NÃO ACREDITO MAIS NO FOGO INGÊNUO DA PAIXÃO
Olhe, cá pra nós, esse tal desse Cordel do Fogo Encantado é pernambucanidade demais pro meu gosto. Ontem uma cliente minha adiou um encontro porque amanhã vai ter um show deles num sei onde. Ainda bem que ela não me chamou. Vou nada! Já caí nessa uma vez no carnaval de 2003, pra nunca mais. Uma amiga com a qual eu pinotava o tríduo momesco do referido ano me arrastou pra Rua da Moeda pra ver os famosos rapazes de Arcoverde. Credite-se a favor deles que o nome da trupe até que é curioso e chamativo, eu imaginei que iria assistir um espetáculo assim meio fantástico, com dragões botando fogo pelas ventas e serpentes gigantes encantadas, e tudo ao som de uma música acid-trip-armorial-olodum-manguebeat, numa espécie de Flauta Mágica sertaneja. Ao chegarmos a duríssimas penas numa distância razoável do palco, porque no carnaval qualquer bêbado batendo numa lata arrasta uma multidão, ouvi uns chocalhos chocalhando, umas zabumbas zabumbando, e aí um cidadão desandou a declamar poesia de cordel e jurou aos seus deuses não parar mais. Eu até que gosto de literatura de cordel, tenho folhetos e livros, e lia mesmo de verdade como consumidor autêntico quando era criança e morava no interior. Mas passar duas horas ouvindo um sujeito declamando cordel é mais ou menos como ir a um show de blues, daquele blues bem blues mesmo, tipo B. B. King. A primeira música é do caralho, a segunda é beleza, a terceira, bem, oxe, e nós não acabamos de aplaudir essa música e eles vão começar tudo de novo? mas tudo bem, blues é assim mesmo, três acordes só, né, é massa, na quinta a gente começa a se mexer na cadeira, na décima a gente joga a cadeira na cabeça do guitarrista, esmurra o garçon e sai correndo pro carro.
Acresce que o declamador do Cordel do Fogo Encantado, que tem o sugestivo e lírico nome de Lirinha, declama principalmente poemas de lavra própria, que são devaneios poéticos de um jovem de classe média. Ou seja, clássicos como "A Chegada de Lampião no Inferno" e "A Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho", que é bom, nada. A minha amiga, porém, tudo sorvia e absorvia embevecida e feliz, hipnotizada com o seu tom inflamado e messiânico. Exibia previamente nos lábios um cândido sorriso de aprovação, encharcada com a pureza daquela fonte de águas claras e profundas que vinha do interior. Eu, na falta de coisa melhor pra fazer, inventariava mentalmente os prós e os contras de aprofundar o meu relacionamento com aquela criatura tão fogosamente encantada, e o meu fogo foi desencantando, desencantando, até que se extinguiu completamente.
Acresce que o declamador do Cordel do Fogo Encantado, que tem o sugestivo e lírico nome de Lirinha, declama principalmente poemas de lavra própria, que são devaneios poéticos de um jovem de classe média. Ou seja, clássicos como "A Chegada de Lampião no Inferno" e "A Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho", que é bom, nada. A minha amiga, porém, tudo sorvia e absorvia embevecida e feliz, hipnotizada com o seu tom inflamado e messiânico. Exibia previamente nos lábios um cândido sorriso de aprovação, encharcada com a pureza daquela fonte de águas claras e profundas que vinha do interior. Eu, na falta de coisa melhor pra fazer, inventariava mentalmente os prós e os contras de aprofundar o meu relacionamento com aquela criatura tão fogosamente encantada, e o meu fogo foi desencantando, desencantando, até que se extinguiu completamente.
13 Comments:
AHAHAAHAHHAHAHAHAHHA Alienígena! Como é que tu não gosta de Lirinha recitando?
Sabia que eu nunca o ouvi e já não gostei? hehehe Até hj sentia um pouco de constrangimento por isto. Mas já vi que eu sou normal, eu sou normal(batendo nas grandes da casa rosa).
Ó, ainda bem que a pobre desencantada não aporta por esses mares pretos de blog (ou aporta?).
Tb nunca ouvi, mas já ouvi falar, e muito. Faz um sucessinho por aqui, shows no teatro rival e etc, mais porque o tal Lirinha namora a Leandra Leal, que é filha da Ângela, que é dona do teatro. Muita badalação, muito baixo gávea, mas ouvir mesmo, nunca.
Bia, endoidou de vez? Claro que tu já viu Lirinha! Tu num lembra que quando a gente foi ver a ópera "Carmen" no Teatro Santa Izabel, antes da abertura teve aquele cara declamando por séculos a fio? É o próprio. Eu tava já pra descer do camarote e dar umas tapas nele, só não fiz isso porque ele teve o bom alvitre de encerrar com um poema de Cabral.
Ainda Bia: acho que quiseste dizer "batendo nas grades da Casa Verde". É, não endoidaste, apenas pioraste.:P
Pam, ela agora navega em outros mares, e se aporta, nunca se pronunciou. Lembra da Pink Girl? Foi ela.
Ainda Mardy: Li no JC que a trupe do Cordel do Fogo mudou-se pra São Paulo. Ou foi pro Rio? De qualquer forma, como dizia o sábio Quintana lá do Rio Grande, esse negócio de se mudar pro Rio de Janeiro é coisa de provinciano.
Debbie: eu sempre te entendi, tu é que nunca me entendeste.
Deve ter sido pra São Paulo, pq a namorada (a leandra) tb se mudou pra lá. Aliás, toda a gente chata do Brasil podia resolver logo e se mudar pra São Paulo, ia ser beeeem mais prático.
(que não me ouçam as colegas paulistinhas)
Leandra, mas que nome! Certa vez o Pasquim publicou uma capa que continha apenas e tão somente essa manchete em letras pra lá de garrafais: TODO PAULISTA É BABACA!
Ei minino, aqui em Olinda a casa era rosa. Mas nem sei o que tem lá agora, já que não tem mais doido... Fiquei curiosa.
E mais... Tu visse Carmen num dia e eu no outro. E neste outro, Lirinha nao tava dentro.. hehe
bjs
Eu pensei que tu se referia à Casa Verde do Alienista, uma vez que me chamaste de Alienígena. Que sarapatel!
Ah, é mesmo. Na verdade eu vi a Carmen todos os dias. Olé!
Então se não foi na Carmen, foi no Elixir do Amor.
Atenção todos os carros! Atenção todos os carros! Mardoux voltou a postar! Round up the usual suspects!!!
só testei, pô.
que coisa...
Deixa de frescura e escreve logo!
Maktub, como diria seu grande mestre. Está escrito.
heheheh
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