sábado, março 26

Perdidos no Espaço

Ontem, out of the clear blue sky, resolvi criar no Orkut uma comunidade chamada "Odeio Astrologia". E criei mesmo, mas quando fui adicionar comunidades correlatas, descobri que existe uma co-irmã chamada "Odeio Astrologia e Misticismo", com 130 participantes. Deletei imediatamente a minha, não sem um pouco de pena, pois a description era um primor: "Para homens que ficam meio broxa quando uma mulher diz que é meio bruxa". E acabei me tornando o membro 131. Fiquei perplexo, bestificado, boquiaberto e estupefacto em saber que há mulheres (algumas até bonitas!) que também têm ímpetos homicidas quando alguém lhe pergunta no meio de uma conversa: -qual é o seu signo? Enfim, uma comunidade que dá prazer de ler e escrever. Além da "Capitão Gancho", evidentemente.
Corta rápido do espaço astrológico para o cinematográfico. Como "Ray" tinha saído de cartaz do Tacaruna e do Shopping Recife, e eu não tinha como checar se ainda estava passando no Box Guararapes ou no Boa Vista, resolvi passar a Sexta da Paixão revendo o "2001, Uma Odisséia no Espaço" de Stanley Kubrick. Aí peguei o embalo e revi também o "Alien" de Ridley Scott. Pergunta que não quer calar: quando é que alguém vai ousar inovar a estética que Kubrick definiu para o espaço em 1968 com o "2001"? Até então tínhamos "Perdidos no Espaço" e "Jornada nas Estrelas", com suas naves lisas e aerodinâmicas. Kubrick sacou, craru cróvis, que, além de não ter nem pé nem cabeça, no espaço não tem ar, portanto as naves podem ter uma forma qualquer sem preocupações aerodinâmicas e com miríades de saliências e reetrâncias. Pronto, caiu a ficha de todo mundo. O "Star Wars" (1977) de George Lucas pede a bênção o tempo todo ao filme de Kubrick. Até a roupa dos rebeldes liderados por Skywalker é igual ao uniforme vermelho-berrante-kubrickiano do astronauta sobrevivente, só que eles botaram laranja-berrante pra disfarçar. Os takes em close das naves do Império passando lentamente por cima das nossas cabeças é tal e qual aqueles que levam a nave de HAL-9000 em missão pra Júpiter. E, pasmem, a esférica Estrela da Morte parece que foi simplesmente arrancada da frente dessa mesma nave e transportada pro hiperespaço de Alderan. Descaramento mandou lembrança.
Já "Alien" (1979)é bem mais original nos ambientes interiores, porque Ridley Scott contratou um artista plástico surrealista e o quadrinista Moëbius, mas por fora continuou tudo como dantes na espaçonave de Abrantes, filhota de Kubrick, e a explosão da nave Nostromo no final até faz uma gracinhas coloridas a la Douglas 2001 Trumbull indo para o infinito e o além. No "Blade Runner"(1982) não há realmente ambientação no espaço nem naves espaciais, só veículos voadores. Spielberg também não é lá muito criativo no visual espacial do seu "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (1977) e nem com "E.T." (1982), embora o design antiquado da nave do E.T. não remeta a "2001", mas a qualquer coisa tipo nave espacial de Marvin the Martian da turma do Pernalonga, porque afinal o E.T. era bonzinho. E continuamos sem surpresas. Ele bem que tentou alguma coisa em "A.I." (2001), mas convenhamos, cubos achatados, flutuantes e articulados não estabelece exatamente uma tendência no design de naves espaciais. Talvez tenha sido uma homenagem de gosto vagamente duvidoso ao monolito misterioso do "2001", afinal o filme foi lançado no ano 2001 de verdade. Homenageou quebrando em pedacinhos. Édipo explica. Esperemos, portanto, pra ver se aparece alguma coisa que arrebate mentes e corações no seu próximo filme "Guerra dos Mundos". Até lá, a estética espacial kubrickiana continuará monolítica e inquebrável.
Portanto, quando alguém disser numa mesa de bar que "2001" é um filme lento e chato, não se vingue dele perguntando-lhe o signo. Advirta-o simplesmente que muita gente boa, que faz filme ágil e divertido, andou assistindo a esse filme mais de uma vez, e tomando notas, notas, muitas notas...

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Revi Alien tb, quando estava em Salvador tentando fazer proteção acústica na janela do meu hotel. E mais uma vez, morri de medo, fiquei com o dedo no controle pra mudar rapidamente de canal quando o Alien chegasse...e fiquei feliz de estar longe dos meus gatinhos e não ter que dar aquela encarada depois do final. O 2001 eu revi em 2003, no festival aqui, sessão de meia-noite...Já cansei de ver esse filme, mas confesso que nessa eu dormi. Acordei junto com o homem, achando aquela casa verde toda muito estranha, coçando o olho e reparando que toda a minha fileira roncava...É um puta filme, sem sombras de dúvida, mas tem que rolar um clima. É tipo assim: ele é de libra e eu sou pisciana, com ascendente em gêmeos. Entendeu?
;o)

11:45 AM, março 28, 2005  
Blogger Blogart said...

Se o filme é bom ou ruim, é matéria pra outro looonguíssimo post. Eu me referia apenas à parte da herança visual que ele deixou para a posteridade de filmes espaciais, que me interessa como designer e ilustrador e a tu tbm, suponho, como arquiteta e cenógrafa. Ele é de libra? Meu Deus!!! Eu tbm sou pisciano!!!

5:27 PM, março 28, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Só umas coisas, pois estou achando interessante isto aqui. O visual de Contatos Imediatos (bem como seus efeitos)foi produto do trabalho de quem? coincidentemente, foi de Douglas Trumbull, visionário criador dos efeitos de 2001. Foi a primeira vez que naves alienígenas eram retratadas como são vistas por relatos de testemunhas de OVNI. E até hoje só se vai encontrar naves daquele tipo em Close Encounters. 90% do visual de AI, que para mim foram arrojadíssimos e de uma criatividade extrema foram de Kubrick. Ele desenhou até o MR Know, bonequinho virtual que revela o segredo para o garoto-robô. Pode ser que algumas pessoas aqui discordem, mas acho que Spielberg detem uma herança estreita de estilo com Kubrick (os dois eram amigos e confidentes). Kubrick só viu uma pessoa que pudesse arrebatar AI do papel, e essa pessoa é Spielberg. A diferença é que infelizmente o meu ídolo Spilba ainda se defronta com o conflito ARTE - PRODUTO em suas obras, abrindo concessões demais, ao contrário de Kubrick, que era muito bem resolvido e não estava nem ai. Mas Spielberg tem algo visionário que KUbrick também tinha, que era de explorar temas e mostrar "algo que jamais tinha sido visto antes" quando eles se deparavam com ideias suas sendo reproduzidas por outros cineastas, entravam em depressão. Poucos sabem, mas Kubrick era admirador de Spielberg (ficou embasbacado com um filme médio, Jurassic Park, e queria explorar os recursos CGI em fimes futuros seus), e Spielberg é apaixonado pela obra de Kubrick. Ambos possuem um tino não só para a direção, mas também são capazes de contribuir com idéias no campo da fotografia e do design...

8:13 AM, março 31, 2005  
Blogger Blogart said...

É verdade, eu tinha esquecido essa canja de Kubrick em AI, o que talvez confirme a questão dos monolitos flutuantes. Talvez. But I stand on my position: não se fez nada de novo, em termos estritos de concepção de design para o espaço, depois de 2001. O visual de AI é arrojadíssimo e muito criativo sim, mas não é espacial. A única coisa vagamente espacial que temos é a tal nave dos monolitos, o que provavelmente seja apenas um veículo pra se andar em planetas com atmorfera, pois os ETs que voam nele têm narizes, portanto têm pulmões, e não poderiam respirar atravessando o espaço com aquilo. É, meu fio, antropometria, o homem é a medida de tudo, embora que no caso os homens sejam primos distantes. Agora, cá pra nós, Spilba bem que poderia ter terminado o filme com o pirraia olhando embevecido pra Fada Azul, hem? Aquele apêndice com os ETs foi totalmente dispensável, como aliás todos os apêndices, vide segundo post. Acho que bateu a Síndrome da Lista de Schindler no bichinho, e ele quis esticar a xaropada um pouco além do recomendado pelos médicos aos diabéticos. Esse anel... esse carro... poderia ter salvo mais vidas...djísâsss!!!

8:43 AM, abril 01, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Rapaz, acho que hoje em dia se assiste a um filme de Spielberg com uma pré-visão de que ele vai melar o final, mas acredite, o filme AI é um perfeito exemplo de que Spielberg respeitou em alguns momentos até demais as ordens do KUbrick. Existe no filme um final Spielberg e um final Kubrick. Adivinhe qual é o final de Kubrick? BINGO, é o segundo, inclusive o próprio Kubrick tinha elaborado a cena em que a fada aparece para realizar o desejo do garoto robô. Para mim, como fã de Spielberg, AI não deixa de ser uma vingança minha contra a máxima de que "se AI fosse feito por Kubrick, seria melhor" pois cada parte do roteiro em que o filme foi criticado tem como origem as idéias do mestre Stanley. Entretanto, AI é um filme tão forte que a cada ano que passa está ganhando status de obra-prima. Não é a tôa que o falecido mestre Billy Wilder disse, numa entrevista logo antes de morrer, que AI era uma obra de arte que ele mesmo não via à muitos anos, e que estava à frente do seu tempo. Chegou a ser comentado com resenhas e críticas excelentes até em revistas consagradas como Cahiers du Cinema, que nunca deram tanto crédito ao diretor. E o segundo final, na minha opinião, foi a coisa mais dolorosa que já assisti. Não é possivel ver um final feliz ali, e fecha o filme numa nota extremamante melancólica. Os "ETS" de AI, que na verdade são os mecha do futuro são prova viva de que a sensibilidade de Spielberg em relação ao visual ainda é um diferencial. Não deixa de ser belo ver criaturas esquálidas com estruturas que parecem pequenas máquinas cobertas com resina transparente se tocando umas às outras e transmitindo imagens. AI é arrebatador. Outro visual de ficção que vale a pena ser comentado é o de Minority Report, onde uma tela transparente interativa permite que o personagem de John Anderton monte um quebra-cabeças de imagens estraidas da mente de seres geneticamente alterados, numa citação clara a montagem cinematográfica, e ao som da sinfonia Inacabada de Schubert. Se tem alguem que herdou Kubrick, mas que ainda tem uma visão peculiar de futuro, é Spielberg...

7:55 PM, abril 01, 2005  
Blogger Blogart said...

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12:44 PM, abril 02, 2005  
Blogger Blogart said...

Bom, então se A.I. fosse feito por Spielberg sem ouvir os conselhos de Kubrick pra fazer o final, seria melhor. Tinha que ter acabado ali dentro dágua, com o menino eternamente olhando pra Fada com cara de pidão. Não tinha que ter ETs coisa nenhuma. Vou até assistir de novo, pra ver se mudo de idéia, pois só quem não muda de idéia é quem não as tem. Mas pra mim ainda continua ser uma inútil forçação de barra botar ETs na jogada. ETs por que? Qq eles tinham a ver com nada? Por que eles só vieram depois de uma cacetada de anos, e não antes? Quando eu assisti a primeira vez, a nítida impressão que me ficou foi que era uma auto-indulgência de Spielberg a uma obsessão particular dele, em detrimento da história. Bom, deixa eu assitir de novo.

12:51 PM, abril 02, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Argh, Blogart, aqueles não são ETS, são os robôs do futuro que buscam resquícios da humanidade...

8:03 PM, abril 05, 2005  
Blogger Blogart said...

Robôs? Quem disse? Como sabe? E por que têm cara de E.T.s?

12:22 AM, junho 23, 2005  

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