terça-feira, dezembro 20

A MORTE COMO ELA É

Estou eu outro dia tomando meu café da manhã às duas da tarde, e eis que liga a minha mãe querendo saber meu cpf e identidade. Mãe é mãe, dei sem pestanejar. "-Não se preocupe, é uma coisa boa". "-Espero que sim, né?" Ela riu e desligou. Dias depois fui almoçar na casa dela e as duas, mamãe e minha sobrinha Elis, ficaram me sacaneando dizendo que tinham comprado uma coisa que toda a família poderia usar, e se eu adivinhasse o que era eu poderia inaugurar. Aventurei os óbvios e os não tão óbvios, mas não cheguei nem perto, ou cheguei metaforicamente uma vez, segundo Elis, quando disse que era um passaporte para uma viagem. Mamãe perguntou se eu queria inaugurar assim mesmo, sem ter adivinhado. Claro que sim! Pois está aqui, fique à vontade: e me entregou um folder cheio de fotos coloridas de um cemitério. A tal coisa era um jazigo perpétuo para a família. Uma tal de "Morada da Paz", um cemitério desses que parecem um campo de golfe, com vastos gramados e plaquinhas no chão ao invés de túmulos de verdade. Vejam só, senhoras e senhores, de tanto eu falar aqui essas últimas semanas sobre onde e como eu queria ser enterrado, quis o destino e Dona Socorro, Mary Help para os íntimos, que eu fosse tirar a soneca final lá pras bandas de Olinda. E num pseudotúmulo. Será que eu seria atendido se pedisse, como último desejo, ser enterrado no de Santo Amaro mesmo, junto com o meu pai e os meus tios? Eis aí algo que provavelmente nunca saberei com certeza. Mas de qualquer forma a anedota já está correndo solta pela família, mamãe já pegou o meu irmão mais velho e a minha cunhada, e a próxima vítima deverá ser o meu irmão do meio. Mas pra dizer toda a verdade, não me importa muito onde serei enterrado, o que mais me entristece é o fato de que eu vou perder o meu próprio enterro, digo, como evento em si. É que na nossa família os enterros geralmente são muito engraçados. Chega todo mundo muito choroso e cabisbaixo no início, mas depois, conversa vai, conversa vem, e sempre se relembram fatos hilariantes e aos poucos a coisa toda vai virando zona. Naturalmente não muito perto dos mais interessados no defunto, para não parecer desrespeito. Às vezes nem precisa relembrar, a própria efeméride se encarrega de produzir a suas presepadas. Um dos últimos, bastante concorrido, de um dos nossos tios, um outro tio, irmão dele, segurava solenemente na alça do caixão, enquanto todos os outros presentes do cortejo fúnebre olhavam pra ele desconfiadíssimos. Foi socorrido por uma prima nossa que chegou correndo esbaforida, sorrindo amarelo, pediu mil desculpas e conduziu-o gentilmente para o enterro correto, lá do outro lado do cemitério.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Vou aproveitar os comments vazios pra te deixar aqui um Feliz Natal, nego!!!! Muito sucesso aí com tudo, tá? Fofocaremos mais (e sempre) em 2006! Até lá, meet me at the beach...(Ipanema, posto 9, entre a Vinicius e a Joana).

BESO***

4:37 PM, dezembro 22, 2005  
Blogger Blogart said...

Beleza, Neguinha linda, retribuo em dobro! Fofocas forever! Meet me between Segundo Jardim e o Acaiaca:*******

12:08 AM, dezembro 23, 2005  

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