois reais, mas fazia três por cinco. Eu tinha exatos cinco reais na carteira, e como já estava bebendo a água do côco, ele resolveu deixar fiado pra me vender mais castanhas.

Essas castanhas de beira de estrada são as melhores, porque ficam com um gostinho meio que de defumadas, e sempre o cara que assa erra um pouco o ponto e queima algumas, o que dá um sabor todo especial. Perguntei se já era tempo de caju, e ele disse que ainda não, aquelas tinham vindo do Ceará. O que tirou um pouco do encanto e da autenticidade, mas pelo menos era ele mesmo que assava e quebrava a casca.

A água de côco que entrou reivindicou espaço na bexiga, e tive que ir verter o excesso numa árvore mais escondida indicada pelo vendedor. De volta, topei com a mesa tosca e rústica na qual ele quebrava as castanhas, e tinha um lote de muito queimadas que ele julgou que a clientela não iria aceitar, e estavam espalhadas pela mesa, certamente esperando pra ir pro lixo. Ora, se são as que mais gosto, recolhi todas e já ia mandar botar no caderninho recém aberto, esperando, é claro, que ele me dispensasse do pagamento com um sorriso de piedade pela minha excentricidade.

Mas ele já estava atendendo a outro carro que tinha parado, uma grande família com crianças, genros e sogras. Fiquei acanhado de divulgar a minha excentricidade pra tanta gente, e botei as castanhas queimadas no bolso e fui embora sem ser notado. Quando for pagar o côco, na minha próxima consulta ao oráculo da Caixa de Igarassu, comunicarei o roubo e implorarei por misericórdia.

terça-feira, setembro 30

THE POWER OF THE DARKEST SIDE

Digite 9/11 no Google. Você vai ficar estarrecido com a quantidade de sites que defendem a tese de que a queda das Torres Gêmeas foi uma grande farsa para justificar as invasões no Afeganistão e no Iraque, que os EUA já planejavam faz tempo. Ou seja, elas não caíram, mas foram na verdade demolidas.

Tem muita coisa nebulosa e não esclarecida. Não tem nenhum boeing no gramado do Pentágono, só tem um incêndio e um buraco na parede. Tá mais pra míssil terrestre. Foi o que as câmeras de segurança dos hotéis da vizinhança filmaram e a imprensa calou.

O avião da Filadélfia, aquele tal dos heróis que se rebelaram contra os terroristas, se evaporou no ar, não deixou nenhuma fuselagem, bagagem, corpos e nem caixa preta no chão. E pegaram logo Oliver Stone, o diretor de JFK, pra fazer o filme sobre esses heróis. Hum...

As Torres Gêmeas, essas sim, com colisão de aviões, caíram todas bem certinhas, como uma implosão programada. E o WTC-7, aquele prédio do complexo World Trade Center que ninguém deu muita bola pra ele, aquele menorzinho de "apenas" 47 andares, caiu também bem certinho e comportado do mesmo jeito, sem avião nenhum bater nele. Solidariedade? E cá pra nós, você já ouviu falar de algum edifício que tenha desmoronado com um incêndio nos andares de cima?

Resumo da ópera: a indústria bélica americana, que é quem manda no país de verdade e que mandou assassinar Kennedy em 1963 porque ele queria tirar as tropas do Vietnã, repetiu a dose. Mandou Bush aterrorizar a mídia com o "Ato Patriótico" e a orwelliana política de "Homeland Security", e fez uma grande fanfarronagem com esses "atentados" pra ganhar a opinião pública em favor das guerras.

Se você acha isso monstruoso demais, acorde, é só uma questão de ponto de vista civil e militar. Mais monstruoso ainda foi ficar mais de dez anos mandando jovens pro matadouro do Vietnã, uma guerra que sabiam que iriam perder. Só pra marcar posição contra o comunismo, entende? E essa autoflagelação terrorista não é nenhuma novidade, Hitler fez isso na Alemanha pré-guerra incendiando o Reichstag. Mas ele foi mais bonzinho, incendiou à noite, quando não tinha mais ninguém...

http://www.ae911truth.org/

http://www.ae911truth.org/info/6

http://www.voltairenet.org/

http://www.911truth.org/

http://www.911truth.org/article.php?story=20041221155307646

http://www.911truth.org/index.php?topic=resources

http://www.youtube.com/watch?v=8n-nT-luFIw&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=JZekosYOmXc&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=paWiZ2Y8fRg

http://www.journalof911studies.com/

http://resistir.info/11set/new_study_p.html

http://www.amazon.fr/11-Conspiracy-Scamming-America/dp/0812696123?ie=UTF8&s=english-books&qid=1183331016&sr=1-2

http://911scholars.org/

domingo, agosto 31

CLARO QUE SABIA

Você sabia que o revezamento da Tocha Olímpica com diversas pessoas surgiu em Berlim em 1936?
-Isso porque Hitler era um verdadeiro democrata.

Você sabia que o jumento consegue tomar 22 litros de água em 2 minutos?
-Ou seja, em dois minutos ele toma um garrafão Indaiá e ainda fica com sede. Isso é que é uma jumentice!


Você sabia que durante uma partida de futebol um jogador corre em média de 10 a 13 quilômetros?
-E às vezes nem gol fazem.

Você sabia que queimamos cerca de 63 calorias enquanto dormimos?
- O que é uma injustiça, deveríamos queimar muito mais.

Você sabia que a superfície da língua tem 9.000 detetores químicos?
-Também conhecidas como papilas gustativas?

Você sabia que o nariz humano pode perceber 6.850 cheiros diferentes?
-No momento, o meu está entupido e só percebe o último dígito desse número.

Você sabia que as abelhas se comunicam através do movimento das asas?
-Quem disse que elas só fazem voar e fazer cêra?

Você sabia que, assim como muitas aves, o casal de corujas fica junto para o resto da vida?
-Isso porque as corujas não constroem ninhos e nem falam muito. Queria ver só o corujo agüentar muito tempo com a coruja reclamando sobre a posição do sofá e as cores da parede.

Você sabia que os caracóis podem dormir por 3 anos sem acordar?
-O danado é notar a diferença de quando eles estão acordados.

Você sabia que o Esperanto é uma língua universal?
-O único defeito é que ninguém fala.

Você sabia que a sucuri já nasce com cerca de 1 metro de comprimento?
-Cerca de 63 calorias, cerca de 1 metro. Tão pouquinho, por que não contou e nem mediu?

Você sabia que as fêmeas do urso panda são férteis apenas 3 vezes por ano?
-Vai ver é por isso que estão sempre à beira da extinção.

Você sabia que a fêmea do louva-a-deus come a cabeça do macho durante o acasalamento?
-O amor sempre nos faz perder a cabeça.

Você sabia que a hibernação de um urso polar pode durar de 4 a 6 semanas?
-Se ele tiver apnéia obstrutiva do sono não dura nem 6 minutos.

Você sabia que a distância entre a Terra e o Sol é cerca de 149,6 milhões de quilômetros?
-Cerca de 149,6 é de lascar! É a cerca mais exata do universo. Por que não cerca de 150 milhões de quilômetros? Pelo menos justificaria a cerca. Não, não sabia não, e agora que sei, tratarei de esquecer o mais rápido possível, para não ocupar mais espaço ainda no HD do meu cérebro com tanta inutilidade.

Pois não é que a Claro resolveu entupir a minha caixa postal de recados do celular com essas pérolas inefáveis? E ainda me cobram por isso no fim do mês. Ou seja, eu estou pagando para ser chateado. Já reclamei e eles prometeram parar e me devolver o dinheiro nas próximas contas. Agora me chateiam mandando o número do protocolo da reclamação.

"Quiz Premiado", é como eles chamam essa baboseira. Pessoas ganham laptops e televisões LCD. Como eu nunca participei, só ganhei músicas e imagens para o meu celular num site aí, as quais eu nunca fui e nem irei buscar.

E nem ao menos zelam pela credibilidade das informações, ou seja, tudo o que você leu até agora pode ou não ser verdade. Como da vez que mandaram uma dizendo:

Você sabia que Elvis Presley serviu no exército americano na Alemanha na II Guerra Mundial?

O exército americano deveria estar desesperadamente precisando de infantaria, uma vez que, nascido em 1935, Elvis, na melhor das hipóteses, teria dez aninhos de idade no final da guerra em 1945. As antas confundiram com o tempo que Elvis serviu numa base americana na Alemanha Ocidental em 1957 durante a Guerra da Coréia. E que foi exatamente a única vez que Elvis esteve na Europa, que para azar dos europeus, nem fez show nem nada. Mas, quem sabe, precoce do jeito que era, talvez ele tenha ido de fraldas e chupeta aos jogos olímpicos de 1936 em Berlim pra ajudar no revezamento da Tocha Olímpica.

quinta-feira, julho 31

MORCEGOS, DEMÔNIOS E TUBARÕES

O novo Batman, o segundo da série realista-a-la-Frank-Miller, renova a fé que o público está preparado para se submeter a tudo, inclusive uma "suspension of desbelief" às avessas. Ou seja, que dá pra fazer um filme com uma abordagem séria e existencial com um super-herói de máscara e capa. E de morcego.

No quadrinho do Demolidor, Frank Miller, o atualizador de super-heróis, põe Matt Murdock a antecipar a indagação da namorada, e explica que a fantasia de demônio, pois ele é Daredevil em inglês, serve para assustar e pegar de surpresa os larápios. No "Cavaleiro das Trevas" Miller também passa o tempo todo nas entrelinhas querendo justificar essa estranha mania de Bruce Wayne. A essas alturas do campeonato não cabem mais explicações, uma vez que a única razão que Miller recebeu a encomenda da renovação dos roteiros da Marvel e da DC foi o fato dos justiceiros em questão serem super-heróis consagrados, e para tal eles têm como obrigação contratual de se vestir de maneira diferente.

Ironicamente, a abordagem mais séria sobre o Cruzado de Capa continua sendo o seriado de televisão dos anos 60, que era quase uma sátira dos quadrinhos, e piscava o olho a todo tempo para nós pequenos telespectadores com os seus POWs, SOCs e BONCs. Ao menos respeitava a fantasia delirante que era alguém sair vestido daquele jeito para espancar bandidos.

Os primeiros Batmans do cinema fizeram um mezzo mussarela, mezzo calabresa, seriedade com gracinhas. Zera tudo e começa a fase Miller com o Batman Begins, que é na verdade o início do "Cavaleiro das Trevas", título desse segundo. Mas o filme é bom, porque pelo menos existe um território ético reconhecível em comum com as personagens ao qual podemos nos reportar. Em Sin City, onde os super-heróis são de fabricação caseira do próprio Miller, o vale-tudo amoral se torna cansativo mais ou menos aí pela metade do filme.

Vem aí o novo 007 do galego-cangaceiro Daniel Craig, e tem nome escalafobético: Quantum of Solace. Acho que eu já disse aqui que esse corisco-diabo-louro tem mais cara de vilão do que de Bond. Em "Estrada para a Perdição" ele está perfeito no papel de mafioso mais canalha do que Capone. Escolha desinfeliz essa de tirar Pierce Brosnan. Mas se tinha de tirar, seria melhor ter botado vovô Sean Connery de volta do que esse Danny boy. Qualé, fizeram pesquisa de mercado? Alguém deveria ter alertado ao cara do cast que James Bond "is tall, and he is dark, and like the shark, he looks for trouble, that's why the zero is double...". Dark, no sentido de cabelo preto como as asas da graúna, e tall no sentido de elegante. Pra mim, assim como Val Kilmer como Batman, não colou. Por favor, não mudem o lay-out dos nossos heróis!

Mas justiça seja feita: pelo menos, da letra da canção, sobrou para Craig o "like the shark"...

domingo, junho 15

ARS GRATIA ARTIS

ARS GRATIA ARTIS, arte gratuita, arte pela arte, arte não engajada, a quimérica inscrição na vinheta do Leão da Metro, que na minha humilde arrogante opinião deveria ser o lema de todos os estúdios cinematográficos. Quimérica porque há controvérsia, há quem diga que não há arte desengajada. Mas isso é assunto para beber muitas cervejas em acirrado debate com a sofisticada e iluminada mente de Roma, o nosso guitarrista solo da Creedence Cover.


De qualquer forma, sábado cheguei cedo em casa, depois de ir pro aniversário da avó de Michel, o nosso baixista, e botei no dvd nada mais nada menos do que "Os Dez Mandamentos". Três horas e meia deveriam ser suficientes para me dar sono. Com overture, intermission e exit music, tudo a que tem direito uma longa superprodução dos anos 50. "Doutor Zhivago" e "E o Vento Levou" também têm essas bossas.


Era um filme obrigatório em época de Semana Santa nos meus tempos de menino. Como não existiam videolocadoras e nenhuma emissora de tv ousava botar no ar um filme tão longo (pelo menos não aqui no Brasil: em "Contatos Imediatos do III Grau" os filhos de Richard Dreyfuss o assistem na sessão da tarde), era a única oportunidade de rever a cena mais espetacular jamais filmada em todos os tempos, que era, claro, a abertura do Mar Vermelho. Abertura e fechamento em cima das carruagens do filho da puta do faraó. Eu até pensei que agora iria achar o efeito especial risível, mas não, ainda me faz, e fez, ficar boquiaberto. Continua sendo, portanto, porque foi filmado mesmo de verdade, e não gerada em computador. Em 1956 a mãe de Bill Gates ainda era uma adolescente que começava a suspirar por Elvis, recém saído do anonimato.

Mas eis que, à semelhança do cajado de Moisés que turva as límpidas águas do Nilo com sangue, uma sombra se espalha pelo filme como a névoa da morte pelas rua do Egito. Antigamente, quando o filme era muito importante, o próprio diretor aparecia no trailer para apresentar o filme. Hitchcock fez isso no trailer de "Psicose". Cecil B. DeMille, não satisfeito em apresentar o trailer, arvorou-se também a apresentar o filme. Sai de trás de uma imensa cortina, e, reconhecendo ser um procedimento incomum, faz um pequeno discurso de abertura depois da tal música da overture. Pelo menos no meu dvd, não me lembro dessa faceta do véio no cinema. Vai ver cortaram aqui no Brasil, era vaia na certa. Depois de um blábláblá sobre os historiadores antigos que ajudaram a compor a história da juventude de Moisés, ele diz que o tema do filme é o nascimento da liberdade. Se os homens devem ser governados pela vontade de ditadores, no caso Ramsés, ou pela lei de Deus. Ou se os homens são propriedade do Estado, no caso o Egito, ou se são almas livres, submissos só ao Senhor. E que essa questão ainda está em pauta hoje em dia, no caso a década de 50, o auge da Guerra Fria. Uma estocada evidente na Rússia comunista. E, claro, ele quer dizer subliminarmenteque os homens livres que não são propriedade do Estado são os que vivem nos Estados Unidos da América.

Ô, Cecil, meu véio, até concordo com você politicamente, pelo menos no que concerne à tutela do Estado, pois nem acho que a América seja lá essas pregas de Odete todas em matéria de democracia. Taí JFK que não me deixa mentir, sem falar no estranhíssimo sistema eleitoral para presidente. Mas não precisava estragar a inocência de um dos filmes mais puros e altruístas da minha doce infância. Assistir aos Dez Mandamentos era como participar de uma liturgia. Não se jogava saquinho de pipoca amassado na cabeça de ninguém durante a sessão. Saíamos, depois daquela sacrossanta maratona cinematográfica, de alma contrita e circunspecta, e demorava algum tempo até voltarmos a dizer palavrões uns com os outros.

A partir daí eu comecei a procurar chifre em cabeça de cavalo. Moisés, que quando soube que era hebreu e não egípcio, abandonou o palácio e foi trabalhar na lama com os escravos, passou a ser um concessão ao racismo étnico americano. Porque lá nos States, uma vez flamengo, flamengo até morrer. E eles transformaram Nefertiti em uma verdadeira quenga pra poder justificar que Moisés não livrou a barra do filho dela na passagem do Anjo da Morte. Farisaísmo puritano.

E tem também outras coisas, não relacionadas com a visão americana do mundo mas com a história em si, que o distanciamento provocado pelo discurso de Cecil me fez matutar. Por que raios Moisés não voltou à tribo de Ismael, que o acolheu tão gentilmente e lhe forneceu casa, comida, roupa lavada, cartão de crédito e até uma dedicada esposa, para incluí-los na caravana do êxodo em busca da Terra Prometida? Esse simples gesto de gratidão teria evitado a eterna guerra no Oriente Médio dos palestinos contra os judeus, e ainda hoje poderíamos visitar New York avistando ao longe, de cima da ponte do Brooklin, as imponentes Torres Gêmeas.

Uma outra coisa que o ceticismo me propiciou foi a crença que saquei o momento exato em que Spielberg teve a idéia do argumento do "Caçadores da Arca Perdida": na fala final de Moisés antes de se separar do povo, recomendando o que se poria dentro da Arca da Aliança. Essa pretensão minha foi um momento divertido, mas que o filme ficou pra mim com um indisfarçável ranço macartista, isso ficou. Não é à toa que Charlston Heston é hoje o presidente da National Rifle Association. Cruz credo, vade retro!

segunda-feira, maio 5

NINGUÉM MERECE ESSE OPALA

"Minha Vida Não Cabe Num Opala", último filme do sábado no Cine-PE, foi a pior metade de longa metragem de ficção que já vi na vida. Eu geralmente vejo filme ruim até o fim, pra ver no que vai dar, mas esse eu saí no meio, não consegui ver o resto. Até para os padrões brasileiros de excelência em ruindade, foi um recorde. Só não vaiei enquanto me retirava em consideração aos realizadores, que estavam na platéia. Mas me arrependi, deveria ter vaiado.