sexta-feira, dezembro 8

MOLIIIIIIIIIIINA, WHERE YOU'RE GOING TO?!?

Ainda outro dia eu caí na besteira (cair na besteira é comigo mesmo, sou um exímio caidor nas besteiras) de prometer à filha de sete anos de um amigo meu um gato. Ele me contou que ela vivia pedindo a ele, e eu, felinófilo perante o Eterno que nem Mardoux, na primeira vez que fui à nova casa dele, disse a ela que eu me encarregaria de arranjar um. Arranjar filhote de gato é relativamente fácil, nas ruas ao redor do meu prédio pululam gatos e gatas a dar com o pau, ou no caso, a atirar o pau. O problema é que eu tinha que parar, procurar, olhar embaixo dos carros e nas frestas dos muros dos terrenos baldios, levar uma caixa de papelão devidamente furada e arejada, tentar dar um bote num filhote mais crescidinho e desmamado, enfrentar a fúria da mãe dele, etc., e eu só passo nessas ruas ou indo correr a lazer ou correndo atrasado pro trabalho. Relativamente difícil. Mas fiquei sabendo que lá no jornal tinha um cara que tem uma conexão com uma rede de traficantes de gatos, ou antes, uma rede de adoção para bichos de estimação em geral, gatos inclusos. Ele me deu o telefone de uma mulher que estava doando gatos. Eu liguei e a mulher me disse pra eu ir pegar quando quisesse e quantos quisesse. Eu disse que ia à noite, depois do trabalho. Não podia ser tão fácil.

Era. Quando cheguei lá na casa dela, era gato, literalmente, pra todo lado. Coisa de uns vinte, de todas as raças, cores, credos e tamanhos. O marido dela me recebeu super bem e foi logo me apresentando ao cachorro dele, que depois fiquei sabendo que era uma cachorra, no bom sentido. Já foi imediatamente pegando uns gatinhos já crescidinhos e desmamados e botando na caixa devidamente furada e arejada que eu tinha levado, já que a oferta era grande eu resolvi levar dois, um pra menina e outro pro irmão mais novo. Não funcionou. Os gatos, dois simpáticos vira-latas, um branco malhado de preto e outro cinza mouriscado, eram os pés da besta, começaram a rosnar e brigar um com o outro e escapavam facilmente pelas tampas de papelão. A mãe dos gatos, bastante indignada com a celeridade e prestreza do marido em se livrar dos gatos, me perguntava o tempo todo pelos futuros anfitriões, se iriam cuidar bem, se gostavam de gatos, se já tinham criado gatos, e eu ia respondendo tudo afirmativamente, me lembrando que o meu amigo disse que a mulher dele tinha pavor a gatos, só tinha concordado por causa da insistência da menina. Já que na caixa não ia dar, ele me trouxe uma gaiola de madeira fechada, própria para levar gatos em viagens. Eles ficaram brigando e rosnando do mesmo jeito, mas agora não tinha escapatória. Aí ele disse, sorrindo e piscando um olho pra mim: por que você não leva um pra você também? Acendeu dentro de mim a luz vermelha da tentação. Olhei pra mulher, que concordou assim meio triste, e me disse que tinha uma gata siamesa muito dócil, excelente para apartamentos, já castrada, e que eu poderia levar também, se quisesse. Deixa eu ver. Foi quando vi Molina, siamesa e linda, sentada como uma estátua egípcia em cima de um microondas. Acariciei a cabeça dela e ela se tornou de imediato minha amiga de infância, era dócil mesmo. A mulher foi buscar um enorme cesto de botar roupa suja, daqueles de plástico, e o marido tratou de enfiar a gata dentro e amarrar com cordas de varal. Como é o nome dela? Ela nem nome tem ainda, deixaram ela aí na frente com um barrigão, aí eu peguei pra criar, e já dei todos os filhotes e mandei castrar. Por entre as grades da copa que dava pro pro quintal de trás, a cachorra estendia alegremente a pata para mim. Talvez o fosse também no mau sentido.

Pois agora é minha e vai se chamar Molina, título de música clássica do Creedence. Já com a gataria dentro do carro, Molina na frente morrendo de medo e os dois brigões se atracando no banco de trás, fui pra casa do meu amigo, onde, fui informado pelo celular, tinha dois pimpolhos insones esperando pelo bichos. Quando cheguei a menina já estava na porta de frente, e os dois olhinhos brilharam de felicidade. Quando despejei as duas pestinhas no chão da sala, os olhos se apagaram de decepção. Ela disse que não queria aquele gato de jeito nenhum, era um gato muito feio, mas qual deles, os dois são feios, mamãe, diga a ele que eu não quero, e agitava as mãos de nervosismo e fazia cara de choro. E agora? Vislumbrei a oportunidade de voltar ao meu bom senso: -então venha ver a gata que eu trouxe pra mim, se você gostar, pode ficar com ela. Não deu outra, paixão à primeira vista. O menino perguntou se podia ficar com os outros dois. A mãe disse que ia pensar.

No outro dia o meu amigo me disse que devolveu os dois filhotes à dona. Uma semana depois ele me disse que eu ia ter que ficar mesmo com Molina, pois a filha e até a esposa estavam adorando a gata, mas o menino, que era tão virado nos pés da besta quanto os gatinhos, estava prestes a cometer um gatocídio, a gata não podia vê-lo que corria pra se esconder. Resumo da ópera: alea "jagta" est.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

A gata tá com quem agora? :-)

9:23 PM, dezembro 08, 2006  
Blogger Blogart said...

Ainda tá sub-judice com o meu amigo. Breve vou buscá-la.

7:07 AM, dezembro 09, 2006  

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