quarta-feira, fevereiro 16

Ignorância é força

Hoje, enquanto cantava no chuveiro, descobri que George Orwell é um gênio. Isso faz de mim um gênio também, segundo a Teoria da Co-genialidade de Umberto Eco: só quem descobre um gênio é, claro, outro gênio. Portanto, leitora amiga, apresse-se em descobrir gênios, antes que outros aventureiros lancem mão. Voltando a Orwell, ele é um gênio porque o 1984 não é sobre Júlia ou sobre Winston, e muito menos sobre o Grande Irmão. É sobre aquela proletária que cantava enquanto estendia a roupa no varal. Daí o meu insight enquanto cantava na chuva do chuveiro. Ela não estava nem aí pra opressão que estava rolando, ela simplesmente ignorava se e com quem estavam em guerra, e se as tropas tinham vencido ou se estrepado. Não fazia parte do mundinho dela, e nem ela fazia parte do mundo do Partido. Ela cantava e estendia a roupa no varal. O helicóptero chega na janela de Winston e Júlia, os soldados entram, quebram o peso de cristal do antiquário, torturam, levam presos. Nesse momento, ela deve ter parado um pouco, olha pra cima, vê o helicóptero se afastando, dá de ombros e continua a cantarolar e estender as roupas no varal.