domingo, janeiro 9

Play it again, Sam!

Calma, indóceis cinéfilos, eu sei que essa fala não existe no filme, já sabia antes de comprar o dvd comemorativo dos 60 anos, assim como "Elementar, meu caro Watson!" também não existe nos livros. E por falar em Sherlock, eu estava ainda outro dia trocando e-mails com uma prendada donzela, igualmente cinéfila e indócil, a propósito de presentes de amigo secreto e da invasão e conspiração gay na mídia em geral e na imprensa escrita em partircular, onde atualmente pontificam Urbi et Orbi.
Cruziscredus, essa conspiração está realmente em curso? Esperemos que não, mas estávamos conversando sobre ela de qualquer forma. Eu contava pra ela o belo presente que tinha ganhado do meu amigo secreto nesse fim de 2004, que aliás foi uma amiga. Pois essa amiga secreta, inadvertidamente, sem dúvida, por ser ela mulher, me deu um grande prazer másculo-cinematográfico-literário ao revelar a sua identidade com um dvd do último episódio de Jornada nas Estrelas VI - A Terra Desconhecida. Forçoso é reconhecer que o título em inglês é bem mais bonito, por remeter imediatamente ao "Undiscovered Country" de Hamlet, que Brás Cubas cita no seu primeiro capítulo, para onde se retira sem as ânsias e dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo.
Mas onde estávamos mesmo? Ah, sim. Eu dizia a essa minha penpal virtual que a certa altura de uma investigação de sabotagem e assassinato, Dr. Spock cita a famosa frase de Holmes: "Depois de eliminar o impossível, o que restou, por mais improvável que seja, deve ser a verdade." Spock, como todos os trekkers estão de orelhas pontudas de saber, é um extra-terrestre que nasceu no planeta Vulcano, e que cuja raça vulcaniana tem como principal característica ter a alma completamente desprovida de emoções, funcionando apenas e tão somente com a razão. Só que Spock citou essa frase não creditando a Holmes, mas a um suposto ancestral dele próprio. E ele poderia ter citado a fonte, pois o ambiente de Star Trek não é um universo alternativo, ao contrário de Star Wars e Senhor dos Anéis, mas esse mesminho aqui que agora estamos, só que no futuro. Tanto é que Shakespeare é citado nominalmente e declamado no filme todo, inclusive no título.
Até aqui temos o prazer cinematográfico e o literário, mas cadê o másculo? É que essa é uma piada essencialmente do inner circle masculino, um oásis e um refrigério para o espírito nesse mundo cada vez mais cheio de frescuras. O diretor mostrou que conhecia o seu público e mandou um recado cifrado para ele. Mulheres e gays não acompanharam fanaticamente Star Trek na televisão na infância e nem assistem no cinema. Não tem romance, é coisa de macho racional. Também não leram Sherlock Holmes na adolescência, que é coisa idem. Ou se leram, não assistiram, se assitiram, não leram, e se fizeram ambos, não entenderam a piada, e se entenderam, não riram. Se você está achando que eu sou um machista preconceituoso, não poderia estar mais perto da verdade. Por acaso já leu o nome desse blog?
Liguei dias depois pra um amigo meu, o qual não via há anos, pra desejar um Feliz 2005, e quando comecei a contar esse trecho do filme ele me interrompeu às gargalhadas, já tinha visto e já tinha até imaginado a cena de Sherlock sendo depositado no berço por um ET vulcaniano. Esse meu amigo também é fã incondicional de James Bond, esse outro ícone ideal do imaginário masculinista, que, assim como Dr.Spock, Sherlock Holmes e Rick Blaine, não se deixam dominar pelas emoções e a fria e calculista razão está sempre no comando. Sempre, até o momento em que Ilsa Lund entra no Café Americáin e bagunça tudo outra vez. Aí, só nos resta encher a cara de cachaça e balbuciar, perplexos, como Rick: "Of all the gin joints, in all the towns in all the world, she walks into mine!" Essa fala existe de verdade.

2 Comments:

Blogger Marcia Furriel said...

Nem li, mas adorei! Até que enfim vc fez um blog!!1 Tudo bem que agora já é onda passada, tipo saia de bico e sandália anabella, mas para você eu abro uma exceção: vou até ler!
beso*

2:40 PM, janeiro 10, 2005  
Blogger Marcia Furriel said...

Prefiro "Frankly, my dear, I don't give a damn"

3:10 PM, janeiro 10, 2005  

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