sexta-feira, janeiro 5

O RESTO É SILÊNCIO

Existe uma grande diferença entre uma estrela de cinema e uma atriz de cinema. Julia Roberts é uma estrela de cinema, porque as pessoas (eu incluso) vão ver Julia Roberts representando Julia Roberts-Vivian, a linda mulher, ou Julia Roberts-Erin Brokovich, etc. Já Meryl Streep é uma grande atriz de cinema, porque alguém pode dizer que ela repetiu maneirismos e cacoetes pseudo-charmosos em, digamos, "a Escolha de Sofia", "As Pontes de Madison", "Silkwood" e "O Diabo Veste Prada"?

Este último então, uma comédia dramática (ou um drama jocoso, se preferirem a nomenclatura operística), o que era pra ser uma caricatura de uma grã-fina fria e sem alma ela transforma, com magistrais sutilezas de gestos, expressões faciais e entonação de voz, em uma personagem de profundas dimensões humanas, uma mulher presa em um opressivo labirinto de convenções do qual ela não quer sair, porque quem pontifica quais são as convenções é ela própria. Ela é encarcerada e carcereira, para a qual a vida privada é apenas mais uma convenção a ser seguida. Uma vilã que se transforma em heroína sem trair as próprias convicções.

A escolha óbvia para o seu correspondente masculino me parece ser Anthony Hopkins, embora não tenha conseguido manter a mesma regularidade de Meryl. Mas se compararmos as personagens de Hannibal Canibal com o mordomo de "Remains of the Day" e com o aristocrata arruinado de "Retorno a Howard's End", dá pra sentir que o cara é um ator de verdade, e não um membro do sindicato dos atores maneiristas, cujo santo padroeiro é sem dúvida alguma Humphrey Bogart. Jack Nicholson é um maneirista, ele representa sempre Jack Nicholson, e quem gosta de Jack Nicholson vai pro cinema ver Jack Nicholson. Eu gosto e vou. Até em "Melhor Impossível", o melhor que ele fez ultimamente e no qual ele foi condecorado com a dúbia honra de um Oscar, ele era Jack Nicholson fazendo o papel de um Jack Nicholson neurótico obssessivo.


O mesmo se aplica atualmente pra Al Pacino. Depois dos dois primeiros Godfathers e de "Um Dia De Cão" (Attica...! Attica...!!), ele estacionou em Al Pacino e agora só sabe fazer Al Pacino. O terceiro Godfather não se trata mais de Michael Corleone, mas de Al Pacino brincando de mafioso, e por isso que é uma porcaria. A "escolha de Sophia" Coppola transforma a porcaria numa grande pocilga caça-níquel, mas estávamos falando de atores e atrizes. Por incrível que pareça, Tom Cruise ensaiou decolar como ator aqui e acolá e terminou se embolando pelo meio do campo, mas aí também já era querer demais. Mel Gibson não se importou muito com o rótulo de estrela maneirista e resolveu fazer "Hamlet", mas basta comparar a modulação de voz dele com a do jovem Laurence Olivier, ainda em preto e branco, dizendo um simples "the rest is silence..." para saber do que eu estou falando. Woody Allen transformou o próprio maneirismo em mais uma grande piada, chegando ao cúmulo de dirigir atores que imitam os seus cacoetes, uma maneira meio espírita de atuar nos filme sem estar neles.

Glenn Close tem os seus momentos, mas a melhor atriz do cinema atual, e uma das melhores de todos os tempos, é definitivamente Meryl Streep.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Eu lamento pela falta de Woody nas telas. Humpf

11:37 AM, janeiro 08, 2007  
Blogger Blogart said...

Falou a viúva Allen.

2:46 AM, janeiro 09, 2007  

Postar um comentário

<< Home