sábado, maio 21

Expedições e descobertas ao sul do Equador

Deu no "New York Times On The Web" do dia 17 último: “Orgasmo das mulheres não ajuda a evolução da espécie, afirma pesquisadora. Para ela, o ápice do prazer feminino só tem um objetivo: diversão. Os cientistas nunca tiveram dificuldades em explicar o orgasmo masculino, já que é associado à reprodução. No entanto, a lógica darwiniana por trás do orgasmo feminino nunca foi elucidada. As mulheres podem ter relações sexuais e ficarem grávidas – fazendo sua parte na perpetuação da espécie – sem terem orgasmos.”

Really? No shit, Sherlock! Como se vê, o NY Times, além de ter levado o maior furo de reportagem de todos os tempos do Washington Post com o Watergate, ainda publica bobagens desse tipo de vez em quando. A Dra. Elisabeth Lloyd, filósofa da ciência e professora de biologia do Instituto Kinsey da Universidade de Indiana, poderia ter se poupado o trabalho de afirmar uma coisa que todo mundo já está careca de saber. Querer achar uma função evolutiva ou uma lógica darwiniana no orgasmo feminino é danado; nem Darwin, a bordo do Beagle a caminho de Galápagos, seria tão darwinista. Deixa as meninas gozarem em paz, doutora, elas que já são tão cheias de responsabilidades e duplas jornadas de trabalho. Se há mulheres que atingem a maturidade sem nunca alcançar um orgasminho de nada, imagine se começarem a acrescentar essas neuras na cabeça delas. Nem tudo na vida tem necessariamente que ter uma função utilitarista e pragmática. Afinal, a natureza inventou a fome, nós inventamos a culinária; a natureza inventou o sexo, nós inventamos o amor, a natureza faz barulho, nós criamos música. Portanto, fica-se estabelecido de uma vez por todas que o orgasmo masculino é engajado, assim como um mural de Siqueiros ou um poster de Che Guevara; e a gozada feminina é arte pela arte, gratuita e irresponsável, assim como as maçãs de Cezanne e as Marilyns coloridas de Andy Warhol. Ars Gratia Artis, ruge eternamente o leão da MGM!
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Muito mais interessante e instrutiva foi a minha pesquisa, que conduzi em plena redação do Jornal do Commercio, esse sim, um jornal que não publica bobagem, exceto eventualmente no espaço reservado às charges. Como se sabe, redação de jornal é um local infestado de jornalistas, e como também se sabe, jornalista é um bicho metido a sabedor das coisas, portanto um laboratório perfeito para a minha pesquisa de campo. Pois bem, minha culta e elegante leitora: você sabia que o seu marido pensa que você mija pela xoxota? É exatamente isso: segundo a minha pesquisa, 99% dos homens ignoram a existência da uretra feminina como um orifício independente do canal vaginal. A não ser que o seu amigo, namorado, marido, irmão, pai ou avô seja um ginecologista, ele nem desconfia disso. Já tive algumas namoradas e fui casado, mas confesso humildemente que só vim ter ciência desse fato em meados do ano passado, através de uma namorada mais desinibida que me informou, às gargalhadas, sobre essa terceira via. Não acreditei. Ela mostrou. Caramba, é verdade! Agora eu sei: fica exatamente acima da vagina propriamente dita, e imediatamente abaixo do clitóris. Convenhamos, situado assim bem no meio de celebridades de tal calibre, o destino desse buraquinho era mesmo ser papagaio de pirata, ilustre desconhecido que desponta para o anonimato. Por isso a princípio cheguei a desconfiar que estava diante de uma X-Woman, mas com o tempo me convenci que essas mutantes deveriam existir em bem maior número do que eu imaginava. E eu que me gabava pros meus amigos de saber a localização exata do ponto G.

É, minha gentil leitora, em vez de ficar bestificada e boquiaberta com a minha estupidez, saia por aí fazendo a sutil pergunta que eu fazia à queima-roupa a todo homem que entrava na nossa editoria de artes, para o rubor e desespero das mulheres mais tímidas: “Quantos buracos a mulher tem abaixo do umbigo?” O sujeito pensava um pouco, dava um risinho amarelo, olhava bem pra minha cara pra saber se eu estava de sacanagem, aí dizia candidamente: -Dois. E eu, triunfalmente: -Não: três. E mostrava a ele a ilustração esquemática no Google Imagem, estrategicamente escancarada num micro atrás de mim. A coisa se espalhou pela redação como um rastilho de pólvora, todas as editorias se postaram em pé de guerra. As mulheres acusavam os homens de desnaturados e insensíveis por não se importarem com os detalhes mais íntimos da anatomia feminina; os homens se defendiam dizendo que sempre que eles chegam perto demais elas apagam a luz com vergonha de não terem depilado os cantinhos. Por pouco o assunto não vira a manchete do dia seguinte, como se houvessem descoberto um novo planeta no Sistema Solar.
De nada adiantam todos os livros de biologia do colégio com ilustrações e setinhas indicativas, quase todo homem pensa que, assim como ele, a mulher faz xixi por onde faz sexo. E se ninguém tocar no assunto, ele vai continuar pensando assim pela vida afora. Muitos dos meus entrevistados, alguns casados e com filhas já crescidas, ficaram perplexos com a revelação e indignados com a própria ignorância; outros ficaram ressentidos com as mulheres por terem sonegado tão importante e vital informação durante tanto tempo. Teve um ou outro, porém, que recebeu a novidade com um estranho brilho no olhar e um sorriso beatífico nos lábios, como se estivesse a se descortinar diante dele um admirável mundo novo de possibilidades e fantasias.

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

TÁQUEOPAREU!
Atenção, galera! Não sabia???? Nunca percebeu???? Eu, hein.

Na minha 7a. série eu fiz um trabalho sobre o aparelho reprodutor masculino (e tirei 10), onde tinha um pinto enorme na capa, com o saquinho junto, tudo desenhado com hidrocor e com um monte de espermatozóides rosa-choque nadando em volta, ou saindo do dito. Meu professor de ciências morria de amores por mim, e quase chorou de emoção com a capa. Acho que se os meus coleguinhas machinhos tivessem feito a mesma coisa (podia ser lápis de cor ou giz de cera, qualquer um!), talvez essa situação não fosse tão crítica. APESAR que, de minha parte, sempre tive namorados conhecedores. Vai ver eles pintaram uns óvulos cor-de-laranja no caderno da 7a. série também.

Tô chocada.

12:48 PM, maio 23, 2005  
Anonymous Anônimo said...

...by the way, interessante a analogia do Cézanne...ficando a coisa mais artística, dá até mais inspiração, hehe

12:52 PM, maio 23, 2005  
Blogger Blogart said...

HAH! Valeu, Debbie! Vindo de uma ninja como tu eu fico todo besta!
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Mardygrassy, conhecedores de QUE exatamente? Acho bom tu refazer a pesquisa. Aliás, eu adoraria ouvir tu perguntar isso ao Cubanlover em espanhol...

9:22 PM, maio 23, 2005  
Blogger Blogart said...

Mi corazón, tu coñoces el buraquito?

9:25 PM, maio 23, 2005  
Anonymous Anônimo said...

HAHAHHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAH
ALTAMENTE BÔGUI!

3:41 PM, maio 25, 2005  
Blogger Blogart said...

Lembra de Flávia Gusmão? Aquela da coluna "Sexo@Cidade" que tu gosta tanto? Hoje eu e Janaína, outra jornalista de lá do Caderno C, fizemos a tal fatídica pergunta a ela. E ela: "Que eu saiba, dois."
Juro.

5:12 AM, maio 26, 2005  

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