terça-feira, dezembro 13

THE UNIQUE, ONE AND ONLY ORWELL’S NINETEEN EIGHTY-FOUR CENTENNIAL EDITION ou THE BIG BROTHER IS NO LONGER WATCHING US

Ontem, depois de três agônicos meses de intenso sofrimento e angústia, Leugim finalmente terminou de quadrinizar o “Morte e Vida Severina”. Este feito homérico e quixotesco merecia uma celebração literária, e fomos ambos, ele e Miguel, tomar um milk shake de café na Livraria Cultura. Nada de cigarros, no exato momento que entregamos o cd com as imagens ao assessor de Mário Hélio, editor da Massangana, voltei a ter ojeriza por fumaça e obriguei-o a parar de fumar. Aprovetei que teria que comprar o presente do meu amigo secreto e iniciei pela Cultura o meu retorno ao mundo dos vivos. Lá chegando, lembrei-me de uma conversa que tive no jornal com uma colega nossa que completou 21 anos agora em dezembro, na qual foi citado o livro de Orwell “1984”, que é também, claro, o ano em que ela nasceu. Fiquei com saudades desse romance que tanto me impressionou quando o li no próprio ano de 1984, e lembrei-me que as minhas duas versões, em inglês e português, tinham ficado com a minha ex-posa. Falei com a moça que atende e a moça me trouxe cinco edições diferentes, quatro em inglês e uma em português, e levei todas pra tomar milk-shake conosco. As de inglês eram estranhamente mais baratas. Uma delas, uma preciosidade intitulada “Centennial Edition”, referindo-se naturalmente ao nascimento de Orwell, que nasceu em 1903, trazia capa e orelhas originais da primeira edição do livro em 1949 ( que foi escrito em 1948, daí a referência a um futuro distante qualquer, só invertendo os dois últimos dígitos). Notinha explicativa no rodapé da orelha final esclarece e informa que esse resgate foi possível graças a uma cortesia da Brown University Library, que tinha um exemplar com a arte da capa da edição original. Valeu, Brown! Uma delícia de edição, que tem um detalhe adicional chinfrosíssimo: tem a borda serrilhada, ou batenteada, ou desnivelada, não sei como se chama aquilo. Concluindo, excelência: a borda oposta à lombada, ou seja, a parte que usamos para abrir e folhear o livro, foi cortada em tamanhos ligeiramente diferentes, de modo que, se olhamos o livro na horizontal vemos um perfil serrilhado. Deve ser pra facilitar o folheamento. Olha só que charme. Eu compraria mesmo se ainda possuísse as minhas ambas versões, um belo objeto, edição de colecionador. Esse livro, falando do texto do romance propriamente dito, prova definitivamente, se é que ainda não tinha sido definitivamente provado, que não existe frase clichê em literatura, dependendo do contexto em que se diga, a frase mais lugar-comum que um homem possa dizer a uma mulher, ou vice-versa, pode tomar dimensões espetacularmente bombásticas. E mais não digo pra estragar a surpresa de quem ainda não leu. E este livro, e agora voltando novamente ao objeto físico e palpável que eu segurava, apalpei e segurei com ainda mais força quando soube que era um exemplar único. Um exemplar único, o orgasmo do bibliômano! Na hora de pagar os dois, pois comprei também o em português, caro que só a porra, a moça do caixa cismou com o meu exemplar único: -Tem alguma coisa errada aqui. –O que? O que que tá errado? Era o seguinte: ela passava o código de barra nos dois livros e aparecia na telinha dela duas vezes o número “1984”. Mas só que no meu exemplar único não tinha número nenhum na capa, mas escrito por extenso o título original em inglês: “NINETEEN EIGHTY-FOUR”. Esclarecido o dilema, me enxotaram gentilmente, pois já passava das dez e meia e eu era o único e pentelho cliente ainda lá dentro, as luzes quase todas apagadas, e ainda tendo o desplante de ficar tagarelando ao celular com Bia Amorim justamente sobre o fato de as luzes estarem quase todas apagadas e eu ser o único e pentelho cliente ainda lá dentro. Saí de lá um novo homem. O Big Brother Mário Hélio não estava mais fungando no meu cangote, e não precisava mais duplipensar na hora de cometer prazeres simples da vida, como ir ao cinema, escrever no blog ou cantar com a banda. Voltei a ser um cidadão livre da opressão orwelliana da métrica milimétrica cabralina e do calendário de lançamentos editoriais de fim-de-ano. Poderia até, se quisesse, quem sabe, arranjar uma namorada, de preferência chamada Júlia. Mas só depois de ler o meu exemplar único.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ehehe Mas é um doente mesmo. :P Comprar edições do mesmo livro. Minha nossa, caso pra internação num lugar SEM LIVROS.

Ahá, confessou o nome da dita cuja...
:)

4:20 PM, dezembro 13, 2005  
Blogger Blogart said...

Não, toinhoinhoim, Julia é a personagem do romance 1984, lembra não, é?

4:05 AM, dezembro 14, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Ah, que emoção dupla! Você voltou aos originais do blog e o livrinho com páginas serrilhadas! Lembrei da minha emoção quando encontrei um capa dura grandão da Marilyn, só de fotos das antigas, desde quando ela ainda não tinha o nose job e era morena até as fotos do vestido indecente de Some Like it Hot, por apenas 4, eu disse QuATRO reais....Quase chorei.

Welcome back, nego. Depois vou querer muito ver essas ilustrações!!!

beso*

10:03 AM, dezembro 14, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Eita, tou lendo um livro que o título é Tia Julia e o escrevinhador. :P

Não li 1984... Só vi o filme... hehe

Esse toinhoimoim foi um cascudo na minha ignorância literária? AHAHAHA
Já basta o "DOIS" violinos . ahahaha Vou verificar se ainda mereço viver.

3:15 PM, dezembro 14, 2005  
Blogger Blogart said...

Quatro!?! Capa dura?!? Quatro reais?!?! Caramba! Foi Marylin que, em espírito, soprou esse preço simbólico no ouvido do sebista, só pra tu não ter motivo pra não levar o livro. deveria ter chorado. Thanks my dear! Maybe you didn´t notice yet, but i do have made some wisecracks on your little blue lake.

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Bia, mil cascudos no seu quengo: corra e vá ler 1984. Procura alguma versão em francês na Cultura.

9:23 PM, dezembro 14, 2005  

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