segunda-feira, setembro 18

PER SOGNI E PER CHIMERE E PER CASTELLI IN ARIA

Pouco antes de eu entrar de férias o editor do Caderno C me pediu uma caricatura de Machado Assis como dramaturgo. Fiz com prazer e com capricho, claro, pois é o meu autor predileto. Não sou tão versado nas suas peças como o sou nos seus romances, mas o título de uma delas sempre me chamou a atenção:
"Queda que as mulheres têm para os tolos".
Fiz alguma brincadeira sobre esse título com Fabiana Moraes, que era quem estava fazendo as entrevistas para a matéria (e cujo blog consta aí ao lado como AnnaBlackNery), e ela respondeu, entre galhofeira e pensativa: -Queda que as mulheres têm para os vagabas, rapaz... para os vagabas...!
Isso me remeteu imediatamente a uma cena da peça "Um sábado em 30", comédia de Luiz Marinho, quando Seu Severiano pergunta a Quitéria se ela preferia um homem trabalhador e honesto como ele ou um pilantra. E ela responde:
"-Um pilantra, Seu Severiano... um pilantra!"
Lembro também de uma cena de um filme de Woody Allen, não sei se "Play it again, Sam" ou "Annie Hall", Biamorim deve saber, em que a personagem dele se queixa que a esposa o deixou e fugiu com um motoqueiro e justificou que era porque ele a fazia rir. E Woody dizia: "-Ela quer passar o resto vida passeando de moto e gargalhando, passeando de moto e gargalhando...".
Jorge Amado imortalizou o tema em "Dona Flor e seus dois maridos". Flor casa com o honesto, mas o vagaba Vadinho continua assombrando as suas fantasias.
Não poderíamos esquecer de citar o clássico dos clássicos do confronto entre o cínico e o idealista em disputa pelo amor de uma mulher: Casablanca. Ingrid só vai embora no avião com o marido fiel depois de ser convencida a muito custo pelo vagaba Bogart.
Acho que cheguei a ponderar com Fabiana que talvez Machado quisesse dizer exatamente isso com o "tolo" do título, ou seja, tolo, vagabundo, pilantra, seria tudo a mesma coisa. De qualquer forma, não constitui exatamente uma novidade essa queda feminina pelos vagabas.
Qual seria a explicação para isso? Não sei. Com a palavra, as leitoras. Mas como não poderia deixar de ser, tenho cá minhas indefectíveis teorias, as quais são apenas hipóteses:

1- Sensação de liberdade: um vagaba supostamente pega menos no pé, pois ele próprio não é flor que se cheire.
2- Emoção da aventura: os vagabas são mais imprevisíveis e conduzem a vida de forma dissoluta e irresponsável.
3- Símbolo de status: os vagabas geralmente são muito populares e ficar com ele aumenta o prestígio no universo em que circulam.
4- Competição: como os vagabas são os mais cobiçados, ficar com ele significa uma vitória sobre as outras mulheres.
5- Auto-estima deficiente: Os vagabas geralmente não estão nem aí para a mulher dele, pois ele tem opções de sobra, o que gera um ciclo vicioso, quanto mais ela é desprezada, mais se apaixona. Naturalmente nesse caso o oposto também é verdadeiro, quando ela finalmente consegue domesticar o vagaba, ele perde o encanto e ela sai à procura de outro que lhe dê o devido desprezo.

É claro que isso é um compêndio de generalizações, há ainda muitas sutilezas na questão. Como, por exemplo, quando um mesmo cara pode ser um interessante e excitante vagaba para uma mulher e um enfadonho almofadinha para uma outra, pelo simples fato de estar apaixonado pela segunda e não dar a menor bola para a primeira. Enfim, as possibilidades do espírito humano são infinitas.

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Brilhante texto, meu ídolo! Só posso concluir que o tempo passa, o tempo voa, as pessoas evoluem, mas MULHER GOSTA MESMO É DE APANHAR! HUAHUAHUAHUAHUA

8:44 AM, setembro 20, 2006  
Blogger Blogart said...

Segundo Nelson, nem todas, só as normais...

12:40 PM, setembro 20, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Eu disconcordo de tudo, hahahahahhahahaha!

Eu adoro versar sobre o tema dos canalhas, e a missão suprema de transformá-los em carinhas legais, mas o espaço é pouco! Por isso, fico aqui com a citação poética da Casseta Popular e do Planeta Diário, na sutil e amável música "Mãe é mãe":

...Se você quer namorar
Ela quer ser sua amiga
Se você telefona aí é que ela nem te liga
Mas se você joga duro
Quando cruza por ela
Finge que não vê
Aí ela fica de quatro
Te pede um sapato
Quer casar com você!

Sabedoria popular.

bjs

2:02 PM, setembro 20, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Essa aí era eu.

2:03 PM, setembro 20, 2006  
Blogger Blogart said...

Oxe, disconcordou e desdisconcordou. O espaço é pouco por que? Tens todo o espaço do mundo, manda ver! Aliás, apesar de ter citado Nelson Rodrigues, eu disconcordo dele também: não existe mulher normal...!

11:32 AM, setembro 21, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Não foi em Annie Hall, com certeza.
:-)

9:31 PM, setembro 22, 2006  
Blogger Blogart said...

Terá sido em Manhattan?

4:41 AM, setembro 23, 2006  

Postar um comentário

<< Home