ARCO-ÍRIS DOS DALTÔNICOS
Mais uma passeata gay, dessa vez na terra de Mardoux. Pra variar, com diferença de contagem de participantes: a polícia como sempre diz menos, os organizadores como sempre dizem mais. No Galo da Madrugada e nas passeatas estudantis também é assim. Seinfeld costuma dizer que tem tudo pra ser gay: é cheio de frescuras, mora sozinho, se veste todo arrumadinho, etc. Mas quando perguntado por Elaine “don’t you think men are beautiful?” ele responde: “-No! I found them disgusting!” E com isso encerrou a questão.
O que leva alguém a ser homossexual? Penso que quem responder essa questão em definitivo deveria ganhar o Nobel de alguma coisa, de Estética ou de Medicina. Porque a alma humana acha sexy ou nojento um homem ou uma mulher é realmente uma questão digna de ser investigada. Volta e meia eu discuto esse assunto com amigos e familiares, e cheguei a algumas teorias inacabadas, de fios soltos. Mas de uma coisa já me convenci: não se trata de uma “opção sexual”. Esse rótulo, que se pensa ser politicamente correto porque pressupõe um convite à tolerância dos que não “optaram” por ser gay, na verdade está chamando o gay de burro. Aqui estão duas opções: ser heterossexual, que significa ser aceito e tido como normal pela grande maioria da sociedade; ou ser homossexual, que significa ser alvo de chacotas e piadas pelo resto da vida, ser rejeitado pelo pai e merecer piedade da mãe, desprezo dos irmãos e dos colegas, ter que adaptar-se a um ato sexual anatomicamente anti-natural, ter que esconder constrangedoramente os relacionamentos, que por sua vez são ainda mais difíceis e complicados do que já são normalmente a relação entre duas pessoas de sexo oposto, bom, e por aí vai, todo mundo sabe a barra que é. Claro que isso são linhas gerais, mas ainda assim todo gay hoje em dia assumido, feliz em seu relacionamento e respeitado por todos antes teve que passar por uma ou mais situações desse tipo até se firmar e se impor. E aí voltamos ao início: por que raios alguém iria optar por passar por tudo isso de livre e espontânea vontade? Ninguém avisou a ele antes? Onde ele estava morando todo esse tempo, em Marte? É totalmente contra a natureza humana escolher o caminho mais difícil. Se se trata de uma opção, então os dois caminhos seriam de peso igual, nenhum fator externo inclinaria o rapaz ou a moça a optar por essa ou aquela orientação sexual, seria uma decisão pura e simples. E eles escolheriam justamente essa? Acresce que quando se fala “opção sexual”, o resíduo que fica no imaginário é que um belo dia, ao escolher qual o curso que vai fazer no vestibular, o rapaz ou a moça aproveita esse ímpeto decisório e decide ser gay. Se nos voltarmos para dentro de nós próprios, lembraremos que não é bem assim, no jardim da infância já estava bastante definido em quem já tínhamos tesão, se no professor, na professora ou em ambos. As meninas um pouco mais tarde, os meninos um pouco mais cedo, mas é isso aí. O que complica ainda mais as coisas pro lado da teoria da “opção”: uma criança não tem cacife existencial pra fazer uma opção dessa magnitude, ainda mais quando sabemos que o universo infantil é infinitamente mais cruel com as pessoas diferentes. Conduzi, como de praxe, uma pequena pesquisa na redação entre os gays assumidos, e eles me disseram exatamente isso: nunca tiveram dúvidas que eram gays desde a mais tenra infância, mas ficavam apavorados com a idéia de alguém descobrir isso.
Voltaire fala sobre isso no seu “Dicionário Filosófico”, no verbete “Amor Dito Socrático”:
“A atração entre os dois sexos manifesta-se muito cedo; mas, apesar de tudo quanto se afirma das africanas e das mulheres da Ásia Meridional, essa tendência é geralmente mais violenta no homem do que na mulher; é uma lei que a natureza estabeleceu para todos os animais. É sempre o macho que ataca a fêmea. Os machos jovens da nossa espécie, educados uns com os outros, sentindo essa força que a natureza começa a fazer desabrochar neles e não achando o objeto natural para o seu instinto, deixam-se atrair para aquilo que mais se assemelha a tal objeto. Freqüentemente um rapazinho, pela frescura da pele, pelo garbo das suas cores e a meiguice do olhar, durante dois ou três anos parece mais um linda rapariga; se o amarmos, é porque a natureza se equivoca: prestamos homenagem ao sexo feminino, mostrando-nos rendidos a quem se adorna com as suas belezas, e, quando a idade faz desaparecer essa semelhança, a confusão finda.”
Alguns gays nunca aceitam que são gays, uns vão ser padres ou freiras, por motivos óbvios; outros casam e têm filhos e tentam levar uma vida “normal”, até que um dia a “opção” fala mais forte e caem em “tentação”. Todos nós conhecemos um ou mais casos do tipo. Outras teorias falam de referências femininas e masculinas, que quando o pai é repressor e a mãe é carinhosa, ou vice-versa, mãe dominadora e pai abestalhado, o menino vira gay e ou a menina lésbica.. Ou seja, Hitler era pra ser veado. E um filho dele com Eva Braun também seria. E Kafka, no caso, também era pra ser gay, mas infelizmente ele vivia se apaixonando por mulheres. Mas, replicam os partidários dessa teoria, nem sempre funciona, depende de muitos outros fatores, assim como as características de um signo dependem da hora do nascimento, do signo ascendente, etc. Então a teoria é tão boa ou tão ruim quanto qualquer outra, e poderia muito bem nem existir que não faria falta. Um sujeito que tem um pai militarista e repressor pode admirar o pai e imitá-lo, ou odiar o pai e virar um hippie liberal; um cara mimado pela mãe pode se tornar um chato para a esposa, porque vai querer ser mimado também o resto da vida. Não consigo ver nenhuma conexão na vida prática que leve alguém a ser gay por causa disso. Freud, aquele senhor que passou a vida inteira a cascavilhar o inconsciente alheio, diz que o homem que é obviamente o preferido da mãe desenvolve um sentimento de segurança na vida, e que dificilmente deixa de ser bem sucedido com os empreendimentos em geral, sejam profissionais ou sentimentais. Não falou em virar gay, muito antes pelo contrário, parece que aí é que o Édipo aflora mesmo.
Digamos que um ser de outro planeta viesse fazer anotações por aqui. Ele escreveria que existem duas forças poderosas que fazem os animais saírem da toca, a fome e o sexo, que ao fim e ao cabo são forças que visam a reprodução e a perpetuação das espécies. Anotaria em seu caderninho também, observador como todo cientista que se preza, que em todas as épocas em todas as tribos dos primatas humanos existe uma pequena, porém barulhenta, parcela de indivíduos que não foram destinados a reproduzir, pelo simples fato de que eles transam com pessoas do mesmo sexo, ato que não gera descendentes. Resta saber qual seria o gatilho da natureza que acionaria o crescimento ou diminuição dessa parcela não reprodutora, por mais que seja doloroso e humilhante para os humanos uma interferência tão íntima da Natureza na natureza deles. A escassez de alimento para a tribo seria a mais provável. Mas aí seria necessário verificar se as tribos mais ricas teriam menos gays, e se as mais pobres mais gays. Ou seja, em San Francisco deveria ter menos gays que na Etiópia, e aparentemente é o oposto, daí as pontas soltas dessa teoria. Mas temos também aí elementos culturais e religiosos que camuflariam a estatística, e a coisa começa a complicar. Mas de uma forma ou de outra, é muito provável e plausível que esse gatilho seja inato, e que alguém se vangloriar de ser heterossexual equivale em estupidez a alguém se vangloriar de ter nascido branco e de olhos azuis. E que alguém que nasce homossexual não deveria se sentir mais culpado do que alguém que nasce, digamos, daltônico.
O que leva alguém a ser homossexual? Penso que quem responder essa questão em definitivo deveria ganhar o Nobel de alguma coisa, de Estética ou de Medicina. Porque a alma humana acha sexy ou nojento um homem ou uma mulher é realmente uma questão digna de ser investigada. Volta e meia eu discuto esse assunto com amigos e familiares, e cheguei a algumas teorias inacabadas, de fios soltos. Mas de uma coisa já me convenci: não se trata de uma “opção sexual”. Esse rótulo, que se pensa ser politicamente correto porque pressupõe um convite à tolerância dos que não “optaram” por ser gay, na verdade está chamando o gay de burro. Aqui estão duas opções: ser heterossexual, que significa ser aceito e tido como normal pela grande maioria da sociedade; ou ser homossexual, que significa ser alvo de chacotas e piadas pelo resto da vida, ser rejeitado pelo pai e merecer piedade da mãe, desprezo dos irmãos e dos colegas, ter que adaptar-se a um ato sexual anatomicamente anti-natural, ter que esconder constrangedoramente os relacionamentos, que por sua vez são ainda mais difíceis e complicados do que já são normalmente a relação entre duas pessoas de sexo oposto, bom, e por aí vai, todo mundo sabe a barra que é. Claro que isso são linhas gerais, mas ainda assim todo gay hoje em dia assumido, feliz em seu relacionamento e respeitado por todos antes teve que passar por uma ou mais situações desse tipo até se firmar e se impor. E aí voltamos ao início: por que raios alguém iria optar por passar por tudo isso de livre e espontânea vontade? Ninguém avisou a ele antes? Onde ele estava morando todo esse tempo, em Marte? É totalmente contra a natureza humana escolher o caminho mais difícil. Se se trata de uma opção, então os dois caminhos seriam de peso igual, nenhum fator externo inclinaria o rapaz ou a moça a optar por essa ou aquela orientação sexual, seria uma decisão pura e simples. E eles escolheriam justamente essa? Acresce que quando se fala “opção sexual”, o resíduo que fica no imaginário é que um belo dia, ao escolher qual o curso que vai fazer no vestibular, o rapaz ou a moça aproveita esse ímpeto decisório e decide ser gay. Se nos voltarmos para dentro de nós próprios, lembraremos que não é bem assim, no jardim da infância já estava bastante definido em quem já tínhamos tesão, se no professor, na professora ou em ambos. As meninas um pouco mais tarde, os meninos um pouco mais cedo, mas é isso aí. O que complica ainda mais as coisas pro lado da teoria da “opção”: uma criança não tem cacife existencial pra fazer uma opção dessa magnitude, ainda mais quando sabemos que o universo infantil é infinitamente mais cruel com as pessoas diferentes. Conduzi, como de praxe, uma pequena pesquisa na redação entre os gays assumidos, e eles me disseram exatamente isso: nunca tiveram dúvidas que eram gays desde a mais tenra infância, mas ficavam apavorados com a idéia de alguém descobrir isso.
Voltaire fala sobre isso no seu “Dicionário Filosófico”, no verbete “Amor Dito Socrático”:
“A atração entre os dois sexos manifesta-se muito cedo; mas, apesar de tudo quanto se afirma das africanas e das mulheres da Ásia Meridional, essa tendência é geralmente mais violenta no homem do que na mulher; é uma lei que a natureza estabeleceu para todos os animais. É sempre o macho que ataca a fêmea. Os machos jovens da nossa espécie, educados uns com os outros, sentindo essa força que a natureza começa a fazer desabrochar neles e não achando o objeto natural para o seu instinto, deixam-se atrair para aquilo que mais se assemelha a tal objeto. Freqüentemente um rapazinho, pela frescura da pele, pelo garbo das suas cores e a meiguice do olhar, durante dois ou três anos parece mais um linda rapariga; se o amarmos, é porque a natureza se equivoca: prestamos homenagem ao sexo feminino, mostrando-nos rendidos a quem se adorna com as suas belezas, e, quando a idade faz desaparecer essa semelhança, a confusão finda.”
Alguns gays nunca aceitam que são gays, uns vão ser padres ou freiras, por motivos óbvios; outros casam e têm filhos e tentam levar uma vida “normal”, até que um dia a “opção” fala mais forte e caem em “tentação”. Todos nós conhecemos um ou mais casos do tipo. Outras teorias falam de referências femininas e masculinas, que quando o pai é repressor e a mãe é carinhosa, ou vice-versa, mãe dominadora e pai abestalhado, o menino vira gay e ou a menina lésbica.. Ou seja, Hitler era pra ser veado. E um filho dele com Eva Braun também seria. E Kafka, no caso, também era pra ser gay, mas infelizmente ele vivia se apaixonando por mulheres. Mas, replicam os partidários dessa teoria, nem sempre funciona, depende de muitos outros fatores, assim como as características de um signo dependem da hora do nascimento, do signo ascendente, etc. Então a teoria é tão boa ou tão ruim quanto qualquer outra, e poderia muito bem nem existir que não faria falta. Um sujeito que tem um pai militarista e repressor pode admirar o pai e imitá-lo, ou odiar o pai e virar um hippie liberal; um cara mimado pela mãe pode se tornar um chato para a esposa, porque vai querer ser mimado também o resto da vida. Não consigo ver nenhuma conexão na vida prática que leve alguém a ser gay por causa disso. Freud, aquele senhor que passou a vida inteira a cascavilhar o inconsciente alheio, diz que o homem que é obviamente o preferido da mãe desenvolve um sentimento de segurança na vida, e que dificilmente deixa de ser bem sucedido com os empreendimentos em geral, sejam profissionais ou sentimentais. Não falou em virar gay, muito antes pelo contrário, parece que aí é que o Édipo aflora mesmo.
Digamos que um ser de outro planeta viesse fazer anotações por aqui. Ele escreveria que existem duas forças poderosas que fazem os animais saírem da toca, a fome e o sexo, que ao fim e ao cabo são forças que visam a reprodução e a perpetuação das espécies. Anotaria em seu caderninho também, observador como todo cientista que se preza, que em todas as épocas em todas as tribos dos primatas humanos existe uma pequena, porém barulhenta, parcela de indivíduos que não foram destinados a reproduzir, pelo simples fato de que eles transam com pessoas do mesmo sexo, ato que não gera descendentes. Resta saber qual seria o gatilho da natureza que acionaria o crescimento ou diminuição dessa parcela não reprodutora, por mais que seja doloroso e humilhante para os humanos uma interferência tão íntima da Natureza na natureza deles. A escassez de alimento para a tribo seria a mais provável. Mas aí seria necessário verificar se as tribos mais ricas teriam menos gays, e se as mais pobres mais gays. Ou seja, em San Francisco deveria ter menos gays que na Etiópia, e aparentemente é o oposto, daí as pontas soltas dessa teoria. Mas temos também aí elementos culturais e religiosos que camuflariam a estatística, e a coisa começa a complicar. Mas de uma forma ou de outra, é muito provável e plausível que esse gatilho seja inato, e que alguém se vangloriar de ser heterossexual equivale em estupidez a alguém se vangloriar de ter nascido branco e de olhos azuis. E que alguém que nasce homossexual não deveria se sentir mais culpado do que alguém que nasce, digamos, daltônico.
13 Comments:
pombas!
Laudas e laudas!
Vou ler depois do jogo!
Preguicite aguda, reclama agora que tá tudo parado!
Brasil 4 X 1 na arGENTINHA! Juninho Pernambucano do Sport quase faz o quinto!!!
Deu a bixiga lixa. Que post grande. :P
Mas concordo, concordo..
Eita, eu li isto no Voltaire que tu me desse. Engraçadissimo. :P
E tou lendo Ortega y Gasset! E tricotando um cachecol novinho.. hihihi
Poste tem que ser comprido. Tu já lesse o Dicionário todo, foi danada? Isso é que é traça. Ortegasset ainda não me pegou pela gola da camisa e me sentou no sofá.
Assim como Ruy Castro também não te pegou com o anjinho pornográfico. EHEHE (Não ia perder a oportunidade).
Perco o amigo, mas nao perco a piada... Ou o livro! AHAHAHA Huuu
Eu, como S do movimento GL, digo que as mulheres adoram seus amigos gays. :P Inclusive faço parte de uma comunidade no orkut. :P
GLS: Gays, Lésbicas e Suspeitos.
AHAHAHAHA Eu sou muito suspeita! HAHAHA
Tks, Debbie! Mas nem todos os gays concordam com essa minha tese, alguns ainda pensam que podem "converter" heteros aos gloriosos caminhos da bichice. Não é à toa que eles se autodenominam "entendidos", ou seja, quem não é gay é porque ainda não foi iluminado pelas luzes da razão. Paciência, tomemos isso como um necessário mecanismo de defesa num mundo hostil.
ê, lelê!
Só hoje que sentie direito na cadeira pra ler seu "discurso acerca da homossexualidade humana" (FALCAO, M. Op. Cit.)
Eu achei tudo legal e tal, mas acho que sobre a sexualidade humana, tirando Freud, (que devia dormir chupando o dedo) ninguém tem muito a acrescentar, que não seja na sua própria. Já cansei de bater boca com gay amigo (não tenho amigas lésbicas...que eu saiba) sobre a questã, e há de se convir que, além de homem não entender mulher, homem não entende veado, mulher não entende veado, homem, papagaio...Ou seja, achei legal de sua parte discorrer sobre o tema e coisa e tal, mas o melhor mesmo é que as pessoas do mundo saibam que vale tanto botar aquilo naquela quanto aquilo naquilo outro. O que não pode é proibir gente de escolher o que fazer com seu próprio negócio. E enquanto isso, ficar roubando dinheiro, cobrando da áfrica, aparecer de olho roxo pra se fazer de bonzinho....ENFIM!
Viva o casamento homossexual! Diga não aos padres comedores de criancinha.
beso*
Só me resta mais uma vez citar Millôr (é uma citação, viu Mardy? a frase não é minha!), o filósofo do frescobol de Ipanema:
"Sou totalmente a favor de uma liberdade sexual ampla, irrestrita e sem preconceitos, desde que não venham com viadagem pro meu lado."
Não entendi essa de Freud dormir chupando o dedo. Explanation please. E homem entende mulher sim, desde que não esteja apaixonado por ela...
eita..q teve gente q se empolgou escrevendo sobre homossexualismo..
hehehehehe..pano p manga eh o q n falta..;P o problema eh disposição p ler isso td..vai ser a prestação..;D
beijos tio sukita!!
Mas olha só quem deus as caras finalmente por aqui!!!
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