terça-feira, julho 19

THE SUNNY SIDE OF THE STREET

Desisti definitivamente de ser infeliz quando, na adolescência, li Sartre. Ou, pra ser mais exato, quando li na contracapa de uma edição de "A Náusea" (Editora Record, se não me engano) Sartre declarando que, do ponto de vista estritamente literário, "A Náusea" foi o que ele de melhor produziu. Hã?!? Como assim? Depois de negar o sentido de tudo, de demolir impiedosamente a arte e o amor e reduzir a totalidade das coisas a um amontoado de formas indecifráveis, ele me vem fazer análises literárias? Mas que filho da puta! E eu lá sofrendo durante o livro todo feito um tabacudo. Ao escrever a derradeira frase ele teria que ter metido uma bala na cabeça, como Hemingway, e não ficar lambendo o prato em que cuspiu.
Kafka, cuja angústia se tornou um adjetivo universal, não suicidou-se, mas pelo menos no fim da vida ele pediu a Max Brod que queimasse todos os seus escritos. Max, obviamente, cometeu a indelicadeza de não atender a esse último desejo do amigo. A filosofia, no bom sentido original de ter tesão em raciocinar e prazer de chegar a alguma conclusão, morreu com os Iluministas, embora tenha quem diga que há traços de existencialismo no pré-kantiano David Hume. Depois que Kierkegaard deu o salto de fé para o vazio e Kant fez a crítica da razão pura, tudo virou, como disse Freud no seu epistolário, uma lamentável embrulhada intelectual. Pois quando eu, perplexo, li essa tal contracapa, embrulhei Sartre e sua náusea numa angústia só, mandei ambos pra putaquiupariu e fui passear de bicicleta na Jaqueira. Existencialismo my ass.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Nossa, que post invejável. :)
bjs

2:24 PM, julho 20, 2005  
Blogger Blogart said...

Merci!

6:00 PM, julho 20, 2005  

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