quinta-feira, março 8

MURO BAIXO

Mais uma pretensão provinciana. Tá rolando um e-mail por aí, e chegou pra mim também, protestando contra a nova novela das oito da Globo (como quem escreveu foi uma mulher, o protesto consistia em boicotar apenas o primeiro capítulo da novela, e não a novela inteira) porque as cenas paradisíacas e tropicais do hotel, que na trama fica no litoral da Bahia, na verdade foram gravadas em Muro Alto, litoral sul de Pernambuco. Segundo a autora, é um desrespeito a Pernambuco e ao Nordeste (ela ironiza dizendo que os baianos não se consideram nordestinos) e que estão roubando (sic) nossas belezas naturais.


Como assim? Não entendi. Sinto muito, mas desta vez a Rede Globo de Televisão está coberta de razão. Não se trata de um documentário sobre o litoral do Nordeste, mas de uma obra de teledramaturgia de ficção. A coisa mais comum do mundo em cinema de ficção é rodar as cenas em um local fingindo que é outro. Assim, um filme cujo enredo se desenrola no Egito é rodado num deserto qualquer da Califórnia, uma batalha nas selvas do Vietnam é filmada nas florestas das Filipinas e uma nevasca na Sibéria pode perfeitamente ser filmada no Alaska. O filme Amadeus, que se passa em Viena, foi todinho rodado em Praga, porque lá ainda havia bairros inteiros em que se podia girar a câmera 360 graus e não se ver nada do Século XX. Não tomei conhecimento de vienenses protestando contra o roubo das suas belezas arquitetônicas.


Era só o que faltava. Como se a Globo fosse alguma agência promotora de turismo em geral e do turismo pernambucano em particular. Estamos pouco a pouco nos habituando com esse marketing subliminar, como se fizesse parte da rotina da vida e fosse a coisa mais normal do mundo. Alguns anos atrás Tasso Jereissati pagou a uma escola de samba do Rio pra ter o Ceará como tema e supostamente promover o turismo do estado, e não teve o menor pudor de esconder isso, mas divulgou aos quatro ventos, como se fosse uma grande sacada, quando na verdade foi prostituição pura e simples. Se a moda pega, o desfile vira um balcão de negócios, se é que não já virou.


A pernambucana autora desses e-mails deveria ter protestado algumas novelas atrás, quando a Globo, num surto inacreditável de baixeza jornalística, veiculou uma série de reportagens no Jornal Nacional sobre brasileiros ilegais nos Estados Unidos, como se fosse um assunto urgentíssimo e uma novidade alarmante, só pra promover uma novela que ia ser lançada com esse mesmo tema. Protestar como pernambucana, como cidadã brasileira e como ser humano. Aí sim, deveria se boicotar não só a novela inteira, mas também os noticiários e a emissora como um todo.

4 Comments:

Blogger Mandrey said...

Apoiado! E Riacho Doce? Quando "Nô" passava a vara na gringa amaldiçoada por "Vó Eduarda" eles quengavam nas areias de onde mesmo? Só sei que a globo vendia um lugar e era outro.

1:32 PM, março 09, 2007  
Blogger Mandrey said...

Este comentário foi removido pelo autor.

1:32 PM, março 09, 2007  
Blogger Micarla Xavier said...

Este comentário foi removido pelo autor.

2:34 PM, março 09, 2007  
Blogger Micarla Xavier said...

A novela 'O Clone' (de cu é rola) invadiu as praias de Natal, afirmando que as dunas pertenciam a um deserto d'algum canto estrangeiro. Detestei tal idéia, porque odiava o elenco e não gostava da trilha sonora!

Já "Tieta", quando teve suas filmagens natalenses, recebeu meus risos... Afinal, eu adorava Perpétua e a música de abertura de Luis Caldas!

Obrigada pela participação. Um beijo para a minha família, para as mongas e para você!

2:35 PM, março 09, 2007  

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