segunda-feira, janeiro 8

PEDRA DO REINO DA DINAMARCA

Sinceramente eu acho que Ariano Suassuna deveria parar de dar entrevistas para a televisão. Ainda mais quando são essas entrevistas relâmpago a título de falar tudo sobre o nada em um mísero espaço de tempo, como essa do Fantástico do domingo passado. As aulas-espetáculo dele são divertidíssimas, e embora não se concorde com todas as posições que ele toma, geralmente é garantia de pelo menos boas gargalhadas. Mas do jeito que foi conduzida por Geneton Moraes, a entrevista deixou Ariano parecendo um velho decadente, ranzinza e gagá, o que ele definitivamente não é. Geneton fez uma entrevista pautada, chapa branca, de cartas marcadas, com uma entonação postiça de quem já sabia a resposta e que só estava levantando a bola pra Ariano chutar. Ariano por sua vez tentava imprimir o humor que reina em suas palestras, mas tudo o que conseguiu foi esgarçar um sorriso amarelo e amargo. Melancólico e de uma pobreza de espírito franciscana, para dizer o mínimo.

Declarar que a Disneylândia é o maior monumento à mediocridade do mundo, depois da pergunta conduzida de bandeja por Geneton, foi quase surreal. Como assim? Por que justamente a Disneylândia? Eu nunca fui lá, mas que eu saiba é uma empresa de entretenimento infanto-juvenil muito bem organizada, que nasceu do espírito empreendedor de um cara que veio de baixo e que deve ter ralado um bocado pra chegar onde chegou. Qual é o problema? Ficou mal, muito mal. Ficou parecendo os escravos rindo à socapa dos sinhozinhos, que Machado relata no início do conto "Missa do Galo". Passou recibo de subdesenvolvido. O mesmo quando começou a desancar Michael Jackson e Madonna, e sobrou até pra coitada da Estátua da Liberdade. Ou seja, aparentemente, na opinião do escritor, qualquer coisa que tenha origem nos Estados Unidos da América é ruim e medíocre. Michael Jackson e Madonna têm músicas muito ruins, músicas mais ou menos e músicas muito boas, como qualquer compositor. Se existe um rolo compressor de marketing por trás deles, isso são outros quinhentos e não deve de forma alguma influenciar no julgamento da arte em si, ainda mais no de um intelectual como Ariano Suassuna.

Mas a Rede Globo fez Ariano pagar esse mico kinguekônguico porque está interessada em promover uma minissérie sobre o livro de autoria dele "A Pedra do Reino", que vai ao ar no meio do ano. Mas isso é bem típico da emissora, que não faz nada de graça, tudo é direcionado pra vender desodorante no horário nobre e sabão em barra no horário pobre. Chegou certa vez a fabricar do nada uma barulhenta e escandalosa série de reportagens sobre imigrantes brasileiros ilegais nos Estados Unidos, como se fosse a maior novidade do mundo, só para promover uma telenovela com esse tema que estava pra começar. É o rabo abanando o cachorro, fundo do poço ético do jornalismo. VADE RETRO.

3 Comments:

Blogger Mandrey said...

Tou contigo e não abro de jeito nenhum! Meu ídolo!

9:00 AM, janeiro 08, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Foi estranho mesmo. Muito fechadinho, direcionado.
:-o

11:39 AM, janeiro 08, 2007  
Blogger Blogart said...

Valeu, Mandrake! Seu apoio é muito importante na nossa luta!

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Bota estranho nisso, Bia.

2:44 AM, janeiro 09, 2007  

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